Por Reinaldo Azevedo
Pois é… Vamos ver. Mário de Oliveira Filho, advogado do lobista
Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, fez uma afirmação
perturbadora. Disse ele: "O empresário, se porventura faz alguma composição
ilícita com político para pagar alguma coisa, se ele não fizer isso, não tem
obra. Pode pegar qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se
não fizer acerto, não coloca um paralelepípedo no chão".
Que coisa! Não sei se é um bom caminho para a defesa. Talvez o
mais prudente, se é para confessar ilícitos, seja o acusado tentar a delação
premiada e contar tudo o que sabe. Notem: na prática, doutor Oliveira Filho
está admitindo que crimes foram cometidos, mas com um diferencial: ele sugere
que seu cliente fez o que todo mundo faz. Sabem o que é mais triste? Sabem o
que é melancólico? Ele está falando a verdade.
A corrupção é uma questão de caráter, de indivíduos? Claro que
sim! É preciso haver disposição subjetiva para cometer crimes. Mas também
remete a uma cultura, e a nossa é tolerante, infelizmente, com a mistura entre
o público e o privado. A coisa vem de longe, como demonstra Raimundo Faoro em "Os Donos do Poder". Como demonstra Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do
Brasil". Cultura, no entanto, é uma construção, não uma natureza. E pode ser
mudada.
Ora, se é verdade, e é, que os negócios estão sujeitos à
interferência política, estamos diante de uma evidência importante: quanto mais
estado houver na economia, quanto mais o poder público estiver presente em
atividades que dizem respeito à sociedade, quanto mais as obras estiverem
sujeitas à interferência de criadores de dificuldades que vendem facilidades,
então maior será a corrupção.
O Brasil tem estado demais onde não deve e de menos onde deve. A
segurança deve ser pública - e, quando mais pública, mais saudável é um país. É
preciso que haja uma alternativa de qualidade para a educação pública e para a
saúde pública. E só. No mais, meus caros, não duvidem: os defensores de um
estado gigante ou são desinformados, ou se aferram a uma questão meramente
ideológica, a despeito dos resultados, ou são pilantras mesmo.
O prejuízo da Petrobras com a roubalheira chegará a muitos
bilhões. Por que devemos supor que a prática é diferente nas outras estatais?
Empreiteiras também contratam serviços de empreiteiras. Algumas delas se
especializam em determinadas áreas e vendem seus serviços às outras. Perguntem
se, nesses casos, praticam-se ou não os preços justos. É claro que sim. O
agente privado prudente buscará sempre o menor preço, garantidas as
especificações do produto comprado.
Os 12 anos de PT no poder foram marcados por um agigantamento do
estado. E, pois, a corrupção cresceu enormemente. É uma falácia essa conversa
de Dilma de que hoje se tem a impressão de mais corrupção porque se investiga
mais. Não! Existe, sim, mais corrupção porque o estado - por intermédio de um
partido e seus agentes associados - passou a se meter em tudo. E a cobrar o
pedágio.
Mário de Oliveira Filho falou, sim, uma verdade. Uma verdade
incômoda, que cobra a mobilização dos cidadãos. O estado gigante que frauda o
preço dos combustíveis pode fraudar uma licitação. São coisas, sim, distintas e
de propósitos diversos, mas se combinam para fazer um país de chanchada.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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