'O maior desafio será para eles', diz o secretário-geral Jérôme Valcke, que pede a turistas que só viajem ao Brasil se tiverem um roteiro muito bem organizado
Para a Fifa, os problemas
do país-sede da Copa do Mundo de 2014 não deverão atrapalhar a realização
das partidas e não serão capazes de inviabilizar o trabalho de dirigentes,
jornalistas e parceiros comerciais da entidade. Os turistas estrangeiros,
porém, correm o risco de encarar situações complicadas caso não estejam cientes
das deficiências do Brasil. O alerta da Fifa aos torcedores de outros países
foi feito na sexta-feira, 9, por Jérôme Valcke, o secretário-geral da entidade,
em uma conversa com jornalistas de agências internacionais em
Zurique. "Não apareçam no Brasil pensando que é a Alemanha, que é
fácil viajar pelo país. Na Alemanha, você poderia dormir no carro. No
Brasil, não pode", disse ele, comparando a sede de 2014 com o país que
realizou uma Copa exemplar em 2006. "O maior desafio será para eles,
os torcedores. Não será para a imprensa, não será para os times e nem para
os dirigentes. Será para os torcedores."
O dirigente francês listou
como problemas para os estrangeiros a grande distância entre as sedes e
a infraestrutura deficiente. Os preços altos, a insegurança e a falta
de opções de transporte serão outros obstáculos no caminho dos visitantes.
"Sei que é difícil eu falar sobre essas coisas sem criar uma série de
problemas", disse Valcke, que reclamou de aparecer como "vilão"
para os brasileiros em função das repetidas críticas ao país. "Mas
minha mensagem aos torcedores é a seguinte: tenham certeza de que organizar
tudo antes de viajar ao Brasil." Segundo ele, improvisos possíveis em
países como a Alemanha, tanto na hospedagem como nos deslocamentos, não
vão funcionar no Brasil. "Não há como dormir na praia, porque é inverno.
Garanta sua acomodação. Não há como chegar com uma mochila e começar a andar
pelo país. Não existem trens, não se pode dirigir de uma sede à outra",
afirmou o cartola.
Lula e Teixeira
- Como
reclamou das longas distâncias entre as sedes, Valcke quis garantir também que
esse problema não fosse atribuído à Fifa, como organizadora do evento. Segundo
o francês, essa dificuldade decorre dos pedidos dos próprios brasileiros. Foram
o governo brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ricardo
Teixeira, então presidente da CBF, que fizeram questão de insistir na
realização dos jogos em doze cidades. A Fifa pedia apenas oito sedes.
"Você multiplica os riscos ao ter mais estádios. Mas tivemos uma situação
em que tínhamos um governo e um presidente, que naquele momento era Lula, que
diziam que a Copa deveria ser para todo o Brasil, e não apenas para poucas
cidades", lembrou ele. O dirigente admite que o "lógico" seria
dividir os 32 participantes em grupos regionais, justamente para evitar
que tivessem de sair de Manaus e jogar em Porto Alegre, por exemplo. "Isso
evitaria que eles tivessem de viajar entre diferentes regiões do país."
A Fifa acabou sendo
obrigada a abandonar a ideia de dividir o país em quatro áreas justamente por
causa da insistência da CBF e do governo - que queriam que a seleção brasileira
percorresse o Brasil em seus jogos. "Eles não queriam que o Brasil jogasse
apenas em uma parte do país", disse. O problema é que, para o calendário
da Copa funcionar, todos então teriam de viajar. Ainda assim, a seleção
não passará pelo Sul e, se for até a final, repetirá visitas a Fortaleza e Belo
Horizonte. Valcke também admitiu que a Fifa sabia há muito tempo dos
problemas da infraestrutura aeroportuária do Brasil, mas a aposta era de que
haveria tempo suficiente para que todas as reformas fossem feitas. "Isso
era em 2009, e o país teria cinco anos para um país garantir que as
estruturas estivessem instaladas e entregasse o que havia sido
acordado." Apesar de manter o tom crítico ao Brasil, Valcke lamentou o
fato de ser visto como "uma pessoa má". "Preciso mesmo estar
nesta posição em que se entra em conflito com as estruturas do país
sistematicamente? Isso não é muito agradável..."
Fonte: "Veja"
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