Por Percival Puggina
De uns tempos para cá se tornou impossível encontrar um novo petista. Só
há velhos petistas. Por muitos anos, contudo, não foi assim. O sujeito vinha de
uma família tradicionalmente ligada ao PSD, ao PL ou à UDN e, depois, à Arena
ou ao PDS. Contava anos e anos votando nos partidos conservadores ou liberais.
E de repente - vupt! -, se bandeava para o Partido dos Trabalhadores. O PT era
o novo, oposição "a tudo isso que está aí", e era promissor
(promessas e leviandades permitidas à oposição não faltavam ao PT, que navegava
nas águas serenas da utopia). Durante anos, a gente via isso acontecer todo
dia, toda hora. O partido da estrela se expandia com velocidade de seita
evangélica, salpicando de estrelinhas os espaços urbanos do país. Cada novo
petista considerava-se a mais recente encarnação do Bem. Em seus olhos luzia um
brilho místico, como se houvessem presenciado revelação particular de alguma
divindade. O petismo era mais do que uma religião. Era, concretamente, o novo
Céu e a nova Terra.
Pois eis que passados 12 anos de hegemonia petista, não se encontram
mais novos militantes da estrela. Inversamente, passa-se a topar, onde se vá,
com ex-petistas de todas as idades. Você fala para eles em PT e pedem briga.
Parecem dispostos a rachar ao meio qualquer vivente que lhes mencione o partido
das duas letrinhas.
Considero-os admiráveis. A cada dia que passa, mais do que qualquer
outra força política, eles se convertem em esperança para o país. Era
necessário que essa migração iniciasse para que as energias cívicas
renascessem. Os ex-petistas estiveram com Jonas no estômago da baleia,
conheceram pessoalmente o Averno e viveram, duas vezes, a experiência da
salvação. Uma, alegre, mas ilusória. Outra, sofrida pelas dores de um novo
parto. Eu os acolho com júbilo. Eu os aclamo como o bom presságio de um país
cujo futuro imediato deles depende.
A nação andou com os ex-petistas para aquele mesmo lugar muito alto onde
o demônio tentou Jesus, buscando seduzi-lo com os poderes terrenos. O PT nem
pestanejou. Abraçou a companhia e foi em frente. Mas os ex-petistas recuaram:
"Até aqui pudemos vir. Além disso não iremos!". Eu amo esses caras!
Eles falam pelas vozes de tantos traídos, de tantos iludidos! A eleição do
próximo dia 5 de outubro passa a depender muito, muito mesmo, da ruptura que
fizeram com seu passado recente. São eles que fornecem os dados mais
estimulantes das últimas pesquisas eleitorais. São eles que estão virando o
jogo. Há neles algo que falta em muitos que não viveram a experiência pela qual
passaram. Enquanto os que nunca foram petistas manejam os instrumentos da
disputa política segundo o que aprenderam em sucessivas derrotas, os
ex-petistas lutam com o ânimo dos que morderam a medalha da vitória e cuspiram
o gosto amargo das esperanças frustradas. E se robusteceram para as escaramuças
que se avizinham. Sejam bem-vindos. O Brasil precisa muito de vocês.
Fonte: "Mídia Sem
Máscara"
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