Por Augusto Nunes
"Queria também comprimentá o presidente
da CUT do Rio Grande do Sul, José Rodrigues Sobrinho", tropeça Dilma Rousseff na abertura do vídeo de 53
segundos -
que registra um dos momentos mais delirantes da discurseira em Natal.
Murmúrios na plateia avisam que a oradora errou de novo o nome do lugar em que
está. "Da CUT do Rio Grande do Norte", corrige. Em seguida, pisa no
acelerador e vai atropelando furiosamente a lógica, a sensatez e a língua
portuguesa:
"Agora, gente, vocês me desculpem, mas é
que eu fui batizada recente, o batismo é recente. Lá também eu fui batizada,
porque eu sou mineira de nascimento e vivi até uns 20 anos em Minas Gerais. Mas
agora que me batizaram, eu estou muito feliz de ser potiguar. Sou gaúcha,
potiguar, amazonense. São os três estados que eu recebi a naturalidade, que é a
naturalidade no fim, ao cabo, de ser brasileira. Uma presidenta tem de ser
nascida e criada em todos os estados da Federação".
Desde Jânio Quadros, o gabinete localizado no
terceiro andar do Palácio do Planalto já abrigou napoleões de hospício,
generais de exército da salvação, perfeitas cavalgaduras, messias de gafieira,
gatunos patológicos, um ex-operário que nunca leu um livro nem sabe escrever e
uma mulher que não diz coisa com coisa. Todos chegaram lá por atenderem às seis
pré-condições impostas pela Constituição: ser brasileiro nato, ter a idade
mínima de 35 anos, ter o pleno exercício de seus direitos políticos, ser
eleitor e ter domicílio eleitoral no Brasil, ser filiado a uma agremiação ou
partido político e não ter substituído o atual presidente nos seis meses antes
da data marcada para a eleição.
A última frase do vídeo acrescentou ao texto
constitucional uma sétima (e complicadíssima) exigência: só pode exercer a
Presidência da República gente nascida e criada nos 26 estados brasileiros.
Pela tranquilidade com que tratou do tema, Dilma preencheu também esse
pré-requisito. É possível que o velho Rousseff, originário da Bulgária, tivesse
um lado cigano que o animou a morar durante algumas semanas em todos os pedaços
do país, do Oiapoque ao Chuí, das margens do Atlântico às lonjuras do oeste.
Mas como nascer em lugares diferentes?
A menos que tenha atravessado a infância
colecionando reencarnações, o falatório só serviu para reforçar a suspeita de
que já não é preciso ter cérebro para ser presidente.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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