Notas da coluna de Carlos Brickmann
publicada neste domingo, 23:
É a volta do cipó de aroeira
Tudo começou como um movimento de extrema
esquerda: na primeira passeata em São Paulo, militantes do MPL, PSTU, PSOL e
PCO, com bandeiras, estavam à frente, bloqueando a Avenida Paulista.
O MPL, Movimento Passe Livre, foi criado pelo
Fórum Social Mundial, organização assumidamente de esquerda, na reunião de
2005.
O domínio de Internet usado pelo MPL pertence
a uma ONG próxima ao PT, Alquimídia, que recebe recursos da Petrobras e do
Ministério da Cultura e até o início das passeatas trazia no site os símbolos
governamentais.
Mas o movimento caiu no gosto do público e
atraiu gente que não tinha nada de esquerdista: queria protestar contra a
corrupção, o desperdício do dinheiro público, o custo da Copa, os gastos de
parlamentares, o mensalão, os problemas da saúde, problemas sempre associados
ao Governo.
O que era para ser um movimento contra a alta
das tarifas virou ponto de encontro de descontentes com o governo e o PT - a
ponto de manifestantes se reunirem em frente à residência de Lula, em São
Bernardo (SP), gritando insultos, e de manifestantes se concentrarem diante da
residência do prefeito petista Fernando Haddad, em São Paulo.
O radicalismo antipetista chegou a acusar a
Globo de estar a serviço do PT.
É sensível a queda de prestígio do governo.
Ruim: este é o governo que temos, gostemos ou não, e que até o fim de 2014 tem
a tarefa de gerir o país.
O bumerangue foi e voltou, atingindo quem se
sentiu esperto ao ter a brilhante ideia de lançá-lo.
Como diz o provérbio ídiche, o homem planeja
e Deus ri.Millôr e a passeata
Millôr Fernandes, gênio do texto e da frase,
assim sintetizava a democracia:
"Todo homem tem o sagrado direito de torcer
pelo Vasco na arquibancada do Flamengo".
Foi o que faltou na grande passeata quase
pacífica da Avenida Paulista, quando militantes de partidos políticos foram
expulsos pelos demais manifestantes, ampla maioria na demonstração.
É verdade que a postura dos militantes
partidários foi provocadora. Petistas, seguindo as ordens do presidente do
partido, Rui Falcão, tentaram tomar a frente da passeata, para aparentar que a
controlavam; outros grupos partidários também se uniformizaram e levaram
bandeiras próprias, não as da manifestação.
Mas, por provocadores que fossem, tinham esse
direito, que lhes foi negado. Millôr tem razão.
Mas também é verdade que quem torce pelo
Vasco na arquibancada do Flamengo tem de assumir o risco.
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