Por Augusto Nunes
O enterro sem choro nem vela da PEC 37, decretado pela Câmara nesta
terça-feira por 430 votos contra 9, confirmou que multidão indignada faz
milagre. Faz até deputado brasileiro criar juízo, constatou o comentário de 1 minuto para o
site de VEJA. Quando junho começou, os vigaristas que infestam e
controlam a Casa dos Horrores estavam prontos para aprovar a proposta de emenda
constitucional que proibiria o Ministério Público de promover investigações
criminais. Antes que o mês chegasse ao fim, a patifaria foi sepultada em cova
rasa.
Surpreendidos pelos
atos de protesto que incluíram a rejeição da PEC 37 entre as bandeiras da
revolta das ruas, os arquitetos da trama primeiro tentaram empurrar a votação
para agosto. Até lá, imaginaram, os manifestantes teriam desistido de combater
a corrupção impune. Erraram feio. O truque serviu apenas para aproximar a
temperatura do ponto de combustão. Só então os conspiradores acharam sensato
curvar-se à vontade de incontáveis brasileiros exaustos de truques e
tapeações.
A PEC 37 pretendia
punir o Ministério Público não por seus defeitos, mas por suas virtudes. Foi
concebida não para inibir eventuais excessos cometidos por promotores e
procuradores, mas para impedi-los de obstruir caminhos que levam para longe da
cadeia a bandidagem cinco estrelas. Precedida pela revogação do aumento das
tarifas do transporte público, a capitulação da turma que reduziu o
Congresso a um clube dos cafajestes ensina que reivindicações nascidas na
internet só vingam se ratificadas pela voz das ruas.
O abaixo-assinado
virtual que protestava contra a volta de Renan Calheiros à presidência do
Senado foi subscrito por mais de 1,5 milhão de eleitores. Deu em nada. Menos de
50 mil na porta do Congresso bastaram para enterrar a PEC da Impunidade (além
de fazer um bando de indolentes trabalhar como nunca e, num caso exemplar de
suicídio induzido, aprovar a toque de caixa um projeto que conferiu à corrupção
status de crime hediondo. Se a coisa tivesse efeito retroativo, o Senado e a
Câmara ficariam desertos). Quantos manifestantes serão necessários para obrigar
Renan a renunciar ao cargo? Logo saberemos.
Também saberemos em
breve se a ofensiva até aqui bem sucedida conseguirá livrar-se dos baderneiros,
manter o vigor, encontrar alguma forma de organização e não perder o rumo. Caso
se dê a favorável conjunção dos astros, a instauração de uma CPI da Copa se
tornará questão de tempo, o Maracanã escapará das mãos dos eikes batistas, o
STF tratará de acelerar o julgamento do mensalão e os ministros recém-chegados
não ousarão socorrer quadrilheiros condenados à prisão. Fora o resto.
O que já ocorreu é
suficiente para que o inverno de 2013 seja lembrado como a estação das
descobertas essenciais. Primeiro, os brasileiros descobriram que pagam todas as
contas e são tungados há anos. Depois descobriram que o Brasil Maravilha só
existe num palanque ambulante e na cabeça habitada por um neurônio solitário.
Descobriram em seguida que Lula, Dilma e o PT são campeões de popularidade
apenas entre donos de institutos de pesquisa, e que o exército de milicianos
decididos a morrer pelo PT só é capaz de matar de rir.
Por falta de
partidos que os representassem, descobriram também que poderiam ser seus
próprios porta-vozes. Vão descobrindo agora que, num regime democrático, o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário não podem atrever-se a ignorar,
subestimar ou sufocar um poder muito maior. O poder que emana do povo.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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