Por J.
R. Guzzo
Os governos do PT perseguem, há mais de dez anos, duas coisas
que não existem e por isso, precisamente, nunca conseguirão encontrar nenhuma
das duas. A primeira é a fantasia segundo a qual a imprensa livre, que vive
expondo seus desastres e conta com a admiração da maior parte do público que
acompanha o noticiário, perceba um dia que tem pelo menos três obrigações.
1. Para começo de conversa, precisa admitir "controles sociais",
aceitando algum tipo de supervisão, ainda não definido, sobre o que escreve, fala
ou mostra em imagens, por parte da "sociedade".
2. Além disso, teria de levar em consideração, por respeito à
vontade do eleitorado, os méritos de governos colocados na Presidência da
República há três eleições seguidas.
3. Enfim, deveria desistir do tiroteio que faz em suas
informações e opiniões a respeito da inépcia, da corrupção e da burrice da
administração, em reconhecimento aos fenomenais índices de "popularidade" tanto
do ex-presidente Lula como da presidente Dilma Rousseff.
A segunda quimera é que gastando dinheiro público para criar e
sustentar uma imprensa "a favor", pelos mais variados truques à sua disposição,
conseguirá anular a voz dos meios de comunicação independentes e levar o jogo,
pelo menos a um honroso empate.
Essa busca, como no samba "Ronda",
é inútil, mas o PT, Lula e a sua tropa não desistem: ao contrário, insistem em
encontrar a chave capaz de abrir uma solução definitiva para seus problemas com
a "mídia", como gostam de dizer. Mas perderam essa chave no quintal, e estão
procurando no jardim. Não vão achar.
Não há registro na história de imprensa que tenha mudado de
hábitos ou de conduta por causa de discursos, "audiências públicas", passeatas
de estudantes e sindicalistas pagos pelo governo, ou, para resumir, "pressões
da sociedade". Também não se conhecem casos de autocrítica, arrependimento ou
remorso que tivessem levado algum meio de comunicação, por sua própria vontade,
a mudar de linha na seleção do noticiário que publica ou em suas opiniões.
Órgãos de imprensa só mudam pela aplicação da força bruta, o que
exige a montagem de uma ditadura, ou em troca de dinheiro, caso em que deixam
de ter o valor que tinham e passam a não servir para nada.
Nada disso é um dos três segredos de Fátima.
Políticos em primeiro mandato já sabem que a imprensa não se
incomoda com ataques verbais, barulho de "setores populares" ou mesmo com o bom
e velho empastelamento das máquinas, que hoje se transformou em opção inválida - vá alguém tentar quebrar, no braço, uma impressora Cerutti 7, ou uma Frankenthal-KBA
Commander CL, para ver o que acontece.
Ninguém está ligando, também, para os 101% de popularidade de
Lula e Dilma ou para os boletins do TSE com os resultados das últimas eleições.
Veículos da imprensa livre só têm medo, de verdade, de uma
coisa: censura prévia.
Por via de consequência, como gostava de dizer o
ex-vice-presidente Aureliano Chaves, o PT tem uma única pergunta a se fazer: dá
ou não dá para instalar censura prévia à imprensa, televisão e rádio no Brasil
de hoje, sem falar na internet? Se chegarem à conclusão de que não dá, deveriam
desistir de ficar procurando a chave no lugar errado e sair atrás de alguma
outra coisa para fazer.
Fonte: Revista "Veja"
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