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Por César Maia
1. As eleições de 2012 mostraram números recordes de não voto (abstenção +
brancos + nulos), algo em torno de 35% pelo Brasil todo, num crescimento de uns
10 pontos sobre os últimos anos. Era certamente um sinal. No Rio, apenas 14%
dos jovens entre 16 e 18 anos com direito a voto se inscreveram para votar. Era
outro sinal.
2. O governo federal –desde Lula- entendeu como 'paz social' cooptar os
movimentos sociais (sindicatos, associações, UNE, ongs e até intelectuais) com
generosos - digamos - subsídios. O governo federal resolveu comprar partidos e
políticos ideologicamente antípodas e transformar o Congresso num departamento
do executivo ao qual chamou de base aliada. Apoiou e contratou um partido novo
(PSD) para minimizar a oposição. Mensalões se espalharam. Externalidade de
riqueza de políticos (guardanapos...), idem. Os respiradouros institucionais de
opinião pública foram obstruídos. Era outro sinal.
3. A onda de desqualificação do setor público e exaltação do setor privado como
cogestor dos governos, com consultores substituindo governantes, privatizações,
terceirizações, construíram um ambiente autoritário em nome da técnica e da
modernidade, reprimindo as manifestações das corporações de servidores. Era
outro sinal.
4. A ideia que o povo era o problema e que os governos deveriam reprimir
hábitos e substituir a prevenção pela repressão - apelidando de choques de tudo
-, da urina à exponenciação dos "pardais" de trânsito, foi criando
uma sensação de sufoco. Era outro sinal.
5. O uso e abuso da publicidade pelos governos com gastos bilionários foram
gerando a certeza que se tratava tudo de uma fraude, tentando iludir as
pessoas. O que se mostrava não correspondia à realidade. Era outro sinal.
6. A blindagem dos governos que a imprensa - especialmente no Rio - fazia,
destacando números e fatos positivos e omitindo tantos outros, sem equilíbrio
entre os apologistas e os críticos, apontou na mesma direção de dicotomia entre
a opinião publicada e a opinião pública. Isso foi se esgotando. Era outro
sinal. Neste momento (vide marketing de grande semeadura), a cobertura das
manifestações passa a expandir as redes sociais e a mobilização por elas e nas
ruas (paradoxalmente?). É um forte sinal de continuidade.
7. Sem canalização institucional, tudo isso foi sendo canalizado para as redes
sociais. A vaia em Dilma na abertura da Copa das Confederações foi o primeiro
ato. O aumento no preço das passagens de ônibus foi o "tipping
point". No Rio, a coincidência com a proibição de vans na zona sul no
mesmo momento do aumento, foi uma imprudência. Era outro sinal que a reação não
seria uma procissão.
8. Jovens são a maioria nas redes sociais. Mas eles têm pais, professores,
parentes, amigos, colegas e chefes de trabalho... Jovens são a grande maioria
nas ruas, não porque sejam a grande maioria dos Indignados, mas pela
característica, até natural, de energia e ousadia. Quem traduzir como movimento
jovem apenas, vai se iludir.
9. As agências que pesquisam as redes e que acompanharam dia a dia, desde o dia
17, a dinâmica nas redes, mostraram que, do foco passagens de ônibus, os
protestos se alargaram tematicamente. Nas redes, a proporção de notas, cartazes
e vídeos é de 200 mostrando os excessos policiais, para 1 mostrando excessos
das manifestações. Na imprensa a proporção é muito diferente.
10. A leitura dos dados econômicos por especialistas e pela imprensa não
percebe o mundo fora dos mercados. Por exemplo: O IBGE apresenta taxa de
desOcupação e não de desEmprego. O subemprego e o emprego precário nas tabelas
do IBGE somados aos 5,8% de taxa de desocupação, somam 26% de - aí sim -
Desemprego.
11. As manifestações têm três tendências, ao analisar o que ocorreu em outros
países: a) tendem a ser descentralizadas em curto prazo, ampliando casos de
violência; b) tendem a ser totalmente pacíficas, se somando com cartazes e
palavras de ordem à Jornada da Juventude Católica; c) tendem a ser retomadas
com a mesma ou maior intensidade em 2014, perto da Copa do Mundo e
provavelmente culminando com um forte movimento pelo não voto - voto nulo,
branco e abstenção.
12. Os protestos e manifestações só massificam quando têm foco concreto
no cotidiano, nos alvos e nos temas e alta probabilidade de resultar. Ficam
fáceis de contaminar as redes sociais e por elas serem multiplicadas. Não voto
- será fácil mobilizar nas redes e nas ruas. Nesse sentido, uma reforma
eleitoral densa e em curto prazo poderia evitar que os 35% virassem 50% ou mais
em 2014.
Fonte: "Ex-Blog do César Maia"
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