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segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Tendências que estimularam redes sociais e manifestações e que apontam para 2014"


Por César Maia

1. As eleições de 2012 mostraram números recordes de não voto (abstenção + brancos + nulos), algo em torno de 35% pelo Brasil todo, num crescimento de uns 10 pontos sobre os últimos anos. Era certamente um sinal. No Rio, apenas 14% dos jovens entre 16 e 18 anos com direito a voto se inscreveram para votar. Era outro sinal.
       
2. O governo federal –desde Lula- entendeu como 'paz social' cooptar os movimentos sociais (sindicatos, associações, UNE, ongs e até intelectuais) com generosos - digamos - subsídios. O governo federal resolveu comprar partidos e políticos ideologicamente antípodas e transformar o Congresso num departamento do executivo ao qual chamou de base aliada. Apoiou e contratou um partido novo (PSD) para minimizar a oposição. Mensalões se espalharam. Externalidade de riqueza de políticos (guardanapos...), idem. Os respiradouros institucionais de opinião pública foram obstruídos. Era outro sinal.
       
3. A onda de desqualificação do setor público e exaltação do setor privado como cogestor dos governos, com consultores substituindo governantes, privatizações, terceirizações, construíram um ambiente autoritário em nome da técnica e da modernidade, reprimindo as manifestações das corporações de servidores. Era outro sinal.
       
4. A ideia que o povo era o problema e que os governos deveriam reprimir hábitos e substituir a prevenção pela repressão - apelidando de choques de tudo -, da urina à exponenciação dos "pardais" de trânsito, foi criando uma sensação de sufoco. Era outro sinal.
       
5. O uso e abuso da publicidade pelos governos com gastos bilionários foram gerando a certeza que se tratava tudo de uma fraude, tentando iludir as pessoas. O que se mostrava não correspondia à realidade. Era outro sinal.
       
6. A blindagem dos governos que a imprensa - especialmente no Rio - fazia, destacando números e fatos positivos e omitindo tantos outros, sem equilíbrio entre os apologistas e os críticos, apontou na mesma direção de dicotomia entre a opinião publicada e a opinião pública. Isso foi se esgotando. Era outro sinal. Neste momento (vide marketing de grande semeadura), a cobertura das manifestações passa a expandir as redes sociais e a mobilização por elas e nas ruas (paradoxalmente?). É um forte sinal de continuidade.
       
7. Sem canalização institucional, tudo isso foi sendo canalizado para as redes sociais. A vaia em Dilma na abertura da Copa das Confederações foi o primeiro ato. O aumento no preço das passagens de ônibus foi o "tipping point". No Rio, a coincidência com a proibição de vans na zona sul no mesmo momento do aumento, foi uma imprudência. Era outro sinal que a reação não seria uma procissão.
       
8. Jovens são a maioria nas redes sociais. Mas eles têm pais, professores, parentes, amigos, colegas e chefes de trabalho... Jovens são a grande maioria nas ruas, não porque sejam a grande maioria dos Indignados, mas pela característica, até natural, de energia e ousadia. Quem traduzir como movimento jovem apenas, vai se iludir.
       
9. As agências que pesquisam as redes e que acompanharam dia a dia, desde o dia 17, a dinâmica nas redes, mostraram que, do foco passagens de ônibus, os protestos se alargaram tematicamente. Nas redes, a proporção de notas, cartazes e vídeos é de 200 mostrando os excessos policiais, para 1 mostrando excessos das manifestações. Na imprensa a proporção é muito diferente.
     
10. A leitura dos dados econômicos por especialistas e pela imprensa não percebe o mundo fora dos mercados. Por exemplo: O IBGE apresenta taxa de desOcupação e não de desEmprego. O subemprego e o emprego precário nas tabelas do IBGE somados aos 5,8% de taxa de desocupação, somam 26% de - aí sim - Desemprego.
    
11. As manifestações têm três tendências, ao analisar o que ocorreu em outros países: a) tendem a ser descentralizadas em curto prazo, ampliando casos de violência; b) tendem a ser totalmente pacíficas, se somando com cartazes e palavras de ordem à Jornada da Juventude Católica; c) tendem a ser retomadas com a mesma ou maior intensidade em 2014, perto da Copa do Mundo e provavelmente culminando com um forte movimento pelo não voto - voto nulo, branco e abstenção.  

12. Os protestos e manifestações só massificam quando têm foco concreto no cotidiano, nos alvos e nos temas e alta probabilidade de resultar. Ficam fáceis de contaminar as redes sociais e por elas serem multiplicadas. Não voto - será fácil mobilizar nas redes e nas ruas. Nesse sentido, uma reforma eleitoral densa e em curto prazo poderia evitar que os 35% virassem 50% ou mais em 2014. 

Fonte: "Ex-Blog do César Maia"

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