Por
Ricardo Noblat
É razoável supor que Dilma enfrenta sérias
dificuldades para entender o que se passa no país.
Se Lula, que é um político esperto, anda
pendurado no telefone a pedir, humilde, a ajuda de amigos para tentar
decodificar a voz das ruas, quanto mais Dilma, que nem política é, muito menos
esperta.
E carece de amigos que sejam. Ou de
colaboradores informais que gostem dela a ponto de aconselhá-la de graça.
Para governar bem, um presidente da República
tem de se destacar como líder.
Não precisa ser um excepcional gestor. Mas
líder está obrigado a ser.
Como governar sem exercer influência sobre o
comportamento, o pensamento e a opinião dos outros - auxiliares e governados?
Com seu entusiasmo, o líder contagia os que o
cercam. Agindo assim, obtém a adesão deles aos seus planos.
Dilma infunde medo. O medo inibe.
Para além de carismático, o líder é um grande
comunicador.
Dilma não é nem uma coisa nem outra.
O líder é persuasivo.
Dilma é um chefe mal-humorado e impositivo.
O líder é um hábil negociador.
Dilma não negocia - manda. E ai de quem
desobedecê-la.
O líder é exigente.
Dilma é exigente.
O líder é criativo e quebra paradigmas, se
necessário.
Dilma é convencional.
Não foram poucos os correligionários de Lula
que o desaconselharam a indicar Dilma para sucedê-lo.
Mas ele resistiu a todos os apelos. Dizia que
Dilma era a melhor gestora que conhecera.
A preferência de Lula por Dilma se escorava
em dois principais motivos: ela seria leal a ele. E não seria obstáculo ao seu
eventual retorno à Presidência da República.
Lula não pensou primeiro no país quando
elegeu Dilma sua candidata - pensou nele próprio. E, do seu ponto de vista,
acertou. No que importa, ele continua governando.
Quando se atrapalha ou se vê em apuros, Dilma
corre ao seu encontro.
A viagem de um presidente custa caro pelo
aparato que movimenta.
Quanto custa uma viagem de Dilma entre
Brasília e São Paulo para se aconselhar com Lula?
Não pergunte. Ela decidiu que os custos de
suas viagens permanecerão em segredo por anos a fio.
É o governo da transparência, como destacou
em sua fala à Nação na última sexta-feira.
Os governantes modernos não dão um passo
importante sem consultar a opinião popular por meio de pesquisas.
É assim com Dilma, como foi antes com Lula e
Fernando Henrique Cardoso.
Espanta que, munido de tantas pesquisas, o
staff dela tenha sido incapaz de prever que um gigantesco tsunami estava a
caminho.
A verdade é que só acreditamos naquilo que
não nos desagrada. Como só lemos o que reforça as nossas convicções.
Com os governantes não é diferente.
De tanto repetir que o mensalão não existiu e
de que nenhum governo combateu mais a corrupção do que o dele, Lula acabou
acreditando em tais fantasias. Bem como os que renunciaram a pensar com
independência para seguir o líder disposto a pensar por eles.
A corrupção não impediu Lula de se reeleger,
nem Dilma de sucedê-lo. Ora, por que haveria de produzir sérios estragos no
futuro? O povo não parecia ligar.
Nos últimos 12 meses, Lula cabalou votos de
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para absolver mensaleiros.
Não se revelou constrangido ao apertar apertar a mão de Paulo Maluf para
selar o apoio dele ao candidato do PT a prefeito de São Paulo.
Renan Calheiros, que já renunciou à
presidência do Senado para não ser cassado, foi eleito presidente do Senado em
fevereiro último. Milhares de pessoas pediram a sua renúncia. Em vão.
A um confidente, Dilma disse que não se
meteria na eleição de Renan porque não poderia se meter com assuntos
pertinentes ao PMDB e ao Congresso.
Como se ela de fato não se metesse. Como se
nunca tivesse se metido.
A ex-faxineira ética, que nos seu primeiro
ano de governo demitiu seis ministros por suspeitas de malfeitos, não apenas se
recompôs com eles como devolveu ministérios e outros cargos que havia tomado
dos seus partidos.
Para se eleger a gente faz o diabo a quatro,
desculpou-se Dilma. E nessas ocasiões o bicho costuma pegar.
Está para ser aprovada no Congresso uma
proposta que enfraquece o poder de investigação do Ministério Público. O
governo não mexeu um dedinho para impedir.
O vice de Alckmin, governador do PSDB, virou
ministro de Dilma sem deixar de ser vice.
Por fim, o STF ganhou ministros escolhidos
com base na esperança de que livrem mensaleiros da cadeia.
Ainda bem que são homens honrados.
Votarão de acordo com sua consciência.
Resultado da influência do demônio:
esgotou-se a paciência dos que acabaram saindo às ruas para protestar.
A repulsa à corrupção está por trás de sua
atitude, segundo pesquisa do Instituto Datafolha.
Dilma foi forçada a admitir que seu governo
ouve com atenção as vozes que cobram mudanças.
Mas mudanças para quê se o governo vai tão
bem?
Quer dizer: passou recibo de que ou muda ou
ficará de fora da próxima eleição.
Dilma de fora significava Lula dentro outra
vez.
Significava...
Agora, não mais necessariamente.
Fonte: "Blog do Noblat"
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