Por
Carlos Chagas
Um dos slogans no protesto-monstro de
quinta-feira, em todo o país, foi a exigência de tarifa-zero para os
transportes coletivos, depois da retumbante vitória do recuo das autoridades
diante do reajuste anterior. As manifestações passaram, assim, do heroísmo dos
últimos dias à bobagem que embriagou os manifestantes.
Claro que seria o ideal se ninguém precisasse
pagar passagens de ônibus, trens e metrôs. Como maravilhoso também
seria ao motorista abastecer seu carro nas bombas e despedir-se do frentista
apenas com um "muito obrigado". Por que não encher o carrinho do
super-mercado sem passar no caixa, ou renovar o guarda-roupa numa loja de modas
sob o aceno do vendedor para voltarmos sempre?
Nem no Nirvana, sequer em Xangri-Lá, seria
admissível uma situação assim. Até no Céu teremos a obrigação de adorar a
Deus, imagine-se aqui em baixo se tudo funcionar sem retribuição.
Fora exceções, a turma de empresários dos
transportes coletivos constitui uma máfia igual à dos piores tempos da Sicília.
Exploram ao máximo motoristas e trocadores, negando-lhes direitos
trabalhistas. Impõem horários de trabalho acima da resistência humana,
deixam suas viaturas caírem de podre e exigem do poder público constantes
reajustes nas passagens. Além, é claro, de contribuir com muito dinheiro
para as campanhas eleitorais daqueles que pouco depois autorizarão os
aumentos.
Estão gargalhando, os donos das empresas de
transporte. Sabem que um fantasioso sucesso da campanha pela tarifa-zero
só determinará a ida deles aos cofres públicos para receber
pelo funcionamento de suas frotas, sem as dificuldades de contar moedinhas
e imprimir bilhetes.
Sempre haveria a hipótese da estatização de
todo o sistema de transportes coletivos, que se tornariam propriedade do
Estado, mas sabemos como essas atividades funcionam, quando passam à
alçada do poder público. Ficam piores.
Sendo assim, melhor fariam os manifestantes
da atual temporada de protestos que voltassem a pôr os pés no chão. Resistir a
reajustes na maior das vezes abusivos, e conseguir revogá-los, é um ato de
heroísmo. Clamar por tarifa-zero, uma bobagem...
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