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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

José Saramago desistiu de querer ajustar contas com Deus

Pastor Edmilson Mendes
Ateus existem para fazer crer que Deus não existe. Os argumentos se repetem ecoando a cada geração. Onde Ele está? Por que tanta injustiça, sofrimento e violência? Como questiona um filósofo, se Ele é amor e não faz nada então não tem poder, se Ele tem poder e não faz nada então não ama, num claro questionamento que tenta reduzir Deus a limites de ordem humana, um tipo de figura boa, mas não um Deus. E os argumentos continuam. Quem pode provar sua existência? Onde está a entidade divina que os cristãos chamam Deus?
Nessa linha de questionamentos, ateus e cristãos aspiram coisas bem semelhantes. Os dois grupos anseiam por uma manifestação pessoal, visível, palpável, do Deus soberano anunciado pelas sagradas escrituras. Ateus gostariam que Deus aparecesse como uma prova contundente. Cristãos gostariam que Deus aparecesse pessoalmente para realizar um sonho, uma esperança, e não para provar aquilo que eles já sabem, vivem e sentem: Deus é real e presente.
José Saramago, apesar da sua insistente pregação de que Deus não existe, acaba de lançar o livro Caim, onde reconta a história bíblica. Na sua particular visão, a culpa do assassinato é de Deus, não de Caim. Ora, se Deus não existe, por que o escritor o incrimina? Evidente que não é o Deus Soberano que Saramago tenta incriminar, mas sim aquilo que ele julga ser uma fantasia de milênios, a fantasia de um Deus todo poderoso. Tal ideia de fantasia ele procura confrontar, no livro, com perguntas pontuadas por um "humor grosseiro", como afirma Jerônimo Teixeira na "Veja": "Por que Deus não cercou a árvore do fruto proibido com arame farpado para evitar que Adão e Eva se servissem dela?" Porém o livro, apesar do humor grosseiro, "não é uma comédia", diz Teixeira, mas sim "um pretencioso acerto de contas com Deus".
Antes fosse a tentativa de acerto de contas, pois já saberíamos quem prevaleceria no final. José Saramago já abandonou a ideia de ajuste de contas, trocou por outras ideias. Numa entrevista recente atente para a pergunta que foi lhe feita: "O senhor ainda sente necessidade de ajustar contas com Deus, mesmo acreditando que Ele só existe na cabeça das pessoas?". Agora observe a resposta: "Deus não existe fora da cabeça das pessoas que nele crêem. Pessoalmente, não tenho nenhuma conta a ajustar com uma entidade que durante a eternidade anterior ao aparecimento do universo nada tinha feito (pelo menos não consta) e que depois decidiu sumir-se não se sabe para onde. O cérebro humano é um grande criador de absurdos. E Deus é o maior deles."
Caso Deus tivesse sido resultado da imaginação humana, sem dificuldades concordaria com Saramago, seria Deus um absurdo. Basta olhar para a multiplicidade de deuses maquinados pelas aspirações humanas. Sofremos as crenças de uma geração apegada a sua suficiência científica, tecnológica, egoísta. Neste sentido, o único deus que Saramago consegue admitir, aquele que só existe no cárcere de decaídos cérebros humanos, é realmente uma absurda decepção, afinal, homens não são capazes de criar Deus e, quando tentam, fracassam numa sucessão de ideias fracas.
O Deus que cremos é Absoluto, Soberano em todos os seus caminhos. Decididamente, Ele não precisa de advogados. A comunidade cristã não deve gastar seu tempo tentando provar o que quer que seja. Deus é suficientemente bom para tudo e todos controlar. A perfeita vontade dEle se realizará sempre, independente de crentes ou ateus. E entre os mistérios da sua vontade está o livre arbítrio, essa capacidade que temos de escolher, refletir, questionar, tanto para crer como para descrer. O importante é que Ele respeita as nossas escolhas. Por que nós não respeitaríamos? Como outros ateus, Saramago escolheu no que acreditar. Respeitamos, oremos, esperemos.
Eu sei que Deus existe. Creio com todas as minhas forças. Com Ele jamais vou querer ajustar contas, mas tenho prazer em prestar contas. Essas expressões sobre ajuste e prestação de contas são emprestadas do mundo da matemática, uma ciência chamada "exata", aprendida, testada e comprovada. Toda essa conversa me fez lembrar de uma equação de fé feita por um matemático. Trata-se de uma conclusão obtida no clímax do iluminismo, pelo cientista e matemático Blaise Pascal, quando declarou que "o silêncio eterno desses espaços infinitos me assusta". Para ele, se depositasse sua confiança em Deus e estivesse errado, estaria renunciando a prazeres egoístas desta vida e, na morte, tudo terminaria em nada. No entanto, se ficasse contra Deus e errasse, enfrentaria uma eternidade de arrependimentos. Após avaliar cada probabilidade, Blaise Pascal decidiu que era muito melhor crer do que não crer em algo que existe.
Deus ama você, a mim, a Saramago. A decisão de escolher bem ou escolher mal, continua sendo franqueada a todos nós. Para mim, é impossível não amar Aquele que me faz livre, me deixa livre e me quer livre. Aquele que a cada dia se revela com graça, misericórdia e fatos, muitos fatos. Fatos que são traduzidos como surpresa, intervenção, milagre. Tenho crido, visto e recebido. A Ele a honra e a glória para sempre.
Paz!

Pr. Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por Que Esta Geração Não Acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

Um comentário:

Unknown disse...

Eu já havia comentado com você sôbre êsses comentários de Saramago, que me chocaram muito. Gostei de ler este artigo, excelente, do Pastor Edmilson. Nada a comentar, até porque nem consigo imaginar a inexistência de Deus na minha vida.