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segunda-feira, 22 de junho de 2009

"A crise fica"

Comentário de Ricardo Noblat
Mais um show de hipocrisia em cartaz. Quem é culpado pela crise que abala o Senado?
José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado pela terceira vez de 1995 para cá, nega que a culpa seja dele. “A crise não é minha, é do Senado”, proclamou no terceiro pronunciamento que foi obrigado a fazer para reafirmar sua inocência. Simplesmente patético!
De sua parte, assustada com o conteúdo ainda desconhecido dos 658 decretos secretos produzidos desde meados dos anos 80, a maioria dos senadores preferiu dar razão a Sarney, embora cobre dele uma atitude desassombrada para pôr um ponto final na crise.
Lula, por sua vez, resolveu se meter na história para salvar o aliado. E aí cometeu uma de suas mais célebres e tristes frases: "O senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Reivindicou para Sarney uma condição que aspira para si.
Ao ser alvo de ataques que podem se tornar mortais, o locatório de cargo poderoso costuma se defender de duas formas nada críveis: ou diz que querem atingir a instituição que ele representa ou transfere para a instituição a responsabilidade por seus próprios erros.
No auge do escândalo do mensalão, por exemplo, Lula enrolou-se na bandeira nacional e pediu que poupassem a presidência da República – como se ele e a presidência fossem uma coisa só. Sarney faz o inverso: imagina se desvincular da crise atribuindo-a ao Senado.
São dois parvos. Ou não: parvos são os que embarcam na deles.
O discurso que tenta confundir o ameaçado de perder o poder com a instituição que ele preside começa a encontrar crescente resistência cá fora. Instituições como a presidência da República e o Congresso são permanentes. Os que respondem por elas são passageiros.
Não se poder dizer o mesmo do discurso que atribui à instituição defeitos ou atos ilegítimos firmados por seus ocupantes. Esse ainda tem aderência e confunde muita gente.
A coletivização da responsabilidade é o melhor caminho para se garantir a impunidade.
Lembra quando Lula desqualificou o mensalão chamando-o de caixa 2? Em seguida, afirmou que o PT se limitara a proceder como os demais partidos que se valem de dinheiro sujo para pagar despesas de campanhas.
Caixa 2 aos olhos de Lula era um crime menor. Com a vantagem de não envolver o governo, suspeito de subornar parlamentares para que votassem como ele mandava. O Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do mensalão.
Nossa memória é falha. E a preocupação com o respeito à ética e aos bons costumes é algo que ainda não fincou raízes profundas entre nós.
De há muito que o Congresso cheira mal – mais precisamente desde que voltou a funcionar em sua plenitude com o fim da ditadura militar de 21 anos inaugurada em abril de 1964.
Sarney foi o primeiro presidente civil depois de cinco presidentes generais. Inchou os quadros do governo com cerca de 100 mil novos funcionários. Liberou geral. É fato que o Congresso se antecipara à farra.
Com uma canetada só, em dezembro de 1984, Moacir Dalla, então presidente do Senado, admitiu ali sem concurso quase 1.400 pessoas – entre elas a filha do futuro presidente da República, Roseana Sarney.
Cindo anos depois, descobriu-se que 197 dos 495 deputados e 22 dos 70 senadores empregavam em seus gabinetes um total de 325 parentes.
Presidente do Senado com duas residências? Velharia! Em 1987, Humberto Lucena (PMDB-PR) dispunha da casa de presidente e de um apartamento funcional.
Os políticos malandros sequer se deram ao trabalho de arranjar novos argumentos para defender suas malfeitorias.
“Querem colocar o Legislativo numa posição difícil”, bradou não na semana passada, mas em 1989, o senador Pompeu de Souza (PSDB-DF), que havia contratado como assessores um filho, um genro e uma nora. Na época, o líder do PDS, Jarbas Passarinho (PA), empregara no Senado quatro filhos.
Como senador, Sarney empregou 10 parentes e afilhados. Ou pediu a colegas que empregassem por ele.
Há como se identificar, sim, os culpados pela crise do Senado. Basta saber quem aprovou os decretos secretos, quem se beneficiou deles e quem os escondeu. Puna-se depois quem merecer ser punido.
Há também como se moralizar o Senado. Contrate-se uma auditoria externa para rever todos os contratos. Dispensem quem não pertença ao quadro estável de servidores. Reduza-se o número de benefícios concedidos aos servidores que restarem e aos senadores. Divulguem-se salários e atos na internet, se possível em tempo real.
Sarney terá vigor, coragem, autoridade e apoio dos seus pares para liderar tal empreitada?
Nem pensar! Esqueça.
Ele não é um homem de rupturas, é um conciliador por natureza. Não veio para mudar nada, mas para acomodar.
Foi útil ao país na transição da ditadura para a democracia. Deveria ter-se aposentado em seguida.

Um comentário:

Anônimo disse...

e como a crise fica amigos...