Deu em "O Estado de S. Paulo", edição desta quinta-feira, 25, Por Ruth Costas:
A crise global pode ser capitalista, mas o socialismo bolivariano do presidente Hugo Chávez não está ajudando muito a atenuar seus efeitos na vida dos venezuelanos. O governo anunciou ontem um aumento dos preços dos produtos tabelados, que são os que enchem as prateleiras dos mercados estatais subsidiados, os Mercais. O leite subiu 33%; a sardinha (produto bastante consumido pelos venezuelanos), 147%; o queijo, 8%; e o açúcar deve subir 47% em outubro. Só o óleo de cozinha teve uma redução de 15% por causa da safra.
Além disso, se antes havia escassez de alimentos básicos, agora falta tudo, além de empregos. O desemprego subiu mais de 10% no último ano (eram 888 mil desempregados há um ano; hoje são 999 mil), segundo dados também divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Há seis anos não havia uma alta. No total, mais 111 mil venezuelanos ficaram desempregados e 226 mil passaram para a informalidade.
“A queda do preço do petróleo já começou a ter um impacto grande no dia a dia dos venezuelanos”, disse ao Estado o economista Maxim Ross, diretor de uma consultoria que leva o seu nome, em Caracas. Para ele, as dificuldades podem atingir a popularidade de Chávez, apesar de ele ainda ter bastante apoio. “Nos períodos de bonança, o governo gastou todo o dinheiro em vez de engrossar as reservas do país. Agora, está ficando sem recursos para manter os subsídios aos mercados populares e importar todo tipo de produtos”, diz Ross.
O que trava as importações é a falta de dólares para pagar fornecedores e credores. Como nos últimos anos o setor privado encolheu drasticamente por falta de investimentos, a demanda é grande pelos produtos de fora. Um órgão do governo chamado Cadivi é quem decide a liberação de dólares para as empresas comprarem mercadorias. O processo é lento e nem sempre se obtém a autorização.
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