Deu no "Blog Reinaldo Azevedo":
Vejam o que vai na Agência Brasil. Volto depois:
A proposta de emenda à Constituição (PEC) que exige diploma de curso superior de comunicação social para o exercício da profissão de jornalista “será apresentada no mais tardar até as 18 horas da próxima quarta-feira, 1º de julho”. A informação é do autor da proposta, senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).
“Pretendo ampliar ainda mais o apoio à proposta e, com isso, criar condições para que sua tramitação ocorra de forma ágil”, explica o senador. A expectativa é de que, no início da próxima semana, a PEC já conte com pelo menos 50 assinaturas de apoio dos senadores para a sua apresentação.
A emenda precisa ser aprovada por três quintos dos senadores em dois turnos, o que corresponde a 49 dos 81 votos. Antes, terá de passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
“Não acredito que a proposta venha a ser considerada inconstitucional, porque é uma situação bastante similar à PEC da Verticalização Política. Na época o STF julgou que as alianças entre partidos nos estados teria de, obrigatoriamente, ser estendida a todo o país. Mas por meio de uma PEC o Congresso Nacional conseguiu mudar a situação”, disse o senador à Agência Brasil.
Na opinião do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Maurício Corrêa, a estratégia de tornar obrigatória a exigência do diploma por meio de emenda constitucional pode ser bem sucedida. “Isso é possível, mas há que se ter cuidado para que ela não seja interpretada como repreensão à decisão do Supremo”, disse à Agência Brasil.
A PEC a ser apresentada pretende acrescentar o Artigo 220A na Constituição, estabelecendo que o exercício da profissão de jornalista como privativo de portador de diploma de curso superior de comunicação social, com habilitação em jornalismo. Acrescenta também um parágrafo único ao artigo, tornando facultativa a exigência do diploma para os colaboradores.
Comento
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Quase dá vergonha de comentar. Trata-se de uma mistura de corporativismo, demagogia com uma carreira profissional e ignorância. O que foi que derrubou, no Supremo, a lei que exigia o diploma? O inciso IV do Artigo 5º da Carta, uma cláusula pétrea, a saber:
Artigo 5º - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Artigo 5º - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(…)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
E acabou. Se essa esdrúxula emenda prosperasse nas duas Casas do Congresso, seria declarada inconstitucional no Supremo. Acenar com isso é vender ilusão. A comparação feita pelo senador com a questão da verticalização é uma estupidez. Naquele caso, a Carta estava redigida de modo a induzir a prática. Com a mudança da redação, ela caiu. Nesse caso, o diploma só poderia voltar a ser exigido caso se mudasse ou se eliminasse o inciso IV do Parágrafo 5º. E, bingo!, nessa cláusula, nem uma emenda pode mexer.
Imaginem, agora, se todas as profissões resolvessem “constitucionalizar” as exigências para o exercício da função… Isso é uma aberração! Alguém precisa avisar ao senador e, eventualmente, aos pterodáctilos corporativistas que não dá para meter na Carta o que vai dando na telha, entenderam? Não é porque se opta por uma PEC, que dá para enfiar na Constituição o que a Câmara e o Senado bem entenderem. Você não pode tornar obrigatório, por exemplo, o consumo de Chicabom. Não pode porque fere direitos individuais. Ou, para lembrar Nelson Rodrigues, não pode impedir a viúva de tomar um Chicabom no portão logo depois de enterrar o marido… De novo, fere direitos.
O senador Valadares deve achar que, procedendo assim, puxa o saco de jornalistas. Talvez ignore que os jornalistas de fato não dão bola para diploma. E quem dá bola não é jornalista de fato…
E acabou. Se essa esdrúxula emenda prosperasse nas duas Casas do Congresso, seria declarada inconstitucional no Supremo. Acenar com isso é vender ilusão. A comparação feita pelo senador com a questão da verticalização é uma estupidez. Naquele caso, a Carta estava redigida de modo a induzir a prática. Com a mudança da redação, ela caiu. Nesse caso, o diploma só poderia voltar a ser exigido caso se mudasse ou se eliminasse o inciso IV do Parágrafo 5º. E, bingo!, nessa cláusula, nem uma emenda pode mexer.
Imaginem, agora, se todas as profissões resolvessem “constitucionalizar” as exigências para o exercício da função… Isso é uma aberração! Alguém precisa avisar ao senador e, eventualmente, aos pterodáctilos corporativistas que não dá para meter na Carta o que vai dando na telha, entenderam? Não é porque se opta por uma PEC, que dá para enfiar na Constituição o que a Câmara e o Senado bem entenderem. Você não pode tornar obrigatório, por exemplo, o consumo de Chicabom. Não pode porque fere direitos individuais. Ou, para lembrar Nelson Rodrigues, não pode impedir a viúva de tomar um Chicabom no portão logo depois de enterrar o marido… De novo, fere direitos.
O senador Valadares deve achar que, procedendo assim, puxa o saco de jornalistas. Talvez ignore que os jornalistas de fato não dão bola para diploma. E quem dá bola não é jornalista de fato…
2 comentários:
"Bons jornalistas não dão bola prá diploma..." nem bons leitores. E esse senador fazedor de média, não podia ocupar o seu tempo com algum projeto mais interessante pro povo? Quanta falta do que fazer e pensar! É assim que eles vão cada vez nais ficando apagados na visão do povo. Mariana
Passando adiante...
Obrigatoriedade do Diploma
Caro colega, meu nome é Felipe Pena.
Sou jornalista, professor da Universidade Federal Fluminense, doutor em literatura pela PUC Rio, pós-doutor em semiologia pela Sorbonne e faço um risoto de frutos do mar muito apreciado pelos colegas da imprensa que frequentam a sala de jantar d aminha humilde residência.
A maioria insiste diariamente para que eu abra um restaurante, sugestão que nego com veemência, apoiado emumúnico argumento: não tenho formação adequada. Perdoe-me pela sinceridade, mas se você achou que o primeiro parágrafo foi irônico é tão preconceituoso quanto os jornalistas que seindignaram com a fundamentação do ministro Gilmar Mendes aoderrubar aexigência de diploma para o exercício do jornalismo. Por quegritaramtanto ao ouvir a comparação entre jornalistas e cozinheiros? Porquese sentem superiores aos colegas da gastronomia? Por acaso somosmelhores ou mais sofisticados? Talvez mais eruditos? Claro, nóslemosBalzac, Joyce, Proust, Foucault, Deleuze. Mas essa não é abibliografia dos cursos de letras ou de sociologia? Pela lógica da obrigatoriedade, passaremos a exigir o diploma deletras para qualquer um que escreva romances ou se arrisque nasestrofes de um poema. Da mesma forma, só poderá exercer opensamentocrítico sobre a sociedade quem passar pelos bancos empoeirados dasescolas de ciências sociais. Aliás, este epíteto - ciência - épartedo problema. Um problema que começa justamente na universidade.Nossos doutores da Academia falam despudoradamente em ciências dacomunicação, mas onde está a ciência?Qualquer jornalista sabe que sua atividade está ligada a aptidõesartísticas, ao bom e velho talento, a uma boa dose de coragem e,principalmente, à capacidade de se comunicar com o público. Claroquenão é só isso: lidamos com técnicas específicas e com valoresmoraisque afetam a sociedade. Mas isso também não é ciência e tampoucoseaprende na universidade. Então, para que servem as faculdades de jornalismo? A resposta ésimples: para aprender a fazer um bom risoto. Se você tiver algunsprofessores acostumados com o manejo das panelas e outros beminformados sobre os temperos, talvez alcance o objetivo. Mas sóvaicompletar o aprendizado quando chegar à cozinha e tomar uma broncadochefe: o chefe de reportagem.Infelizmente, o ambiente universitário contempla poucosprofessoresinteressados em gastronomia. Os pratos são servidos frios, não têmsabor. Falta pimenta e sobra chuchu na maioria das receitas. AAcademia é um inverno de fome, mas é a vaidade dos cozinheiros queatrofia as glândulas gustativas. Os professores somos corporativistas. O verbo é inclusivo porque acrítica não me isenta de culpa. Na universidade, principalmentenoscursos de mestrado e doutorado, utilizamos uma linguagem hermética-escondida sob o véu de ciência - como estratégia de poder paraperpetuar nosso lugar nas cátedras douradas da Academia. Odiscurso éclaro: se você não me entende é porque ainda não alcançou o meunível, masse estudar muito um dia chega lá. Não é de estranhar que nossosalunos sesintam superiores. Afinal, ninguém fala em epistemologia ou emhermenêutica nos cursos de culinária. Sou favorável ao diploma de jornalismo, o que não significadefender aobrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Naintrodução de um livro que publiquei em 2005 (Teoria dojornalismo,Ed. Contexto), tinha uma opinião diferente, mas acho queprecisamosrever nossas conclusões sobre o tema. Se eu fosse diretor de umjornal, daria prioridade aos profissionais formados nas boasescolasde comunicação (aquelas que têm cozinheiros talentosos), mas nãoexcluiria sociólogos, advogados ou economistas, cujas habilidadespodem ser úteis ao jornalismo. Lá em casa, o risoto continuará a ser servido, mas o restauranteficapra depois. Quando me formar em gastronomia, convidarei os amigos(seainda os tiver) para ler o jornal que os garçons vão produzir. Sónãosei se o editor-chefe será o sommelier ou o maitre. Bom apetite!
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