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domingo, 28 de junho de 2009

"Vício maldito"

Por Danuza Leão, na "Folha de S. Paulo":
O fumo é um veneno, e quem fuma vai um dia pagar caro por ter achado alguma graça em acender um canudinho

É INACREDITÁVEL que a medida do governo de São Paulo proibindo o fumo em lugares fechados tenha sido contestada pela Justiça. Isso na contramão do mundo inteiro, que vem fazendo tudo que é possível para coibir o vício do fumo.
O fumo é um veneno, e quem fuma vai um dia pagar caro por ter achado alguma graça em acender um canudinho de papel cheio de porcarias, inalar a fumaça direto para os pulmões e depois soprar de novo a fumacinha; no mínimo, ridículo. Nos anos 40, todos os filmes mostravam os atores e atrizes fumando, e isso fazia parte do glamour da época. Lembro da cena de um filme em que o ator punha dois cigarros na boca, acendia os dois e passava um deles para a atriz com quem contracenava. Quanta burrice; quanta ignorância. Eu também fui burra e ignorante durante anos, e apesar de ter sido alertada por tanta gente, só parei de fumar no tranco, isto é, quando meus pulmões pediram socorro.
Fumar é um vício miserável, mais difícil de ser deixado do que qualquer droga pesada. Porque para comprar cigarros não é preciso subir o morro, procurar um traficante e ainda se arriscar a ser preso. Um maço de cigarros não custa quase nada, pode ser comprado na esquina, e fumar não é crime - ainda. Mas os fumantes já começam a ser olhados com maus olhos, e a verdade é que esse vicio é bem nojento.
Está aí uma coisa de que me arrependo muito: ter sido fumante. Quando vou subir uma escada ou mesmo uma pequena ladeira, e tenho que parar para respirar, sinto muita vergonha. Como eu gostaria de ser lépida e ligeira como já fui; e sei que a culpa disso não tem outra origem a não ser o cigarro. É um suicídio lento, e o pior é que não costuma adiantar dizer aos jovens que não entrem nessa porque é uma roubada. Será que é preciso sentir os efeitos da droga para começar a tentar parar? Eu sei que não é fácil, mas não é possível que só a maturidade ensine coisas tão óbvias.
Ouvi dizer que os cigarros estão custando mais caro; pois deviam custar mais caro ainda. Uns R$ 50 por maço seria um preço razoável. E eu queria saber o que passou na cabeça desse juiz -ou desses juízes- que decidiu ser ilegal a medida do governo de proibir o fumo em lugares públicos fechados. Se os fumantes são uns idiotas -tanto quanto eu fui-, não sei o que dizer dessa Justiça que foi contra a medida. A indústria é poderosa, mas está se ferrando no mundo todo; e tomara que se ferre mais ainda.
Que vergonha eu tenho do tempo em que me achava moderna e rebelde e fazia a apologia do fumo. E que raiva eu tenho de mim mesma, quando quero andar mais rápido e não consigo, porque minha respiração falha. Como é que alguém pode fazer mal a si mesma? Por que, a troco de que, se os primeiros cigarros são tão desagradáveis e é preciso insistir para conseguir fumar, se achando o máximo, glamourosa e adulta?
Quando passo pela porta de um shopping e vejo umas pessoas fumando, já que no interior do shopping é proibido, tenho que me conter para não parar, sacudir uma delas pelos ombros e dizer "não seja idiota, pare com isso antes que seja tarde", mas sou obrigada a me controlar, pois não pegaria nada bem fazer isso. Imagino que, se você me leu até agora, é porque não é fumante; se fosse, já teria passado para outra página do jornal.
Mas imagino também que você seja pai ou mãe de um jovem fumante e que gostaria muito que seu filho ou filha deixasse o vício. E não sei mais o que dizer, pois falar não costuma adiantar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo em tudo com o que diz Danuza. Pena, mas pena mesmo,é eu ter que ser uma fumante passiva, porque cabeça dura como a de meu marido(que às vezes precisa ingerir Fluimucil) nunca vi igual. Mariana

Thomas disse...

Também sou contra o tabagismo. Porém, entendo a contestação judicial.

Acredito que um cidadão faz o que bem entende de sua propriedade, portanto, se um dono de bar ou restaurante deseja acolher uma clientela de fumantes, ele que o faça, sem interferência da lei. E os não-fumantes que não frequentem o estabelecimento. Isso aí é questão de bom-senso. Acho que fumar é uma burrice também, mas proibir um empresário de ditar as normas de seu estabelecimento é ditadura.