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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Lula do passado morreu, e o que está aí dá esmola ao povo

Está na "Folha de S. Paulo", edição desta segunda-feira, 24:
Em seu retorno a Barra (BA), cidade onde mora há 33 anos, o bispo dom Luiz Flávio Cappio, 61, fez as mais duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que iniciou sua campanha contra a transposição das águas do rio São Francisco. "O Lula morreu, estamos no governo Inácio da Silva. No governo dele, os movimentos sociais foram abafados, perderam o espaço de expressão e, hoje, estão à margem.
"Na semana passada, d. Luiz encerrou jejum de quase 23 dias contra as obras, em Sobradinho (BA). Segundo o bispo, os elevados índices de popularidade de só existem porque "o povo pobre e miserável do Brasil corre atrás de um presidente que dá esmola". Ele se referiu ao programa Fome Zero, hoje incorporado ao Bolsa Família.
"Quando o presidente lançou o programa, chorei de emoção, porque achava que o Fome Zero seria um exemplo para o mundo, que ia dar dignidade e cidadania. No entanto, o programa dá uma esmola e continua mantendo a dependência do povo", disse o bispo. Apesar das críticas, o bispo disse que não fará oposição. "Minha oposição a Inácio da Silva é por motivos éticos e morais."
O religioso afirmou não acreditar na conclusão da transposição, orçada em mais de R$ 5 bilhões. "O projeto envolve recursos de tanta magnitude que, quando o dinheiro acabar, ele pára, as obras acabam."

3 comentários:

Anônimo disse...

Morreu mesmo... e esqueceram de enterrar o pobre...

Vejam essa:

A POLÊMICA CARTA DE SERGINHO SÃO BERNARDO CONTRA ATITUDE DE SECRETÁRIA

www.bahiaja.com.br

24/12/2007 - 11:01
A POLÊMICA CARTA DE SERGINHO SÃO BERNARDO CONTRA ATITUDE DE SECRETÁRIA



Os leitores do Bahia Já vão conhecer a carta de Serginho São Bernardo que acusa a secretária de Jusatiça da Bahia de ter praticado racismo institucional.

Vide na íntegra:


Participei da Coordenação da campanha de Jaques Wagner no GT Justiça e Segurança Pública e, após as eleições da equipe de transição, como um dos coordenadores do Grupo de trabalho Justiça, Segurança Pública e Cidadania.

Houve várias outras movimentações para minha inclusão no governo: Bahia Pesca, Sedes, Sepromi, Sedur etc. Ainda assim, com uma convicta preleção religiosa, afastei-me das movimentações políticas por doze dias e fui oferecer-me aos guias de minha cabeça.

Meu primeiro contato com a atual Secretária de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Marília Murici, foi no final do mês de dezembro de 2006, quando os deputados Luiz Alberto e Yulo Oiticica apresentaram meu nome para o segundo escalão de governo.

Ainda com as minhas tranças e guias, fui apresentado como postulante ao cargo de superintendente do PROCON-BA. Marília apenas nos ouviu gentilmente e fomos embora.

Estive, após minha confirmação religiosa, com Marília Murici no dia 12 de janeiro de 2007. Ainda com o filá - que ela gentilmente pediu-me que retirasse - fui ofertado com mais uma outra pergunta gentil: "você acha que tem condições de assumir qual cargo no PROCON-BA?" Sem pestanejar - respondi: "Superintendente!" Ela demorou um pouco, olhou-me, enviesadamente, e disse-me: "então resolvamos logo isso" -, depois conduziu-me para fora de sua sala.

Não sabia que estava iniciando meu tortuoso caminho de assédio, discriminação e preconceito. Neste meio tempo, conheci Cristiana Santos, filha do ex-governador Roberto Santos, através de Elias Sampaio. Era a candidata ao órgão por preferência de Marília Murici, mas não podia assumir em razão de não ter finalizado sua tese de doutoramento em Direito. Inicialmente, foi bastante gentil. Tratava-me como um aluno.

Entre o dia 12 e o dia 17 (dia que efetivamente fui nomeado), tive o cuidado de conversar com os principais servidores do órgão que iria dirigir. Quando efetivamente assumi o PROCON-BA, procurei realizar um diagnóstico e apontar as suas principais necessidades. Depois, eu passei a saber, que era sempre o PROCON-BA, durante os meses de 2007, que apresentava relatórios e dados com esmero, precisão e qualidade.

Achava que iríamos ter debates e diálogos proveitosos e procurei aproximar-me de minha chefe hierárquica. Descobri cedo que ela, não só não acreditava em minha capacidade, como também não torcia por mim nem tampouco iria ajudar-me em minhas ações como gestor do órgão consumerista. Em todos os meus atos, eu a procurava para que ela avalizasse e me orientasse como devia proceder.

Como as respostas eram, ora a impossibilidade de receber-me, ora o desprezo pelas ações do Procon, contive-me em nome da sobrevivência institucional.

Porém, o que ocorreu nos últimos meses foi uma verdadeira odisséia de mudança conceitual no órgão. Em pouco tempo invertemos alguns paradigmas. Se antes o órgão era movido por ações reativas, agora nos cercávamos de ações preventivas. O que antes funcionava como um conjunto de ações individuais cercava-se de ações coletivas. Se antes o foco eram interesses exclusivos da classe média, propomos ações voltadas para a população de baixa renda. Isso incomodou. Foi então que começou a indústria de assédios morais e discriminação, entre eles:
Todos os meus atos administrativos eram vigiados, sempre com uma pecha de erro ou irregularidade; depois eram reconsiderados e aceitos;
As indicações que fazia eram censuradas. Nunca me foram apresentadas razões aos vetos. Em sua maioria, homens e mulheres negras. Tais como Juliana Freitas (Steve Biko), Leonardo- (POMPA), Marco Antônio, Jaqueline Hegouet, Alzira, todos advogados e advogadas negras. Além de Helder, Ivonide e tantos outros negros e negras que foram sumariamente cortados, sem nenhuma explicação plausível. Sem deixar de mencionar que a advogada Silmar Carmo foi convidada a assumir um cargo na SUDH sob alegação de que não teria um "perfil" para Diretora de Fiscalização;
Contrariamente, vários nomes indicados por Marília não tinham capacidade técnica para o cargo e simplesmente pouco produziam no órgão. É o caso de Delza Santos, atual Coordenadora de Estudos e Pesquisas, cunhada da Chefa de gabinete, Gleide Gurgel e de Lúcia Rêgo, atual diretora de assuntos especiais do PROCON-BA, que utiliza o cargo para promoções pessoais, enxerta o setor pessoal de atestados médicos e que me convidou a tomar aulas de fonoaudiologia, postura e estética. E, mais recentemente, Rúbia Aragão, ex servidora da chefia de gabinete da Secretaria de Cultura (cargo DAÍ-6) que foi guindada a Secretaria Executiva do Fundo Gestor, (cargo DAS-3), quando, assumidamente, me dissera que não possuía capacidade para tal tarefa;
Certa vez, ao apresentar-me de cabelo cortado, fui graciosamente elogiado por Gleide Gurgel, pelo meu ato, como se aquela fosse a imagem de um gestor público. De lá para cá não cortei mais o cabelo;
Diversas vezes fui admoestado, humilhado e ultrajado pela assessora especial Cristiana Santos. Os gestos variavam de dedo em riste, intimidação com olhar, vozes altas, e ilações quanto à minha capacidade. Sua frase categórica era: "sou amiga de Marília há mais de 17 anos e falo em nome dela, portanto, reduza-se a sua importância". Nunca aceitei tal comando. Todos me conhecem. Lutei até o fim contra isso;
Estas reuniões aconteceram entre maio, junho e julho. Foram presenciadas pela diretoria do PROCON-BA que, calados, receando alguma retaliação, apenas aconselhava-me a também calar. Eu não conseguia...;
Fui chamado, repetidas vezes, para explicar os projetos e programas do órgão, apenas por deleite do gabinete. Nada que solicitava era atendido ou quando era, acontecia com tamanho desprezo. Tudo era montado para que me sentisse confuso e incapaz; Nós recebemos coordenação técnica do DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, ligado ao Ministério da Justiça), por determinação legal. Marília nunca aceitou isso. O DPDC nos elogiava bastante. Marília nunca aceitou isso também;
Ainda assim, por uma dedicação e compromisso, conseguimos grandes frutos. A equipe era integrada. A imprensa nos pautava diariamente e nós pautávamos a imprensa. Concedemos cerca de 600 entrevistas em todos os veículos midiáticos. Minhas primeiras entrevistas eram enviadas para o gabinete para serem avaliadas;
Em onze meses de governo, Marília Murici, apenas me recebeu em seu gabinete duas vezes. Solicitei reunião para despacho formal cerca de seis vezes - todas documentadas -, os ofícios de requerimento de material de consumo permanente e de expediente eram reiterados. Várias vezes tivemos que elaborar documento intitulado "ofícios pendentes" para que o Diretor-Geral pudesse dar conta. Sem se falar que muitos desses ofícios sumiam e precisavam ser reenviados;
Em março, percebi que o caminho seria difícil, Marília não me recebia. Escrevi uma carta buscando diálogo. Não obtive resposta. Soube, por ela, no dia da minha exoneração, que deveria ter sido exonerado logo quando enviei a tal carta. Nestes longos onze meses, procurei: Rui Costa, Secretario de Relações Institucionais - diversas vezes; Eva Maria, Secretaria da Casa Civil - uma vez; Secretários de Estado - várias vezes; e, mais recentemente, o Governador. Todas as investidas foram improdutivas.
Enquanto isso passei a receber mensagens eletrônicas e telefonemas de Cristina Santos com nítido conteúdo jocoso e discriminatório. Falava aos berros e com a devida sumidade de quem sabia melhor do que eu sobre a vida pública. Relatórios eram pedidos para serem respondidos em horas. Reuniões eram convocadas de um dia para outro. Documentos eram boicotados, vide os projetos do Pronasci, assinados recentemente com o Ministro Tarso Genro. Projetos do PROCON-BA - Pronasci, Violência e Consumo, Discriminação e Consumo - foram inexplicavelmente, deixados de lado. Nunca obtive apoio da Secretária ou de sua assessora especial, responsável por "acompanhar" as ações do PROCON-BA.
Fui ao Congresso Nacional de Defesa do Consumidor em outubro. Ganhei uma placa em homenagem aos êxitos do PROCON-BA. Entre eles, as experiências com Quilombos e serviços públicos essenciais na Região de Seabra. Voltei eufórico. Quem sabe a Secretária valorizaria nosso trabalho. Qual nada! Além de não haver tal reconhecimento, as coisas ficaram piores...
As reuniões do Conselho do Fundo Gestor, setor que arrecada as multas aplicadas pelo PROCON-BA, eram permeadas de chacotas, autoritarismo e insinuações quanto à probidade do seu presidente, no caso eu. As demais conselheiras e conselheiros reprovavam as atitudes de Cristiana Santos, representante da Secretária no Conselho, em razão de seu caráter arrogante e autoritário;
A exoneração do Sr. Jaime Dórea, um senhor de 75 anos, para o qual propus a substituição logo quando entrei no Procon, foi suspensa a pedido de Marília. Logo depois, Sr. Jaime passou a contestar o modo grosseiro e estúpido de Cristiana Santos solicitar documentos. Teve o meu apoio. Foi exonerado por telefone, no dia 23 de novembro. Em seu lugar, sem nenhuma consulta sobre minha aprovação, foi indicada compulsoriamente, Rúbia Aragão. Questionei a ilegalidade do ato. A lei que trata do fundo concede ao presidente do conselho (eu) a prerrogativa de nomear e destituir o Secretario Executivo do Fundo; Essa foi, segundo Marília, a gota d´água. Fui exonerado com a frase: "não preciso mais de seus serviços".
Perguntei sobre a causa de minha exoneração. A resposta foi um lacônico e cheio de significados: "estilos diferentes". E já que minha indicação não era uma indicação política, o cargo era dela. Marília ainda recomendou negociar a causa de meu afastamento: poderíamos dizer que foi por causa de sua saúde! Ao final conduziu-me até porta e disse-me boa-tarde.
Sei de diversas tensões dentro do governo. Será que a minha foi a pior? A mais intolerável? A mais impossível de ser superada? É, acho que sim.
Fui o anti-herói. Não sabia que não podia falar com o Movimento Negro baiano, que precisava pentear os cabelos, que tinha que obedecer cabisbaixo a Cristiana Santos, que não podia expressar minhas opiniões, que não podia colocar negros no PROCON-BA, que não podia impor-me como um intelectual negro e que não podia apresentar um relatório positivo ao Governador. Por enquanto, a imprensa indaga-me porque saí. . . E a nota pública, produzida pela SJCDH, publicada no jornal A Tarde, no dia 12 de dezembro, me colocava como uma indicação política de Luiz Alberto, leia-se incapaz; em detrimento da filha dileta do PSDB que era uma indicação técnica, leia-se, capacitada;
Sou servidor público, lotado na Secretaria de Educação, há 14 anos. Volto para sala de aula. Porque sei que o negro que tem autonomia intelectual e que não assume uma postura de bajulador tem que acertar mil vezes, senão morre como incapaz e inadequado.
Como, até agora, não fui informado pelo Governador, ou por seus prepostos diretos qual a razão de minha saída sumária do governo, resta constatar que todos estes atos tiveram um significado claro de assédio moral. Em se tratando de um homem negro, que nunca baixou a cabeça como um cordeiro domesticado, nem se dobrou aos famosos e intempestivos arroubos autoritários de Marilia Murici, fui vítima de um racismo institucional, perverso e trágico, que nunca será assumido, mas que em seus travesseiros à noite, à sombra de suas mazelas, Marília Murici sucumbirá às verdadeiras razões do porquê Sérgio São Bernardo deixou o PROCON-BA. A diferença nunca é a mesma para aqueles que nos querem iguais. E que viva a Justiça, a Cidadania e os Direitos Humanos!!!! Augusto Sérgio São Bernardo (Serginho São Bernardo)

Anônimo disse...

24/12/2007 - 11:11
CARTA ABERTA DE MILITANTE EXIGE EXPLICAÇÕES DA SECRETÁRIA MURICI



Carta aberta ao Companheiro Serginho:

No dia 18 de dezembro, soube, por meio de uma carta aberta, dos motivos da demissão do Superintendente Estadual do PROCON - BA, o advogado e mestre em direito Augusto Sérgio São Bernardo.

Foi com perplexidade, tristeza e preocupação que soube da grave perda para o Governo Wagner e, sobretudo, para os movimentos sociais baianos.

Segundo a Carta, assinada pelo próprio Serginho, a demissão é o ato final de um amplo processo de assédio moral, racismo institucional e autoritarismo que se estabeleceu nos interiores da Secretaria de Cidadania, Justiça e Direitos Humanos.

O relato do Companheiro Sergio São Bernardo provocou em mim muita reflexão e, por isso, resolvi escrever essa carta de solidariedade e problematização.

Conheci Serginho ainda quando ele, em Brasília, era Assessor de Relações Raciais do Partido dos Trabalhadores e estudante do Mestrado em Direito da UNB. Sei das suas formulações corajosas, da sua importância para a organização do Núcleo de Parlamentares Negros(as) do Partido e de sua permanente ação no sentido de fazer relacionar as demandas do movimento social com as estratégias da bancada do Partido.
Em seguida, no ano de 2006, voltei a encontrar com o companheiro Sérgio São Bernardo quando li a sua ousada tese de mestrado discutindo a questão da identidade racial e o direito a diferença, um dos mais valorosos trabalhos sobre a questão racial e a filosofia do direito dos últimos anos na sociedade acadêmica no Brasil.

Uma colaboração militante feita a partir de um ponto de vista negro revolucionário. No mesmo ano de 2006 estive com Serginho fazendo dois grandes processos de mobilização: 1) discutindo a questão da implantação da política de cotas na UEFS, 2) fazendo os debates da campanha do nosso candidato comum a Dep. Federal, Luiz Alberto. Nas duas oportunidades pude, mais uma vez, constatar a competência, a disciplina e a militância do Camarada Sérgio.

Na campanha de Wagner para Governador ele era uma grande referência em várias áreas da discussão no PT, falava da questão racial, da segurança pública e dos direitos humanos.

Em todo o tempo, Sergio era uma referência para o debate dessas questões em toda a campanha e, por isso, era natural que a sua militância, sua qualificada formação, o seu empenho na formulação da proposta do Governo e a sua aguerrida participação nas eleições proporcionais (na campanha de Luiz Alberto) e na majoritária (de Lula e de Wagner) faziam-nos crer que, certamente, ele iria ocupar um cargo no Governo. E

m janeiro, foi anunciada a participação de Serginho como Superintendente do PROCON. O tempo passou e o que eu ouvia era sempre muito elogioso acerca do trabalho novo do PROCON Bahia. Ouvia falar da nova lógica de gestão, das viagens de Sérgio pelo estado apresentando a nova proposta, das reiteradas mudanças para ações preventivas e etc... para nós, tudo estava muito bem até o dia 11 quando fui informado (pela imprensa) da demissão.

Durante todo esse período falei com Sérgio São Bernardo poucas vezes, no máximo trocamos uns cinco ou seis e-mails e uma ou duas ligações, não nos vimos entre janeiro e dezembro de 2007, mas, a distância acompanhava o êxito de suas ações.

Tentei por algumas vezes convidá-lo para atividades na UEFS, mas, as tarefas do PROCON não lhe permitiram agenda e o convite ficou para outro momento. Nessa hora, em que me assusto com a notícia da demissão e com as graves denuncias que Sérgio São Bernardo enuncia não posso, como militante do movimento negro, como estudante, como militante do Partido dos Trabalhadores e mesmo como cidadão, furtar-me a algumas reflexões sobre esse famigerado episódio.

Desde que soube do ocorrido tentei entrar em contato com inúmeras pessoas. Falei com companheiros de Partido, com parlamentares, com militantes do movimento social e mesmo com Secretários de Estado e integrantes do Governo e, de maneira unânime, ouvi falas assombradas com o ocorrido e preocupadas com o que isso representa.

O Governo Wagner representou o sonho de muitas gerações. Foi o desejo reprimido da sociedade baiana por mudanças, por interlocução, por decência, por participação e por cidadania. Nos textos da campanha, nos sorrisos dos militantes, nas falas da propaganda de TV, enfim, na sociedade baiana, o que imperava era o desejo profundo de sepultar o carlismo e fazer nascer um novo jeito e cultura política no Estado. É para isso que o PT foi eleito e a equipe foi montada.

Não conheço a Sr.ª Marília Muricy. Alguns amigos próximos falam muito bem dela, a vi apenas em duas ou três ocasiões e a ela fui apresentado num ato na Governadoria em certa feita, mas, nada de muito próximo.

Recentemente a ouvi falar na abertura da Conferência Estadual de Cultura (um evento bonito mas cheio de gafes e imprecisões) e confesso que gostei da fala e da abordagem que ela fez, porém, nada mais que isso. O que sei sobre ela é que fora pinçada dos quadros da faculdade de Direito da UFBA e que tem alguma relação com o movimento de direitos humanos no Estado e, por isso, fora entendida como alguém capaz de colaborar com a luta política do Governo e construir uma política de justiça, cidadania e direitos humanos a altura dos desafios ora colocados.

Assim, não posso sobre ela tecer grandes comentários apenas pedir-lhe esclarecimentos. Fico pensando no que pode estar acontecendo internamente no Governo para gerar essa "derrubada de lideranças por estilos diferentes".

Sei que o PROCON vinha construindo o "estilo" que um Governo de Esquerda deveria ter. Vinha desenvolvendo ações compreendendo o sentido amplo dos direitos humanos, vinha articulando as políticas sociais de maneira intesetorial, vinha garantindo direitos e fortalecendo estratégias de emancipação. Cabe perguntar qual é o "estilo" de Governo que "destoa".

O Movimento Negro baiano, e, em especial, os militantes negros(as) do PT e do Governo precisam pensar muito sobre esse episódio.

É preciso denunciar que perdemos um parceiro no Governo, que perdemos um canal de interlocução, que perdemos um companheiro cuja visão de mundo se confunde com o acúmulo de uma juventude negra comprometida com seus valores e práticas ancestrais.

Com a saída de Sérgio, o Governo da Bahia perde um militante radical, sempre coerente com as suas posições, com um promissor futuro acadêmico e com valorosa contribuição para o movimento e para o Partido.

O que está colocado nesse momento, mais do que encontrar culpados, é refletir as conseqüência e avaliar que é preciso dar um basta nesse processo, antes que ele tome proporções maiores. Se permitirmos que, impunemente, representantes tão valorosos da nossa luta saiam do Governo, acabaremos derrotados em todos os nossos projetos de libertação.

O Governador, o Secretário de Relações Institucionais, bem como a Secretária de Cidadania, Justiça e Direitos Humanos, precisam vir à público apresentarem a sua versão dos fatos.

Tratam-se de denúncias graves e que atentam contra aquilo que o PT formulou historicamente. Espero, com o mais sincero e profundo do meu coração, que haja nisso tudo algum ganho profundo para o PT, o Governo e o movimento social baiano. Não posso sucumbir à descrença, à loucura ou ao ceticismo.

Continuo a acreditar na luta, na vida, nas pessoas e nos projetos e reafirmo as minhas convicções de que é possível fazer um Governo diferente, mas tenho certeza de que é preciso mudar. É preciso rever formas e concepções e, para isso, não podemos permitir baixas tão significativas em nosso, já tão pequeno, pelotão de lutas. Temos que resguardar os que são da militância.

Desejo ao companheiro Sérgio todo o axé nesse momento. Espero que o debate do PT e do Governo sejam qualificados e, desde já, anuncio a minha total disposição para fazer, se necessário for, o debate na defesa daquilo pelo qual eu, Serginho e todos nós militantes negros sempre lutamos. Sei que o companheiro Sérgio não precisa de apoio ou de abrigo.

É competente, não está no Governo por cabide de emprego e nem tão pouco precisa de procuradores e/ou advogados, pois sabe sozinho se defender. A nós, que acreditamos na luta, resta a pressão e a espera por respostas convincentes pois só é escravo quem tem medo de morrer!

Atenciosamente, Felipe da Silva Freitas Militante do Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UEFS, voluntário da Cáritas Arquidiocesana e filiado ao Diretório Municipal do PT de Feira de Santana

Anônimo disse...

‘A segurança é um problema mesmo’


pingue-pongue Jaques Wagner
Há um ano à frente dos destinos do estado, o governador Jaques Wagner (PT) ainda não encontrou a fórmula certa para equacionar os problemas na área de segurança pública. Pela primeira vez, ele admitiu publicamente que há problemas no setor. Na última sexta-feira, durante quase duas horas, em que almoçou com jornalistas na Governadoria e conversou com o Correio da Bahia, o governador prometeu investir mais recursos para a segurança pública, através da aquisição de novos equipamentos e treinamento de policiais. “Falta carro, equipamento e gente”, admitiu. Sobre a superlotação carcerária e o sistema prisional do estado, Jaques Wagner criticou o sistema atual e prometeu instalar dez centrais de aplicação de penas alternativas, em parceria com o poder Judiciário, para diminuir a crise na Bahia. Descontraído, ele falou ainda de sucessão municipal em Salvador, apostando que o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) será um nome forte no páreo, e esclarecendo que, apesar de aliado, o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB) não é o seu candidato. Wagner destacou ainda a boa relação com o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o esfacelamento do PT, gerado a partir da disputa interna pelo poder. O governador também descartou, no momento, qualquer possibilidade de troca de secretário, embora saiba que Geraldo Simões, que comanda a pasta da Agricultura, pretende ser candidato a prefeito de Itabuna. Confira abaixo a entrevista.


***


Osvaldo Lyra


Correio da Bahia - Qual a análise que o senhor faz sobre o primeiro ano de seu governo?
Jaques Wagner - Minha análise é positiva. Todo o primeiro ano de governo é sempre um ano de adaptação, o ano de governar com o orçamento dos outros, com os defeitos que os outros deixaram, com as dívidas. É evidente que existem dificuldades para o governo que vem substituir um grupo que passou 16 anos no poder, cuja máquina estava doutrinada a caminhar numa direção. Nossa maneira de governar é completamente diferente, ou quase antagônica à deles. No primeiro semestre foi mais difícil, pois tivemos alguns problemas, mas no segundo já começamos a colher frutos em várias áreas, como saúde, educação, segurança pública, que recebeu mais investimentos. Portanto, a minha avaliação é positiva.


CB - Mesmo o senhor tendo sido avaliado como um dos piores governadores do país, tendo ficado em 7º na última sondagem do Datafolha?


JW - Olha bem, poder ser melhor, sempre pode, mas quando você analisa aquela enquete da Folha (Datafolha) percebe que a diferença do primeiro para o último colocado foi muito pequena, o que mostra que tem uma zona cinzenta, que é avaliação dos governos. A melhor nota foi entre 7,5 e 7,7. Eu fiquei em sétimo, com nota 6,0. Então, sinceramente, fico tranqüilo. Ou melhor, plenamente tranqüilo ninguém fica, já que você sempre busca um desafio novo, querendo fazer mais. Apesar de tudo, eu considero que foi um ano positivo, com a equipe que teve altos e baixos, mas acho que respondeu. Mesmo assim, temos que melhorar a máquina para responder com mais rapidez e eficiência em 2008.


CB - Os índices de criminalidade crescem a cada dia. O que a população pode esperar do governo na área de segurança pública?


JW - A área de segurança é um problema mesmo. Apesar disso, estamos investindo. A população pode esperar mais atenção, trabalho e investimentos. Estamos dentro de um conceito repassado pelo governo federal, baseado no mote segurança e cidadania, vamos encaixar os presídios de Barreiras, de Vitória da Conquista, além do Complexo de Salvador, vamos disponibilizar mais dinheiro para serem comprados novos equipamentos, convocar e treinar mais soldados para termos mais presença policial nas ruas. A parte de inteligência da polícia, na minha visão, não tem problemas, ela está bem montada, já que tinha muita coisa e nós ainda investimos mais. Essa ala não é nosso problema. O policiamento presencicial, até pela carência de carro, equipamentos e gente, tem que ser aumentado. Tem umas coisas que são incríveis. Quando uma viatura da polícia sai daqui de Salvador, passa pela Polícia Federal em Simões Filho, perde totalmente a comunicação com a central. Qualquer contato só é feito através de celular. Isso é um absurdo. Foi comprado na gestão passada aquele sistema Expansion, mas não foi instalado. Agora vamos investir R$3,5 milhões e colocá-lo em prática, otimizando os trabalhos das polícias. Na Polícia Civil, não temos problema de falta de delegados, mas nos faltam mais agentes, que fazem os serviços iniciais. Então a sociedade pode esperar que a segurança nas ruas vai melhorar.


CB - E o que fazer com a superlotação carcerária e o sistema prisional do estado?


JW – A gente tem um problema que é o preso transitório, que não tem lugar para ficar. Ele deveria estar na delegacia enquanto investigado, no presídio depois de condenado, mas nesse meio tempo, enquanto o processo não é julgado, não tem onde ficar, já que nem a delegacia nem a penitenciária são os lugares corretos. Precisamos criar uma instituição que abrigue uma situação intermediária. Estamos instalando dez centrais de aplicação de penas alternativas, em parceria com o poder Judiciário, para encontrar soluções para esse problema e diminuir até mesmo os custos para o estado, já que existem exemplos como de uma senhora que roubou R$150 em Xique-Xique e está há um ano e meio presa. Isso é um absurdo. Nós já colocamos para andar cerca de 800 processos que estavam parados, de pessoas detidas. E vamos continuar fazendo esse trabalho.


CB - Foi criado este ano um fórum de discussão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para debater os problemas da sociedade. O primeiro tema foi segurança pública. Já se tem algum resultado concreto ou ainda está na fase de mera conversação?


JW - Tivemos sim. Uma das coisas que surgiu dessa parceria com o Judiciário, por exemplo, foi o início dos trabalhos de otimização dos processos. A idéia da Agenda Bahia era justamente criar esse cenário harmônico entre os poderes, de compartilhamento de responsabilidades. Estamos andando e vamos avançar ainda mais.


CB - Na área da educação, a greve dos professores comprometeu o ano letivo e o aprendizado dos alunos?


JW - Não comprometeu. Até porque há o compromisso de cumprir a carga horária e as matérias do ano até janeiro. Evidentemente é ruim, pois 54 dias corridos, paralisados, sendo 38 ou 40 de aulas perdidas, sempre prejudicam. Mas acabamos de sair da Conferência de Educação Básica, que foi um ponto alto na reflexão sobre a educação, o que nos dá a expectativa de termos um ano novo muito melhor.


CB - O senhor tem feito críticas a governos passados, mas tem mantido programas deixados pelas últimas gestões. Os deputados do Democratas, na Assembléia, dizem que o governo quer desestruturar tudo que existia para depois surgir com um novo modelo. Isso realmente existe?


JW - Isso não existe, quem me conhece sabe. Eu posso listar um sem-número de obras que foram começadas no governo passado e estão tendo continuidade. Muitos prefeitos até se surpreendem quando a gente conclui a obra, independente do partido, se o prefeito é do PT, PMDB, DEM, PP ou PR. Minha cabeça não funciona assim. Eu aprendi a governar ao lado do presidente Lula e acho que a hora da disputa eleitoral é uma coisa e a hora de governar é outra. Portanto, eu desafio a me mostrarem o que é que eu estou desmontando. Agora, o que estava ruim, como acontecia na contratação superfaturada dos serviços de mão-de-obra terceirizada, é evidente que eu estou suspendendo. A regra é a seguinte: o que for bom a gente melhora. O que é ruim a gente conserta. O que não presta, agente troca. E o que realmente não presta, nós já estamos trocando.


CB - A oposição diz que há inchaço da máquina pública, o que tem gerado dificuldades para o estado. Existe a previsão de acontecer alguma reforma administrativa em janeiro?


JW - Não, não vai. Não existe nenhuma previsão de reforma ou troca no secretariado. É lógico que depois de um ano você faz uma avaliação e se alguém não tiver atingido o êxito exigido, você substitui, já que eu tenho a liberdade de tirar ou colocar as pessoas do secretariado. Mas a minha avaliação nesse momento é positiva e por enquanto ninguém estaria nesse contexto.


CB - E há previsão de algum dos secretários sair para assumir uma campanha nas eleições municipais do próximo ano?


JW - O único que sinalizou até agora foi o Geraldo (Simões, secretário de Agricultura). Ele é o único que disse que pretende ser candidato em Itabuna. Mas isso vai ser conduzido de forma tranqüila. Até porque, quando eu convidei as pessoas para fazer parte do governo não fiz nenhuma exigência.


CB - O senhor acredita que a bancada de governo está desestruturada na Assembléia? Precisaria de uma tropa de choque maior para blindá-lo dos ataques da oposição?


JW - Não acho que exista tanto desgaste assim não, pelo menos sob a óptica da população. Óbvio que teve dssgaste porque nós enfrentamos a greve dos professores, a maré vermelha, a queda de parte da Fonte Nova, que foi uma coisa dura, o motim no presídio. Portanto, alguns problemas sérios que precisariam ser enfrentados de forma eficiente. Acredito que a bancada é uma bancada boa, bem estruturada, que aprovou tudo que agente precisava. São 49 deputados. É claro que o vício do cachimbo deixa a boca torta. Então, quem era a vida inteira oposição fica com um pouco de dor, precisando fazer fisioterapia, para curar a bursite no braço, devido ao fato de terem jogado tanta pedra. Então, agora têm que trocar, passar a fazer exercício para as costas, para agüentar apanhar. Tem ainda o entrosamento de culturas, com muita gente que chegou para ser base de sustentação do governo. Então, eu acho que as condições foram boas, que o líder do governo, o deputado Waldenor Pereira (do PT, líder do governo na Assembléia) correspondeu com o desafio, mas é óbvio que a bancada de situação pode funcionar melhor na Assembléia, mais afinada, com mais informação.


CB - Sucessão municipal em Salvador e nas principais cidades do interior. Existem candidatos preferenciais sob a ótica do governador?


JW - Eu não sou o mais indicado a falar de candidaturas preferenciais ou imbatíveis. Até porque, a minha era totalmente batível e agente acabou ganhando a eleição. Eleição para mim tem que ser tratada com muito mais cuidado do que tratam. Estamos a dez meses da eleição e qualquer estudioso de pesquisa sabe que o processo de definição na cabeça do eleitorado só começa a 45 dias do processo e se precipita, de verdade, a 20 dias da eleição. É só olhar o que aconteceu comigo. Então eu acho que toda futurologia é passível de falhas. Em Salvador, por exemplo, a eleição está nitidamente embolada, as ações do prefeito vão começar a repercutir e, como todo candidato que está sentado na cadeira, fica em vantagem.


CB - Então quem é o candidato preferencial do senhor? É o ex-prefeito Antonio Imbassahy, do PSDB?


JW - Como eu disse em São Paulo, no cenário atual da política baiana, o ex-prefeito Antonio Imbassahy é meu aliado, faz parte de minha base de sustentação, com três deputados estaduais e o presidente da Assembléia Legislativa. Se você perguntar quem foi o fundamental na eleição de 2006, eu vou responder que foram todos os integrantes da base. Ele é o meu candidato? Não. Agora não é um candidato adversário. E o que eu disse em São Paulo foi justamente isso: ele é um candidato forte dentro de minha base. O resto, foi de responsabilidade de vocês, da imprensa (risos).


CB - O crescimento do PMDB tem preocupado setores do PT, sob a alegação de que esse “inchaço” seria uma ameaça para o partido em 2008. Isso tem prejudicado a relação do senhor com o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional)?


JW - Eu não tenho nenhum problema de relacionamento com o ministro. É evidente que o PMDB contribuiu muito com a nossa eleição, por ser um partido grande, que me deu um vice, tempo de televisão, mas não preocupa. A minha relação com o Geddel, desde o tempo em que éramos deputados federais ou quando eu estava no ministério, é muito boa. Sempre defendi junto ao presidente Lula que tivéssemos uma relação institucional com o PMDB. Coisa que não acontecia. Por isso eu vou insistir: não tem nenhum ingênuo aqui, nem nenhum hipócrita, senão, não chegaria a sentar nessa cadeira. Você sabe que o acordo local foi fruto de um processo nacional, em que o Geddel colaborou muito. Eu acredito nisso. Você vai trabalhando dentro daquilo que você prega e vai fazendo as pessoas chegarem. Isso aqui para mim é trabalho de equipe, em que vai plantando e colhendo os louros. Eu ajudei o Geddel a ser ministro, ajudei. Mas ele também me ajudou a chegar aqui. Agora, meus problemas com ele são zero. Já tenho que administrar uma relação com 12 partidos, o que é complicado. Há sempre ciúmes dos outros. É sempre um pepino para mim.


CB - O PT está esfacelado depois de todos os desgastes com o processo de eleição interna?


JW - Eu tenho que admitir que fico muito triste, como fundador e primeiro presidente do partido, em ver tudo que está acontecendo nesse processo eleitoral, principalmente por estamos no comando do governo do estado. Isso obrigatoriamente impõe aos dirigentes e militantes do PT um patamar de responsabilidade muito maior. A população demonstrou confiança no governador Jaques Wagner, mas no PT também, através da vinculação entre os projetos do presidente Lula com os nossos. Lógico que isso não provoca impacto diretamente em meu governo, já que ele é formado por um leque de 12 partidos, mas é complicado. Sei que a riqueza do PT é essa diversidade, essa pluralidade. Mas a pobreza do partido é não saber tratar com ela.

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