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quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Paço Municipal novo em folha

Paço Municipal Maria Quitéria será reaberto nesta quinta-feira, depois de restauração
Foto: ACM/Secom
Por Batista Cruz, da Secretaria de
Comunicação Social


O prédio da Prefeitura de Feira de Santana voltou a ter a imponência de há 81 anos, quando foi inaugurado. Em 1926, os feirenses foram às ruas para comemorar a inauguração. Nesta quinta-feira, 27 de dezembro, eles voltarão a ocupar as avenidas Senhor dos Passos e Getúlio Vargas para festejar a mais profunda restauração do Paço Municipal Maria Quitéria, nome oficial do prédio, em oito décadas.
As 64 portas e janelas do prédio, que adotou vários estilos arquitetônicos, bem comum à época, serão abertas na tarde para a visitação pública. Os recursos aplicados na restauração foram próprios do Tesouro Municipal. Tudo, em todos os ambientes, voltou ao que era antes - isto em termos arquitetônicos. Toda imponência do octagenário prédio foi recuperada.
"Tudo que foi feito prepara o prédio para mais, no mínimo, dez décadas", disse o secretário vice-prefeito e secretário de Transportes e Trânsito, Antônio Carlos Borges Júnior. "Tudo foi devidamente planejado para deixar o prédio mais próximo do original possível. E foi feito, como vemos nos resultados", considerou.
As cores são as mais próximas da primeira demão de tinta - a cor interna se aproxima da areia e da palha. Chegou-se à tonalidade à base de sondagens. Várias camadas de tinta foram aplicadas nas paredes quase seculares. Todas intervenções foram feitas com aval do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac). O prédio é tombado pelo órgão.
Tudo feito conforme a planta original - o projeto arquitetônico foi do engenheiro Accioly Ferreira, que também foi responsável pela construção. O prédio foi construído entre 1921 e 1926, durantes as intendências de Bernardino Bahia e Arnold Silva. Em oito décadas passou por pequenas reformas e pinturas gerais.
As pinturas murais que existem nos tetos do hall principal, no Salão Nobre e no corredor paralelo ao Salão Nobre, ganharam as cores originais. E sua estrutura foi consolidada. Não mais existe o perigo de desabamento. Os técnicos descobriram, sob camadas de tinta, a técnica de pintura conhecida como escaiola, que dá aspecto marmorizado, em alguns pontos do prédio. Todos foram devidamente recuperados.
Os forros do hall principal, do Salão Nobre e do corredor, onde existem as pinturas murais, foi feito em estuque, que é uma argamassa para revestimento à base de cal e areia. Toda pintura, que foi feita à mão, foi recuperada. Ganharam o frescor e a beleza originais.
As pinturas parientais, aqueles desenhos que ficam na parte superior das paredes, foram resgatados. Todos voltaram às formas originais - a arte decorativa comum no período a construção do prédio tem exemplos fitomorfos. Uma das exigências do Ipac foi que as pinturas ficassem à mostra. Por isso, as divisórias foram colocadas à meia altura. A reforma durou cerca de 18 meses.
"O que foi feito foi com os olhos voltados para o passado, focado no presente e mirando no futuro", afirmou o secretário de Planejamento, Carlos Brito. "A recuperação da Prefeitura é um marco em toda longa história de Feira de Santana. O centro da cidade está mais valorizado. Feira está mais valorizada com o seu palácio". disse.
Funcionarão na Prefeitura o gabinete do prefeito, a Secretaria de Planejamento - no primeiro andar, e a Secretaria de Comunicação Social, no anexo, onde funcionou a Junta de Serviço Militar. Antes, funcionavam no prédio a Secretaria de Administração, mais outros órgãos.
A Prefeitura, a Igreja Senhor dos Passos, o Mercado de Arte Popular (MAP), o casarão construído por João Pedreira - que foi sede do Fórum, Biblioteca, Câmara Municipal e sede da Intendência, formam um conjunto arquitetônico ímpar na cidade.

Tudo como era antes
Foi uma restauração do teto ao piso. O que não estava dentro das especificações técnicas foi trocado pela Serra Valle, empresa responsável pelo serviço - e de acordo com os técnicos do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac). O serviço foi dos mais minuciosos. A meta era se aproximar ao máximo de 1926, quando o prédio foi pomposamente inaugurado.
O teto foi trocado. As telhas são intercravejadas, nas duas pontas, de forma a prevenir o deslocamento. Elas também foram presas com um fio de inox às ripas. A prevenção se justifica. Em grande parte o telhado tem 45°. Sob as telhas foi colocada uma manta de polipropileno, importada dos Estados Unidos, que não permite a passagem de água às paredes, caso a estrutura colocada acima apresente algum problema. A água é escorrida diretamente às calhas.
A prevenção tem sua justificativa. As paredes da prefeitura foram feitas com uma liga à base de cal. A água caindo sobre elas causa prejuízos. Facilitam a proliferação de fungos e de cupins. O problema foi constatado em praticamente toda cobertura. O forro, que é de madeira, foi trocado, bem como 65% das esquadrias.
O assoalho também foi trocado. Algumas partes do porão receberam reforços. A escada do hall principal, que é de escaiola, passou por reforma e reforço em parte da sua estrutura metálica, que estava oxidada. Os corrimãos e degraus passaram por uma limpeza química que possibilitou a volta das cores originais.
As redes hidráulica e elétrica foram substituídas. Dentro dos conceitos atuais de acessibilidade, a prefeitura vai contar com um elevador. As cadeiras de rodas entrarão no prédio por uma plataforma colocada no portão da avenida Senhor dos Passos. Tudo foi feito de acordo entendimento com técnicos do Ipac, que acompanharam todo processo de restauração. "Foram usados os melhores materiais, tudo com base nas mais modernas técnicas de restauração", afirmou Carlos Brito.

De volta ao passado
Ao olhar o prédio reformado da Prefeitura de Feira de Santana, José Vidal dos Santos, mais conhecido como Zelito, diz que regride algumas décadas. Afirma que tem guardado nos escaninhos da sua memória fatos e imagens de há 70 anos. Dez anos depois da inauguração do Paço Municipal Maria Quitéria.
"Está mais bonita do que no passado", atesta Zelito, do alto dos seus 80 anos de vida. Na avaliação dele, as cores se aproximaram das originais. "Estava muito triste. Agora está alegre".
O guarda municipal Rudival Garcia Souza sentencia: "A Prefeitura é o nosso mais bonito cartão postal". Disse que chegou a Feira há mais de meio século e que nunca vira uma reforma tão profunda. "O prédio ficou à altura da importância do município - e vice-versa".
Artista plástico e arquiteto, Gil Mário disse que há meio século vê o prédio se degradar. É um espectador privilegiado. Sempre morou vizinho à Prefeitura. "O estilo eclético voltou a ganhar todas suas formas. Agora, podemos dizer que a Princesa do Sertão tem seu palácio. E que palácio!".
Ele salientou que o prédio passou por várias reformas e pinturas gerais. "Mas nenhuma outra com a finalidade de restaurar, não de recuperar. Todo serviço foi concebido e executado para deixar o prédio novo e preparado para os desafios futuros".
Estudioso da geografia e história locais, Joaquim Gouveia da Gama, que chegou em Feira de Santana em 1949 - veio de Caruaru -, disse que o serviço é mais profundo do que se imagina. "Digo, sem medo de exagerar, que a restauração revitalizou todo centro da cidade, porque a preservação de parte da memória arquitetônica da cidade está preservada".

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