Por Reinaldo Azevedo
Que coisa! O governo fez de tudo para impedir a CPI da Petrobras.
No Senado, já esta protocolada. Então a tática agora é partir para a retaliação
e o terrorismo. Os porta-vozes da ameaça são o deputado Vicentinho (SP) e a
senadora Gleisi Hoffmann (PR), em quem eu até reconhecia certas virtudes da
convicção ao menos, mas que está se transformando bem depressa numa caricatura.
Lembra os piores tempos de Ideli Salvatti, porém saída de uma outra fôrma.
Depois de uma reunião no Palácio do Planalto, o habitualmente moderado e
cordato Vicentinho não teve dúvida: se é para fazer a CPI da Petrobras, então o
PT tentará incluir no requerimento a investigação do suposto cartel de trens em
São Paulo, a Cemig de Minas e o Porto de Suape em Pernambuco. Objetivo: tentar
atingir o PSDB e os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos.
Alguém quis saber o que se deve investigar em
Suape, por exemplo, e o deputado petista não poderia ter sido mais eloquente: "Eu ainda não sei". É espantoso! Vicentinho, formado em Direito, pertence
àquela escola que acha que se deve abrir uma investigação para achar alguma
coisa desde que seja contra o inimigo. Não me surpreende. A esquerda entende
que a função do estado é precisamente esta: perseguir seus inimigos.
O nome disso é pistolagem política. O deputado
disse que a ideia saltou da sua cabeça. É, obviamente, mentira. Tanto que, num
outro canto, Gleisi Hoffmann não escondia a intenção de recorrer a um truque
dos mais asquerosos. É simplesmente irregular fazer um adendo ao requerimento
da CPI da Petrobras com esses outros temas, que não são nem mesmo conexos. O
que os trens de São Paulo têm a ver com o porto de Pernambuco ou com a Cemig?
Resposta óbvia: nada! E Gleisi sabe disso. Mas ela explicou a malandragem.
Disse que poderia alegar prejuízo de recursos federais. Bem, se é assim, por
que não incluir, então, os descalabros da Copa, senadora?
O governo pode querer fazer CPI sobre esses temas?
Pode. Mas terá de apresentar um requerimento específico. A pergunta óbvia é por
que não fez isso antes. O que vai embutido nessa forma delinquente de fazer
política? Tomemos o caso de Pernambuco: se Eduardo Campos estivesse, mais uma
vez, fechado com a candidatura do PT, é evidente que os petistas não ameaçariam
investigar o porto de Suape. Moral da história da companheirada: os inimigos, a
gente investiga e persegue; os amigos, a gente preserva. Quanto aos trens de
São Paulo, dizer o quê? Duvido que uma CPI pudesse ser mais politizada do que
já tem sido o Cade, por exemplo, sob a gestão do PT.
Como se dissesse a coisa mais óbvia do mundo,
Gleisi, pré-candidata do PT ao governo do Paraná, disfarça o cinismo com seu ar
severo: "Eles estão politizando, aproveitando um momento eleitoral. Tem que ter
coerência. Se eu sugiro investigação política para algo que já tem
investigações técnicas, como é o caso da Petrobras, por que fazer só para um
tema e não para o outro?".
A resposta é simples, senadora! Uma CPI não é um
instrumento de chantagem. Se a senhora achava que era o caso de fazer uma ou
mais comissões para todos esses casos, tinha como articular a investigação como
chefe da Casa Civil. Indecente é que venha agora com ameaças para impedir que o
Parlamento investigue a Petrobras.
De resto, quem evidenciou a necessidade da CPI foi
a presidente Dilma Rousseff, ao afirmar que o conselho da Petrobras tomou a
decisão sobre a refinaria de Pasadena sem conhecer as condições do contrato.
Quem arrematou a urgência foi Graça Foster ao afirmar que a direção da empresa
desconhecia a existência de um comitê de proprietários na refinaria de
Pasadena, embora ele estivesse previsto num dos primeiros itens do contrato.
Pergunto, ademais, à senadora Gleisi se ela aceita
incluir no relatório os contratos da Siemens com a Eletrobras, por exemplo, já
que a empresa é uma das maiores fornecedoras da estatal. Será que, no setor
elétrico, a gigante recorre a práticas muito distintas daqueles da área de
transporte? Escolhido o seu método, onde houver dinheiro federal, cabe uma
investigação.
E arremato assim: digamos que a oposição recue diante
das ameaças de Gleisi e Vicentinho. Aí o PT certamente ficaria contente.
Afinal, seria como se todos eles se abraçassem, confessando que estão juntos
numa penca de falcatruas, contra o povo.
Essa é a moral profunda de suas ameaças, senadora!
Nem o governo Lula foi tão baixo. Mas se reconheça: sua equipe também não tinha
esse grau de ruindade. Dilma, no momento, é a incompetência com o orgulho
ferido. A mistura é sempre explosiva.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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