A inversão de valores
propagada pela mídia
revela um projeto incisivo de destruição da moral cristã
Os noticiários não falam de outra coisa. O
liberalismo sexual, no qual se inclui a causa gay, ganhou de vez as manchetes
dos principais jornais do país, numa avalanche que parece não ter mais freio. A
unanimidade da imprensa em decretar o novo padrão de moralidade é tão eloquente
que os mais desavisados sentem-se quase que impelidos a concordar com ele,
mesmo que a contragosto. Mas enganam-se aqueles que, ingenuamente, atribuem
essas movimentações ao curso natural da história. Trata-se, pelo
contrário, de uma agenda compacta, determinada e amplamente financiada, cuja
única meta é: minar os fundamentos da sociedade ocidental - o direito romano, a
filosofia grega e a moral judaico-cristã - e, em última análise, a natureza
humana.
Não é mais segredo para ninguém a hostilidade
com que inúmeras nações se referem ao cristianismo. Praticamente todos os
programas de governos atuais têm por política o combate aos últimos resquícios
de fé católica que ainda restam na sociedade. E essa agenda ideológica
encontra eco sobretudo nas Organizações das Nações Unidas,
logicamente, a mais interessada na chamada "Nova Ordem Mundial". Essa
perseguição sistemática à religião cristã e, mais especificamente à Igreja
Católica, se explica pelo fato de ela ser única a levantar a bandeira da lei
natural, que é a pedra no sapato dos interesses globalistas.
Em linhas gerais, o direito natural refere-se
ao que está inscrito no próprio ser da pessoa. Isso supõe uma ponte de acesso a
uma moral humana já pré-estabelecida, com direitos e deveres naturais, conforme
a ordem da criação. Não corresponde a um direito revelado, mas a uma verdade
originária do ser humano, que através da razão indica aquilo que é justo ou
não. Essa defesa do direito natural foi o grande diferencial do cristianismo em
relação às demais religiões no início do primeiro milênio, como assinala o papa emérito Bento XVI ao Parlamento Alemão, em um dos discursos mais importantes de
seu pontificado:
"Ao contrário doutras grandes religiões,
o cristianismo nunca impôs ao Estado e à sociedade um direito revelado, nunca
impôs um ordenamento jurídico derivado duma revelação. Mas apelou para a natureza
e a razão como verdadeiras fontes do direito; apelou para a harmonia entre
razão objectiva e subjectiva, mas uma harmonia que pressupõe serem as duas
esferas fundadas na Razão criadora de Deus", (Cf. Bento XVI ao Parlamento
Federal da Alemanha em 2011).
A partir do último meio século, ressalta o
Santo Padre, o direito natural passou a ser menosprezado, em grande parte,
devido à razão positivista. Passou-se a considerá-lo como "uma doutrina
católica bastante singular, sobre a qual não valeria a pena discutir fora do
âmbito católico, de tal modo que quase se tem vergonha mesmo só de mencionar o
termo". Com efeito, para o teórico positivista Hans Kelsen, a ética
deveria ser posta no âmbito do subjetivismo e, por conseguinte, o conceito de
justiça.
Criou-se, portanto, uma situação perigosa da
qual o próprio Kelsen foi vítima posteriormente, quando perseguido pelo regime
nazista por ser judeu. A justiça e a ética caíram no relativismo. Cada um
julga-se a si mesmo, julga-se o conhecedor do bem e do mal. E
"quando a lei natural e as responsabilidades que implica são negadas, -
alerta outra vez Bento XVI em uma catequese sobre Santo Tomás de Aquino -
abre-se dramaticamente o caminho para o relativismo ético no plano individual e
ao totalitarismo de Estado no plano político". Como condenar os
regimes nazistas, fascistas e comunistas por suas atrocidades se a justiça é um
conceito relativo a cada um?
A Igreja condena a perversidade do
relativismo justamente por essa falsa sensação de liberdade propagandeada por
ele. É a mesma liberdade oferecida pela serpente do Éden à Eva, a falsa beleza
que, na verdade, é escravidão. Quando exposta em termos claros e
diretos, a lei natural se torna evidente e com ela, todo o arcabouço que a
sustenta: o direito romano, a filosofia grega e a moral judaico-cristã.
A lei natural encontra apelo no ser humano justamente por ser verdade e estar
de acordo com a razão criadora, o Creator Spiritus. O Magistério
Católico é, neste sentido, um dos únicos baluartes da justiça e da dignidade da
pessoa humana, por falar quase que solitário em defesa da lei natural.
O trabalho da elite globalista - diga-se ONU,
imprensa, ONGs esquerdistas e etc - consiste, neste sentido, única e
exclusivamente na destruição desses pilares da lei natural. Assim, sepultam-na
numa espiral do silêncio, enquanto reproduzem na mídia uma moral totalmente
avessa e contrária à família. Desse modo, abrem espaço para a educação das
crianças pelo Estado conforme a cartilha ideológica que defendem. É um programa
totalmente voltado para a subversão e o controle comportamental que está sendo
colocado em prática, descaradamente, por países como Estados Unidos, França,
Suécia, Holanda e até mesmo o Brasil.
Neste momento, em que a Igreja vê-se atacada
por todos os lados e se joga com a vida humana como se fosse algo qualquer e
sem valor, urge o despertar de pessoas santas, imbuídas por uma verdadeira
paixão à Verdade. Todas as grandes crises pelas quais a Igreja passou
nos últimos séculos foram enfrentadas por santos de grande valor: São Luís
Maria Grignion de Montfort, São João Maria Vianney, Santa Catarina de Sena, São
Pio X... E essa crise atual requer a mesma fibra, o mesmo destemor e parresia
com os quais aqueles santos estavam dispostos a entregar suas vidas, suas
fortunas e até mesmo os seus nomes, sem medo da humilhação, firmes na
Providência Divina e na certeza de que no alvorecer do novo dia será de Deus a
última e definitiva palavra.
Fonte: Christo Nihil Praeponere
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