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quarta-feira, 10 de junho de 2009

"Por que a direita está se saindo tão bem na Europa?"

Por Anne Applebaum
Para começar, eles não gastam como marinheiros bêbados.
Nós esperamos e esperamos, mas a altamente prevista reação europeia - contra o capitalismo, o livre mercado e a direita - nunca ocorreu. Não há pedidos por uma revolução marxista, pedidos por uma nacionalização da indústria, nem mesmo uma campanha européia por aquilo que o governo Obama chama de "estímulo" - uma política mais coloquialmente conhecida como "enormes gastos do governo".
Pelo contrário, nas eleições parlamentares européias da semana passada, o capitalismo triunfou, pelo menos em sua forma adocicada européia. Reconhecidamente, estas eleições européias são uma espécie peculiar de eleição. Muito menos pessoas votam nelas do que nas eleições nacionais e aqueles que votam são ainda mais vagos sobre o que seus representantes europeus de fato fazem assim que são eleitos ao Parlamento Europeu. O acúmulo gradual de poder real pelo Parlamento Europeu parece não ter tido nenhum efeito sobre sua imagem popular, que ainda é a de uma instituição que não faz nada, composta por políticos em fim de carreira que custam a todos uma fortuna em passagens aéreas. Como resultado, partidos periféricos, incluindo a chamada extrema direita, sempre atraem os votos de protesto e se saem incomumente bem.
Todavia, as eleições ao Parlamento Europeu também fornecem o único retrato político continental simultâneo atualmente disponível. Apesar das eleições nacionais ocorrerem em momentos diferentes e segundo regras nacionais diferentes, estas eleições européias mais recentes, as maiores já realizadas, ocorreram em um período de quatro dias, segundo as mesmas regras, em 27 países. Desta vez, com algumas exceções, elas contaram uma história incomumente consistente.
Na França, Alemanha, Itália e Polônia - quatro dos seis maiores países da Europa - governos de centro-direita receberam endossos inesperadamente entusiásticos. Em dois outros países grandes, o Reino Unido e a Espanha, os partidos de governo de esquerda foram massacrados, assim como os socialistas na Hungria, Áustria, Estônia e em outros lugares. Em alguns lugares os resultados foram clamorosos: em Londres neste fim de semana, eu mal podia caminhar pela rua sem ser atacada por manchetes iradas de jornal, todas declarando o governo trabalhista do primeiro-ministro Gordon Brown como sendo fraco, corrupto, cansado, arrogante e, sim, muito impopular. Em alguns distritos, os candidatos europeus do Partido Trabalhista de governo ficaram atrás de partidos periféricos que normalmente nem mesmo são notados. Os ministros britânicos estão renunciando tão rapidamente do Gabinete que é difícil acompanhar (quatro na semana passada... eu acho).
Mas como é possível a direita européia estar se saindo tão bem - e muito melhor do que seus pares americanos - durante aquela que é amplamente descrita como uma crise global do capitalismo? Pelo menos em parte, os europeus estão vencendo porque seus líderes têm a coragem de suas convicções econômicas. Apesar de ser verdade que os estados de bem-estar social europeus estão funcionando a pleno vapor nos últimos seis meses, há poucos equivalentes tanto dos déficits orçamentários de George W. Bush quanto da gastança de Barack Obama. E onde há - no Reino Unido, por exemplo - os altos gastos não trazem popularidade. A versão teórica desta diferença euro-americana entre as políticas é a recente briga entre o historiador econômico Niall Ferguson e o economista Paul Krugman, ambos pelo menos tão conhecidos por suas polêmicas nos jornais quanto por seus textos acadêmicos. De modo rudimentar, Ferguson e o governo alemão acham que os enormes déficits e tomadas de empréstimo pelos governos levarão à inflação e no final ao colapso da moeda. De modo igualmente rudimentar, Krugman e o governo americano acham que ele está errado.
Para que fique registrado, Ferguson é, pelo menos por origem, um tory (conservador) britânico. Para que fique registrado, não há qualquer polemista republicano americano fazendo os mesmos argumentos de forma tão pública. Com poucas exceções, as vozes mais altas e mais articuladas de centro-direita americanas se concentraram quase que exclusivamente na segurança nacional durante grande parte da última década. Muita conversa falsa foi dedicada ao "governo pequeno" e "redução de gastos" enquanto sucessivos congressos republicanos, de mãos dadas com a Casa Branca republicana, aumentaram o governo e gastaram como loucos. Como podem criticar agora os déficits orçamentários possivelmente letais de Obama quando os deles foram tão vastos, tão recentemente?
Nada disso quer dizer que algum conservador europeu poderia se sair bem nos Estados Unidos. (Imagine Silvio Berlusconi, acompanhado dos paparazzi e das supostas amantes adolescentes, fazendo campanha no Mississippi.) Também é verdade que eles não necessariamente têm muito em comum: dizem que a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy mal suportam permanecer na mesma sala ao mesmo tempo. Mas ao menos o sucesso da centro-direita européia durante a atual crise prova que há algo em sua fórmula política. Eles são fiscalmente conservadores. Eles são, se não socialmente liberais, então pelo menos socialmente centristas. Eles não foram influenciados pela moda dos grandes gastos. Eles estão tentando manter alguma aparência de sanidade orçamentária. E, pelo menos por ora, eles estão vencendo eleições.
Tradução: George El Khouri Andolfato
Anne Applebaun é jornalista e colunista do "Washington Post"; ganhou o Prêmio Pulitzer pelo livro "Gulag: Uma História". Escreve regularmente sobre política americana e assuntos internacionais.

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