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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Impressões sobre Santa Brígida

Por Fernando Munaretto
Pequena cidade sertaneja, situada 50 km ao sul de Paulo Afonso, Santa Brígida possui uma forte vocação religiosa.
Na primeira metade do século XX foi liderada pela personalidade de Pedro Batista, espécie de homem sábio, ou conselheiro, como muitas vezes é chamado. De hábito austero e profundamente religioso, Pedro Batista ganhou fama entre os sertanejos e possuiu seguidores, principalmente entre as mulheres, dentre as quais se destaca o nome de Madrinha Dodô.
Em uma foto antiga, destas que eram retocadas e coloridas à mão, se vê Pedro Batista um homem maduro, de cabelos longos e desalinhados, vestido em uma toga azul. A longa barba castanha escuro, cerrava um rosto magro, de tez branca e semblante grave, apontando os olhos negros e expressivos à esquerda do observador. Esta imagem contrasta com outra foto sua, mais velho, já sem barba, a calvície sob um boné italiano, com uma expressão mais serena, quase lhe fugindo um sorriso dos lábios finos.
Com sua morte, ocorrida em 1967, a casa em que morava foi transformada em um pequeno museu, e uma grande estátua o representando nesta última fase, já calvo, com enormes orelhas e vestindo um terno branco alinhado, foi erguida na praça. Hoje, Santa Brígida é destino de pequenas romarias da gente regional.
Chegamos a Santa Brígida tarde da noite, mas encontramos na rua alguém que de modo solícito nos serviu de guia até a modesta pousada que nos aguardava. Pela manhã, uma pequena banda de pífanos, itinerante, alegrou o ar bucólico tocando pela praça e durante todo o dia de domingo, enriquecendo com sua presença e sua música a atividade na qual nosso grupo estava envolvido: são oficinas para fomentadores regionais de cultura de diversas regiões do Estado, com a proposta de familiarizar estes fomentadores de cultura com as lides e normas da captação de recursos e prestação de contas, de acordo com as leis de incentivo à cultura.
Com o final da tarde, senhoras de tez morena, de feições forjadas ao sol e ao labor da terra, cobertas por alvos lenços e em vestidos brancos começaram a surgir por entre as estreitas ruas que convergem para a praça. Uma pequena e delicada Igreja, pintada de branco e azul celeste se encontrava de portas abertas e ornadas modestamente com singelos buquês de flores. Por singelos, ainda mais bonitos, e mais mulheres de branco chegavam.
Ao longo do dia, fogos eram lançados ao céu, e o Sol foi perdendo altura no ocidente até seu ocaso. As crianças brincando e correndo alheias a tudo isso emprestavam alegria e esperança à rotação impávida da Terra, e Júpiter surgiu próximo ao zênite no oriente, seguido por Vênus, linda, ainda no céu azul que aos poucos foi dando lugar aos matizes púrpuros do crepúsculo vespertino. O soar do sino, a Ave Maria na voz das mulheres sertanejas, eram os sons que a Terra fazia naquele instante em que próximo a Vênus surgiu Mercúrio, e Marte mais acima, entre as estrelas de Virgem.
Acabamos de acomodar as coisas na caminhonete e após o banho fomos jantar, num refeitório próprio para peregrinos e visitantes.
O clima estava ótimo e o bom humor predominou durante todo o jantar, mesmo quando se travou uma interessante discussão sobre arte e liberdade poética em cima de fatos históricos. O Zé, gente muito simples, fez para nós um arroz com feijão e carinho e cuzcuz com ovos de “capoeira”. Ele agradeceu a caixinha que deixamos com gratidão, e sob um lindo céu estrelado, partimos rompendo o escuro do sertão.
Após seis horas de uma viagem tranqüila, que exigiu um mínimo de navegação e cuidado, entramos pelas ruas desertas da cidade do São Salvador quando o Sol já passava em mais de uma hora do nadir.
O saldo da viagem e do trabalho foi positivo, e apesar do cansaço todos nos sentíamos bem. Santa Brígida causara em nós uma discreta, mas indelével sensação mística.

Fernando Munaretto é astrônomo, de Astronomia na Escola - Mil Produções
Texto escrito no segundo terço do outono de MMVIII a.D

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