O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou na quinta-feira, 30 de agosto, o calendário para 2008, na eleição onde serão escolhidos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.
O dia do pleito será 5 de outubro do ano que vem, primeiro domingo do mês. O segundo turno, se houver, será disputado em cidades com mais de 200 mil eleitores no dia 26 de outubro, último domingo do mesmo mês.
Um ano antes das eleições, ou seja, no próximo dia 5 de outubro, os partidos políticos que pretendem lançar candidatos já devem ter obtido o registro de seus estatutos no TSE. Esse também é o prazo para que os candidatos regularizem a filiação partidária e o domicílio eleitoral onde pretendem concorrer.
A partir do dia 10 de junho de 2008, estará permitida a realização de convenções destinadas a deliberar sobre coligações e a escolha de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador. O prazo para que partidos e coligações apresentem o pedido de registro de seus candidatos vence no dia 5 de julho, três meses antes das eleições.
Enquanto isso, 7 de maio de 2008, segundo o calendário do Tribunal, é o último dia para o eleitor requerer inscrição eleitoral, transferência de domicílio ou alterações em seu título eleitoral. A partir de 6 de julho, estará permitida a propaganda eleitoral. Os candidatos ficarão liberados para realizar comícios e utilizar aparelhos de som. Já a partir de 19 de agosto, terá início a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. O último dia para utilização de propaganda, realização de comícios e debates é 2 de outubro.
Um comentário:
"O mundo do lado de cá"
Cineasta critica a globalização, diz que o Brasil está permissivo demais e aposta em uma reação que venha das periferias
Por FRANCISCO ALVES FILHO
Sílvio Tendler é um cineasta com curiosa mistura de outsider e campeão de bilheterias. No único intervalo em sua filmografia política, Tendler fez O mundo mágico dos Trapalhões e levou 1,8 milhão de espectadores aos cinemas. É o recorde para um documentário no Brasil. Os segundo e terceiro lugares também são dele, Jango e Os anos JK, respectivamente. Hoje, as bilheterias andam minguadas, mas ele resiste. "Não se pode ter a monotonia do entretenimento, como se no cinema não houvesse espaço para a reflexão", defende. Formado em história, ele discorre nessa entrevista sobre a desorganização social e política do País, a esperança numa renovação vinda das periferias e em novas formas de manifestação dos estudantes, que também lhe serviram de tema para um documentário sobre a UNE. Agora, chega às telas o documentário Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de cá, em que o intelectual expõe seu conceito de globalitarismo, a opressão patrocinada pelo atual modelo de globalização. "A grande batalha de hoje é pela opinião pública e eu acho que a gente tem de colocar pontos de vista diferentes, alternativos", enuncia Tendler.
Reconhecido por intelectuais de todo o mundo, o geógrafo Milton Santos recebeu o cineasta carioca para expor suas idéias numa tarde de 2001. Durante a conversa, documentada por uma câmera, Santos expôs suas críticas ao modelo de globalização que torna escassos os recursos naturais e empobrece ainda mais os miseráveis. Quase ao fim da conversa, Tendler questionou: "Professor, o que lhe dá a certeza de que suas idéias vão ter algum tipo de conseqüência?" Com os olhos brilhantes e o sorriso simpático, o geógrafo respondeu: "Você". Foi sua última entrevista - ele morreria cinco meses depois, de câncer - e, desde então, Tendler sentiu-se comprometido em multiplicar a mensagem do único acadêmico do Hemisfério Sul a receber o prêmio Vautrin Lud, espécie de Nobel da Geografia. Diabético, cardíaco e hipertenso, o cineasta mantém o bom humor e o espírito provocativo.
ISTOÉ - O que é globaritarismo, conceito criado por Milton Santos?
Sílvio Tendler - Ele formulou essa idéia em 2001, no livro Por uma outra globalização, pouco antes de morrer. É o fundamentalismo que faz do consumo a grande característica da nossa sociedade. A economia se ancora nisso. O mundo está produzindo muito mais do que a sociedade tem capacidade de consumir. Esse processo está levando à destruição do planeta e à desigualdade social. Isso é o globaritarismo: a imposição de padrões consumistas, inclusive a quem não tem condições de consumir. Milton Santos comparou esse fenômeno ao nazismo e ao fascismo.
ISTOÉ - Qual o modelo viável para substituir esse globaritarismo?
Tendler - Milton Santos não foi contra a globalização. Ele diz no filme, inclusive, que nunca houve civilização, agora é que estamos fazendo os primeiros ensaios do que será a humanidade. É contra a perversidade de nossos dias. Temos que construir um futuro melhor. E eu acredito nisso. Outro dia um jornalista me perguntou se eu não achava que a globalização era inevitável. Eu respondi que não só inevitável como necessária, desejada. Não sou contra a globalização. Mas contra esse modelo que permite a circulação de mercadorias e não permite a circulação de humanos.
ISTOÉ - Vivemos em desorganização política e social. Como implantar um modelo mais justo?
Tendler - Isso não é necessariamente ruim, já que evita o aparelhamento político que vivemos em outros tempos através de correntes políticas hegemônicas que pregavam idéias quase de forma totalitária. Temos uma grande diversidade política cultural em que várias minorias expressam seus pensamentos: os homossexuais, os sem-teto e por aí vai.
"Há uma cultura emergindo da periferia. Meninos da Baixada Fluminense com uma câmera de R$ 200 fazem cinema"
ISTOÉ - De onde viria essa renovação?
Tendler - Há uma cultura que está emergindo da periferia. Há os rappers que revelam a realidade das favelas. Temos meninos da Baixada Fluminense com uma câmera de R$ 200 fazendo cinema. Dou aula em uma universidade na qual o pessoal só quer filmar com câmeras caras. Ninguém acredita que com uma camerazinha de R$ 200 se pode fazer um filme de verdade. Tem o índio na floresta que usa a câmera para denunciar a derrubada de árvores. O outro índio, graças à internet e à parabólica, cria a rede de povos da floresta. Hoje há vários movimentos culturais autônomos na periferia. Não há como explicar o fenômeno dos Racionais MCs, por exemplo, que não aparecem na tevê. Tem o YouTube como uma vertente de renovação cultural, com trabalhos que fugiram do controle da grande mídia.
ISTOÉ - Um de seus trabalhos recentes é sobre a história do movimento estudantil. O sr. acha que os estudantes ainda podem mudar o País?
Tendler - Entrevistei do primeiro presidente da UNE ao que estava em exercício quando fiz o filme, o Gustavo Petta. Os dois dizem que a força do movimento jovem se deslocou para a periferia. A juventude está engajada, mas de outras formas. Hoje lidam com hiphop, lutam pelos direitos das minorias. Mudaram as formas de luta. Cabe aos líderes adequar as práticas da UNE à demanda do movimento estuda
Por FRANCISCO ALVES FILHO
ISTOÉ - É possível comparar os estudantes de hoje com aqueles que faziam grandes passeatas na década de 60?
Tendler - O País e o mundo eram muito diferentes. O Brasil tinha 160 mil universitários, hoje tem dois milhões. O crescimento das universidades foi maior que o crescimento demográfico. Além disso, a maioria dos estudantes estava em instituições públicas, estavam preocupados com as grandes questões nacionais, com a qualidade do ensino e outros temas. Hoje, a maioria vem de universidades privadas, buscam principalmente um lugar no mercado de trabalho.
ISTOÉ - Como essa crise afeta o seu trabalho?
Tendler - Quando lancei JK e Jango fiquei seis semanas no Rio e em São Paulo e repercutiu muito. Hoje, não tenho mais o mesmo espaço. A lógica de mercado obriga você a dar graças a Deus por achar uma vaga.
ISTOÉ - Vale a pena fazer filmes de conteúdo político e social?
Tendler - Acho que está na hora de a sociedade brasileira se rediscutir. A gente tem que usar o cinema e outros meios de comunicação para colar os caquinhos do nosso arcabouço social. O que talvez explique as baixas bilheterias é que temos a liberdade de chegar à sala, mas não temos os meios de chegar ao público, você não consegue se comunicar com o espectador. Eu acabo virando uma exceção. Lancei o filme em cinco cinemas, com sessões alternativas, contra 500 cinemas com horário integral dos Simpsons. A batalha desigual é essa. Os caras vêm com uma tremenda mídia do Exterior, com grana, mídia nacional, são heróis da tevê, a garotada vê, curte... Mas não é por isso que eu vou deixar de fazer cinema. Eu acredito nisso. Trabalho de formiguinha. Melhor falar para três mil pessoas que para nenhuma.
"Em um dos episódios da série Malu mulher, um dos personagens tenta o suicídio. Na Suécia, esse episódio não foi ao ar"
ISTOÉ - Quais as conseqüências dessa concentração de poder midiático?
Tendler - Acabou a idade da inocência. Milton Santos dizia que quatro ou cinco grupos dominam a mídia no mundo. Não estava falando apenas do jornalismo, mas também do entretenimento. Como a indústria dos games, por exemplo. As pessoas dizem que eu sou didático. Na minha interpretação, didático é o cinema americano, que ensina a matar. A gente fica assistindo a essa violência no cotidiano com uma passividade... A gente não quer falar a verdade: o rei está nu, essa é a indústria de massas. As crianças desde pequenas se habituam com o conceito de serial killers a partir dos games. Elas vêem filmes desse tipo. Com as novas tecnologias é possível misturar personagens reais e animação. Toda essa violência que a sociedade está vivendo é formada pela cultura de massas e ninguém discute. Isso serve de controle social, prega o egoísmo, a individualidade, as pessoas deixam de ter solidariedade.
ISTOÉ - A classificação indicativa poderia ajudar?
Tendler - O grande problema da classificação indicativa seria o despreparo das pessoas que fazem essa indicação. Vou te dar um exemplo surrealista: meu filme foi indicado para 12 anos por ter "palavras de baixo calão" e "cenas de violência". Quem vê, constata que os palavrões não são gratuitos e a violência é de fundo social. Em plena ditadura fiz JK e Jango, que foram censura livre. Os dois filmes têm cenas de violência também, tem gente sendo assassinada nas manifestações de rua de 68.
ISTOÉ - Qual seria a solução?
Tendler - Não sei, mas sou contra a excessiva permissividade que vivemos hoje. Em um dos episódios da série Malu mulher, dos anos 80, um dos personagens tenta o suicídio. Quando a série passou na Suécia, esse episódio não foi ao ar. A sociedade sueca se deu ao direito de dizer: "Isso não passa na nossa televisão." Acho que a gente tem que ter uma preocupação com nossos jovens. Não sou careta, mas acho que vivemos numa sociedade excessivamente permissiva e de muita liberalidade. Estamos acostumados a ver drogas e sexo, tudo circulando com naturalidade. Acho que devíamos ter uma organização maior da sociedade para tratar disso. O que eu não acredito é na capacidade de esses organismos estatais fazerem essa regulação por nós. São um bando de burocratas, completamente despreparados.
ISTOÉ - O meio ambiente é um tema que o sr. pensa em levar para as telas?
Tendler - Sou contra esse terrorismo internacionalista do tal desenvolvimento sustentável. O Al Gore vem com esse filme falando de meio ambiente (Uma verdade inconveniente), mas o cara já foi vice-presidente dos Estados Unidos. Já poderia ter feito pelo menos um terço daquilo que ele prega no filme. Ele só passa a ter preocupação ecológica quando vira cineasta? Como vice-presidente não? Quero discutir o que é esse tal desenvolvimento sustentável, quero saber o que vai ser essa terra daqui a 40 anos dentro de um ponto de vista menos catastrófico, menos terrorista.
ISTOÉ - O sr. acredita que o brasileiro pode recuperar a fé na política?
Tendler - Como disse Milton Santos, a gente precisa encher de conteúdo a palavra democracia, já que quando falamos sobre democracia hoje não sabemos exatamente sobre o que estamos falando. Ficamos apenas com a forma. A gente elege uma pessoa e não sabemos para quê. Não sabemos qual o seu programa político, o que ele vai fazer com nosso voto. Todo dia você ouve falar, por exemplo, em reformas. Reforma tributária, reforma política... O que são essas reformas? Qual o conteúdo? Você sabe o que os políticos estão discutindo em Brasília? Cada dia está pior a convivência entre o cidadão e a política, está cada vez mais difícil o cidadão se ver efetivamente representado pelo Congresso Nacional. Mas sem a política a gente não avança.
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