Postagem do blog "A Coisa Aqui Tá Preta", de Cláudio Abramo, na quinta-feira, 13, com charge publicada no site Mídia Sem Máscara:
Os inúmeros lances picarescos que se sucederam ao longo da crise Renan Calheiros tiveram o condão de revelar o que de fato é o Senado Federal - uma Casa anacrônica, dada a politicalhas de quinta categoria, e povoada por uma quantidade não-salutar de integrantes na melhor das hipóteses anacrônicos.
O ato final do episódio, encenado ontem, não poderia destoar, na sua forma, do enredo que se desenvolveu ao longo dos últimos meses. Adotando uma prática decerto inédita na milenar história da arte teatral, o ato deu-se com as cortinas cerradas. O público, a saber, os responsáveis pela escalação do elenco, ficou impedido de assistir ao que se desenrolou no Plenário da Casa.
A própria admissão, por parte dos senadores, de que seria secreta a sessão que decidiria sobre se o senador Calheiros perderia ou não o seu mandato por conta das irregularidades encontradas em suas finanças, já configurava uma contrafação.
Argumentava-se que o Regimento Interno do Senado impõe a secretividade. Acontece que qualquer corpo deliberativo, seja ele uma Casa parlamentar ou um Conselho empresarial, superpõe-se ao seu Regimento Interno. Ou seja, os senadores poderiam perfeitamente bem decidir diferentemente do Regimento, sem que isso configurasse ilegalidade. O fato de não o terem feito já foi revelador.
Ao discutirem o caso Renan a portas fechadas, envergonhadamente, os senadores mais uma vez demonstraram que, em seu conjunto - e a despeito das exceções -, desmerecem os cargos que ocupam.
Embora uma sessão aberta não implicasse que a votação também o fosse, ao menos teríamos tido nós, os eleitores, a oportunidade de testemunhar os argumentos e justificativas apresentados pelos senadores no período de discussão.
Uma sessão aberta tampouco lançaria luz sobre os conchavos, ameaças, contra-ameaças, compromissos, troca-trocas e facadas pelas costas que caracterizam a atividade política brasileira. Mesmo assim, teria incutido nos próceres a noção de que o público os vigiava, com presumível efeito sobre a decisão de cada um sobre se concordava ou não com a cassação do sr. Calheiros.
Vai daí que o único motivo para os senadores insistirem na sessão secreta foi mesmo a intenção de escamotear ao eleitor a informação crucial sobre quem esteve do lado de quem e do quê.
Ao permitir que o presidente da Casa permanecesse em seu posto no transcorrer de um processo no qual ele próprio era acusado de irregularidades graves, o Senado sinaliza claramente o que se poderá esperar do encaminhamento das duas outras acusações de que o sr. Calheiros é alvo - um afundar progressivo na desmoralização.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Sem vergonha
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