Por Ricardo Noblat
Há uma semana, a presidente Dilma estava no chão, e a caneta de Eduardo
Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, cheia de tinta para assinar o ato
que autorizaria a abertura do processo de impeachment contra ela.
Esta semana começa depois de mais um movimento abrupto da gangorra do
poder: agora é Eduardo que está no chão, atingido por novas denúncias de
roubalheira. E Dilma posa de vencedora.
Amanhã fará uma semana que Dilma perguntou a sindicalistas reunidos por
Lula para escutá-la em São Paulo: "Quem tem força moral, reputação ilibada
e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra? Quem?"
Entusiasmada com os aplausos que recebeu, chamou o impeachment de
“golpismo escancarado”, e seus adversários de "moralistas sem moral".
De fato, são "moralistas sem moral" os políticos que tratam
Eduardo com brandura, interessados apenas em que ele ceda às pressões e ponha
para tramitar na Câmara o processo de deposição da presidente reeleita há menos
de um ano.
Mas serão "moralistas com moral" aqueles que igualmente tratam
Eduardo com brandura, empenhados apenas em que ele desista de derrubar Dilma?
Na condição de investigado, Lula desembarcou em Brasília para ser ouvido
por procuradores da República.
Aproveitou a viagem para negociar com Eduardo o fim do impeachment em
troca da salvação do mandato dele, ameaçado de ser cassado pela Câmara.
E da boa vontade da Justiça quando fosse obrigada a julgar Eduardo por
corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos.
Como Lula, sem ser um amoral, poderia garantir a Eduardo que deputados
ligados ao governo negarão seus votos para cassá-lo?
Como Lula, sem ser um amoral, poderia prometer que o governo empregará
toda a sua força para que Supremo Tribunal Federal absolva Eduardo dos seus
crimes? Ou pelo menos para que não lhe aplique duras penas?
Diante da mesma plateia de sindicalistas que recepcionou Dilma em São
Paulo, Lula justificou as "pedaladas fiscais" do governo que
resultaram na rejeição de suas contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União.
E o que disse? Que o governo foi obrigado a pedalar para não deixar sem
dinheiro o Bolsa Família e demais programas de assistência aos mais pobres.
Mentiu - o que não pega bem para um moralista com moral. Para um sem
moral não faz diferença.
As pedaladas tiveram a ver com despesas feitas pelo governo para além do
que o orçamento permitia. Com isso, desrespeitou a Lei de Responsabilidade
Fiscal.
Quem desrespeita lei incorre em crime. Não vale a desculpa imoral usada
por Dilma de que governos anteriores procederam assim também.
Quanto à pergunta que ela fez aos sindicalistas: "Quem tem força
moral, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha
honra?"
Há muita gente que tem, sim. Talvez falte motivo para o ataque. Em
compensação, há motivos de sobra para que se ponha a conduta de Dilma em
dúvida.
É provável que ela não tenha roubado. Mas que sequer tenha visto que
roubavam?
Seu sucessor no Ministério das Minas e Energia é suspeito de ter
roubado. Sua sucessora na Casa Civil, de tráfico de influência.
Como mandachuva na Petrobras, aprovou negócios que envolveram propinas.
E viu a empresa submergir em um mar de lama.
Dinheiro sujo financiou suas duas campanhas.
Se tudo isso a surpreendeu, por carecer de competência não tinha
condições de presidir o país. Não tinha mesmo.
Fonte: "Blog do Noblat"
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