Por Reinaldo Azevedo
Há coisas, querido leitor, que empurram
a gente quase para a preguiça, tão óbvias elas são. Mas vamos lá. Eu,
jornalista, analista, blogueiro, radialista, escolham aí, posso lidar
principalmente com a ética da convicção. Não disputo o poder nem sirvo a quem o
disputa. Só devo satisfações a meus leitores e a meus ouvintes. E, claro!, os
que pagam os meus salários - todos de conhecimento da Receita Federal - têm de
gostar do trabalho, ainda que possam discordar das ideias.
Assim, tanto quanto reconheci e reconheço
o excelente desempenho de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à frente da Presidência da
Câmara - sim, ele livrou o STF da bolivarianização! -, afirmei que, dadas as
circunstâncias, ou ele negava de forma peremptória as contas da Suíça ou se
afastava da Presidência da Câmara.
Muito bem! Instigados por petistas e
por esquerdistas, líderes oposicionistas se viram compelidos a pedir a cabeça
do presidente da Câmara… Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB no Senado, até
resolveu fazer uma crítica aberta a seus companheiros de partido na Câmara, que
teriam tardado a se manifestar em favor do afastamento do deputado do comando
da Casa.
É claro que Cássio, que tem a
responsabilidade de ser um quadro da oposição, além de ter suas convicções,
está exagerando. Até porque política não é um exercício solitário. Venham cá:
por que a oposição partiria com tudo para a jugular de Cunha? Para que o
governo lhe oferecesse uma rede, como ofereceu? Nesta quarta, o presidente da
Câmara elogiou a sensibilidade política de… Jaques Wagner, novo ministro da
Casa Civil. Posso imaginar por quê.
A oposição foi até onde era prudente
ir, ora essa! O que não pode agora, e é uma questão elementar, é jogar
definitivamente o presidente da Câmara no colo do governo… Imaginem que graça
seria o PSDB a defender, a um só tempo, a queda de Dilma e de Cunha… Nem a
Armata Brancaleone sonhou ir tão longe, não é mesmo?
Sabem o que é mais fabuloso nisso tudo?
No espaço de negociação que se abriu entre Cunha e o governo, o Planalto acena
com a possibilidade de lhe garantir votos no Conselho de Ética, que impeçam que
ação de cassação de mandato chegue ao plenário.
Entenderam? Os petistas ficaram
incitando os oposicionistas a chutar Cunha para que eles pudessem lhe oferecer
proteção.
Não é a única coisa absurda de todo
esse episódio. Os oposicionistas estão se vendo compelidos a jogar Cunha ao
mar, mas Dilma mantém como homem forte no Palácio ninguém menos do que Edinho
Silva, um dos braços de Lula no governo. E quem é ele? Ora, nada menos do que
um investigado da Operação Lava-Jato, acusado por um empreiteiro de lhe ter
praticado uma doce extorsão de R$ 10 milhões - R$ 7,5 milhões dos quais
devidamente pagos e postos na campanha de Dilma à reeleição.
A oposição foi até onde era prudente ir
nesse caso. A retórica do tucano Cássio Cunha Lima está fora do tom. Quem faz
política profissional lida com convicção, mas também lida com a
responsabilidade de saber que as ações têm consequência.
Às oposições cabe hoje atuar dentro do
que for ética e moralmente correto para que Dilma seja afastada da Presidência
- de acordo com a Constituição e com as leis. Reconhecer que Cunha está numa
situação delicada e defender que ele se afaste da Presidência é aceitável,
compreensível e até necessário. Achar que a oposição deva liderar essa cruzada
ou fazer disso um cavalo de batalha é burrice.
Isso é coisa para Psol e Rede, que hoje
são linhas auxiliares do "fica-Dilma".
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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