Por Reinaldo Azevedo
Quando eu era criança,
entre 1968 e 1971, havia um programa de humor na TV Globo que chamava "Balança,
mas não cai", vindo lá do rádio dos anos 1950. Não sei se a expressão virou
nome do programa ou o contrário. Mas assim ficou na linguagem, certo?, ainda
hoje. Quando alguém está pelas tabelas, mas ainda no poder; quando uma situação
é periclitante, mas, no entanto, renitente, então dizemos: "balança, mas não
cai".
Esta é, por enquanto, a
situação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Embora as circunstâncias obviamente
conspirem contra ele, vai ficando por ali, sendo cortejado por governistas e,
sim, por oposicionistas também, que vivem uma estranha circunstância: têm,
porque têm, de pedir que ele se afaste da presidência da Câmara, e já o
fizeram, mas sabendo que o Supremo concentrou exclusivamente nas suas mãos a
decisão sobre dar início à tramitação da denúncia contra Dilma.
O deputado não caiu
ainda, mas balança hoje mais do que ontem. Recorreu a Teori Zavascki, relator
do petrolão no Supremo, para que as investigações sobre as contas na Suíça que
lhe são atribuídas tramitem em sigilo. Foi derrotado. O ministro não viu razão
para tanto.
Para quem negou na CPI
que tivesse contas e vinha dizendo até havia pouco que referendava aquele
depoimento, a decisão é estranha. Ora, por que pedir sigilo sobre o que, então,
nem mesmo existiria? A gente tem de ser lógico e óbvio nessas coisas, não?
Então ele tem conta.
Mais: um saldo
correspondente a R$ 9,6 milhões, depositados em francos suíços, de que Cunha
seria o beneficiário, foi bloqueado por Zavascki. Os documentos indicam
entradas de R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, entre 2007 e 2015, em
valores corrigidos. Depósitos e retiradas foram feitos em dólares, francos
suíços e euros.
Parece que esses dados
liquidam o assunto quanto a Cunha assumir ou não a existência de contas da
Suíça, não é mesmo? Mais uma vez, sejamos lógicos: se nada houvesse por lá, em
vez de pedir o sigilo da investigação, ele deveria é pedir que não houvesse sigilo
nenhum.
Não obstante, o homem
segue poderoso, contando com razoável apoio. E, se fosse um partido, ainda
seria o dono da maior bancada da Câmara. Mas vou insistir num ponto de vista:
com tudo o que há contra ele, será condenado pelo Supremo - não dá para saber
quando. Pode até ser que, a exemplo de outro Cunha, o petista João Paulo,
consiga se reeleger mesmo sendo réu - caso não haja julgamento até 2018. Mas
perderá o mandato, este ou outro. E ele sabe disso.
A um homem nessas
condições, por força da Constituição e por vontade de ao menos dois ministros
do Supremo - em liminares que devem ser referendadas por maioria -, cabe
decidir se a denúncia contra Dilma começará ou não a tramitar.
É evidente que o
Planalto não pode mais fazer nada por Cunha - e o que a fazer contra ele já
está em curso.
Assim sendo, "Acolhe,
Cunha!" Se o desrespeito a leis e fundamentos o colocou em situação difícil,
cumpra o que está na Constituição e na Lei 1.079 e acolha a denúncia.
Faça um bem ao Brasil!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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