Por Reinaldo Azevedo
Esquerdistas bocós (existem os não-bocós?) já estão de olho no "rolezinho". Aqui e ali, noto a vocação ensaística de alguns dos meus
coleguinhas na imprensa. Já há gente, assim, treinando o olhar para teorizar
sobre mais essa erupção - e irrupção - da luta de classes. É fácil ser bobo.
Fosse mais difícil, não haveria tantos bobalhões. Daqui a pouco o Gilberto
Carvalho chama os teóricos dos "rolezinhos" para um bate-papo no Palácio do
Planalto.
O "rolezinho", que até pode ter começado como uma brincadeirinha
irresponsável nas redes sociais, está começando a virar, vejam vocês!, uma
questão política - ao menos de política pública. A coisa pode ser tornar mais
séria do que se supõe. Infelizmente, noto que muita gente, inclusive na
imprensa, está tentando ver essas manifestações como se fossem uma espécie de
justa revolta de jovens pobres contra templos de consumo da classe média.
Isso é uma tolice, um cretinismo. Os shoppings têm se
caracterizado como os mais democráticos espaços do Brasil. São áreas privadas
de uso público, muito mais seguras do que qualquer outra parte das cidades
brasileiras. Os pais preferem que seus filhos fiquem passeando por lá a que
façam qualquer outro programa, geralmente expostos a riscos maiores. É uma
irresponsabilidade incentivar manifestações de centenas ou até de milhares de
pessoas num espaço fechado. Ainda que parte da moçada queira apenas fazer uma
brincadeira, é evidente que marginais acabam se aproveitando da situação para
cometer crimes, intimidar lojistas e afastar os frequentadores.
Esse negócio de que se trata de uma espécie de revolta dos pobres
contra os endinheirados é uma grossa bobagem. Boa parte dos shoppings de São
Paulo, hoje em dia, serve também aos pobres, que ali encontram um espaço seguro
de lazer. A Polícia precisa agir com inteligência para que se evite tanto
quanto possível o uso da força. É necessário mobilizar os especialistas em
Internet da área de Segurança Pública para tentar identificar a origem dessas
convocações.
É preciso, em suma, chegar à raiz do problema. As redes sociais
facilitam essas manifestações, como todos sabemos, mas é evidente que elas não
são espontâneas. Há pessoas convocando esse tipo de ação, que pode, sim, como
se viu no Shopping Metrô Itaquera, degenerar em violência.
No dia em que os shoppings não forem mais áreas seguras, haverá
fuga de frequentadores, queda de vendas e desemprego. E é certo que estamos
tratando também de um sério problema de segurança pública. Num espaço fechado,
em que transitam milhares de pessoas, inclusive crianças, os que organizam
rolezinhos estão pondo a segurança de terceiros em risco.
E que ninguém venha com a conversa de que se trata apenas do
direito de manifestação num espaço público. Pra começo de conversa, trata-se,
reitero, de um espaço privado aberto ao público, que é coisa muito distinta. De
resto, justamente porque os shoppings têm essa dimensão pública, não podem ser
privatizados por baderneiros que decidiram ameaçar a segurança alheia.
Encerro notando que o Brasil precisa ainda avançar muito na
definição do que é público. Infelizmente, entre nós, muita gente considera que
público é sinônimo de sem-dono. É justamente o contrário: o público só não tem
um dono porque tem todos.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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