Por Augusto Nunes
Em
maio de 2013, milhares de fregueses do Bolsa Família congestionaram as agências
da Caixa Econômica Federal antes do prazo combinado para a entrega da mesada.
Também surpreendida pelas correrias daquele sábado estranho, a ministra dos
Direitos Humanos, Maria do Rosário, sacou da bolsa o Twitter e mandou bala nos
suspeitos de sempre: "Boatos sobre fim do
bolsa família deve (sic) ser da central de notícias da oposição. Revela posição
ou desejo de quem nunca valorizou a política". Logo se
descobriu que a confusão fora provocada pelos próprios gerentes do maior
programa oficial de compra de votos do mundo.
Na
versão divulgada pelo alto comando da CEF, um diretor afoito ordenara, sem
pedir licença aos superiores hierárquicos, que o dinheiro fosse colocado antes
da hora à disposição da clientela. Retransmitida em cadeia pelos dependentes da
esmola federal, a notícia da antecipação da esmola federal espalhou-se pelo
país e conferiu dimensões amazônicas às filas dos beneficiários. As coisas se
agravaram quando surgiu a desconfiança de que o presente inesperado era um
sinal de que o programa seria encerrado. Simples assim. A oposição não teve
nada com isso. Maria do Rosário nem pediu desculpas pela mensagem imbecil. E
não demoraria a deixar claro que não tem cura.
Em
outubro de 2013, Joselito Müller, editor de um blog humorístico, informou que a
ministra, depois de confrontada com um vídeo em que um assaltante é baleado por
um policial, tomara as dores do bandido. Colérica com a brincadeira, Maria do
Rosário revidou com uma nota oficial beligerante. Além de encarregar a Polícia
Federal da "criteriosa investigação e
responsabilização dos autores da notícia mentirosa publicada", a
companheira gaúcha "solicitara à empresa
que hospeda o site que retire o conteúdo difamatório do ar".
Como
a Polícia Federal tem mais o que fazer, e como o controle social da mídia ainda
é só um brilho no olhar da seita lulopetista, os pedidos deram em nada. Mas
Maria do Rosário não consegue viver longe das primeiras páginas. Reapareceu em
novembro no cemitério de São Borja, para exaltar a exumação dos restos mortais
de João Goulart: "A investigação
é uma missão de Estado, humanitária, cumprida com total isenção", caprichou
a sherloque empenhada em provar que o presidente deposto em 1964 não morreu de
enfarte: foi envenenado por sicários de tiranos brasileiros e uruguaios. Uma
proeza dessas não tem preço, informou: "Custa
menos do que uma ditadura, porque essa custou vidas, exílio, significou a
morte. Estamos valorizando a democracia".
Jango
já foi devolvido à sepultura. Mas é improvável que descanse em paz enquanto a
camelô de teorias amalucadas continuar em ação. Neste janeiro, Maria do Rosário
confirmou que nada lhe parece tão excitante quanto a aparição de cadáveres que
podem ser transformandos em cabos eleitorais. Entusiasmada com a história do
jovem gay cujo corpo foi encontrado sob um viaduto no centro de São Paulo, nem
esperou que a polícia começasse as investigações para incorporou
simultaneamente três personagens: o delegado que identifica culpados em
cinco minutos, o promotor que dispensa provas para exigir a punição dos
carrascos e o juiz que condena sem sequer folhear os autos.
Maria
do Rosário resolveu tudo com outra nota oficial cuja essência é reproduzida a
seguir:
"A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República vem a
público manifestar solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos
Santos, assassinado brutalmente no último sábado (11/01)." (…) "As
circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima indicam que se
trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia. (…)
Diante desse quadro, reiteramos a necessidade de que o Congresso Nacional
aprove legislação que explicitamente puna os crimes de ódio e intolerância
motivados por homofobia no Brasil, para um efetivo enfrentamento dessas
violações de Direitos Humanos".
Nesta
terça-feira, a mãe de Kaique admitiu que o filho cometeu suicídio, hipótese
robustecida por mensagens escrita por Kaíque, filmes e depoimentos. Os que
embarcaram nas fantasias de Maria do Rosário vão caindo fora da nau dos
insensatos. Maria do Rosário continua por lá. E continua ministra. É o Brasil.
Foi
Nelson Rodrigues quem constatou que os idiotas estavam por toda parte. Menos de
50 anos depois da descoberta, os cretinos fundamentais são amplamente
majoritários no primeiro escalão do governo federal.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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