Por Augusto Nunes
Como
informa o site de VEJA, são brasileiros 14 milhões (ou 38,5% ) dos 36
milhões de adultos analfabetos recenseados na América Latina pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A informação
aparece no relatório Educação Para Todos, divulgado nesta quarta-feira. O
levantamento incluiu 160 países. No ranking dos campeões de analfabetismo, o
Brasil ocupa um obsceno 8° lugar.
A
péssima notícia é especialmente desmoralizante para os embusteiros que fingem
ter inventado uma potência tropical. Não há nada a acrescentar ao post aqui
publicado em outubro do ano passado, quando a PNAD anunciou o crescimento da
taxa de analfabetismo, e reproduzido a seguir:
Ai do governo se a PNAD-2012 fosse divulgada não neste outubro, mas em
junho - o único mês em que os brasileiros manifestam nas ruas a indignação
represada no resto do ano. Ai dos vigaristas no poder se a temporada de protestos
estivesse em curso quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio informou
que, pela primeira vez desde 1998, cresceu o número de brasileiros com mais de
15 anos de idade que não sabem ler nem escrever: os 12,9 milhões de 2011
subiram para 13,1 milhões. Pena que o gigante tenha ficado mais analfabeto
enquanto dormia.
Caso estivesse acordado, as coisas seriam muito diferentes. Os
manifestantes que não aguentam desaforo durante 30 dias por ano entrariam em
ação um minuto depois da descoberta obscena. Nas ruas das grandes cidades e nos
becos dos vilarejos, multidões de dimensões egípcias exigiriam aos
berros a erradicação do analfabetismo até a chegada do Natal e a imediata
implantação de um sistema de ensino padrão Fifa. No dia seguinte, a presidente
da República anunciaria na TV o lançamento do Programa Mais Professores,
anabolizado pela importação em regime de urgência de 6 mil educadores cubanos
fluentes em português, todos capazes de fazer até bebê de colo decorar o
abecedário em uma semana e meia.
Os presidentes da Câmara e do Senado proporiam a cassação sumária do
mandato de todos os parlamentares que tratam indecorosamente a gramática e a
ortografia (sem direito a embargos infringentes). Os líderes da oposição
oficial, reunidos às pressas, examinariam a ideia de encerrar as férias que vão
completando 11 anos. E Lula, a conselho de companheiros letrados, ficaria em
silêncio até que julho chegasse ao fim e o perigo passasse. Foram todos salvos
pelo calendário gregoriano. Não havia manifestantes à vista quando
a pesquisa monitorada pelo IBGE avisou que a taxa de analfabetismo subiu
de 8,6% para 8,7%.
Livrede sobressal tos, Dilma Rousseff dispensou-se de comentar a
façanha do governo mais inepto da história. Ocupado com a candidatura da chefe
a um segundo mandato, o ministro da Educação repassou o assunto à economista
Wasmália Bivar, presidente do IBGE. "Isso não é estatisticamente
relevante", ensinou a alquimista federal. "A PNAD de 2012 confirmou o
patamar de 2011, o que quer dizer estabilidade". Uma diferença
de 0,1% pode ser irrelevante em pesquisas que medem o tamanho da torcida
do Flamengo. Aplicado ao universo formado por 157 milhões de brasileiros,
escancara o cinismo da doutora.
O índice avisa que 300 mil seres humanos foram incorporados aos 13,1
milhões de confinados nas cavernas da ignorância. A imensidão de gente que não
consegue ler nem escrever é maior do que a população da Suécia (11,2 milhões de
habitantes). Sem contar os 27 milhões de analfabetos funcionais - categoria em
que se enquadra quem teve menos de quatro anos de estudo. Sem contar os
que aprendem nos livros do Ministério da Educação que está
certo escrever errado. Sem contar os colecionadores de imbecilidades nota 10
aprovados no Enem. Sem contar os universitários desprovidos de raciocínio
lógico.
Como a "universalização da educação básica" concebida pelo governo em
2009 só vale para quem tem de 4 a 17 anos, e como os programas de alfabetização
de adultos sumiram, não há esperança de salvação para os maiores de idade. São
mais de 11 milhões, metade dos quais concentrados no Nordeste. Além da
inscrição no Bolsa Família, o governo deveria oferecer a esses condenados à
escuridão perpétua o acesso a cursos que ensinem a escrever coisas como "Nós
pega os peixe". Virariam analfabetos funcionais. E pelo menos poderiam sonhar
com a Presidência da República.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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