Por Augusto Nunes
Com
tantos ministros que começaram a mentir ainda no berçário, Dilma Rousseff
confiou ao caçula do primeiro escalão a tarefa de explicar os motivos da parada
em Lisboa da comitiva presidencial. Péssima ideia, confirmou o álibi costurado
às pressas pelo chanceler Luiz Alberto Figueiredo. Segundo o novato em
invencionices, a escolha de Portugal para a indispensável "escala técnica"
ocorreu no sábado, horas antes do início da viagem de volta, e foi uma decisão
conjunta da Aeronáutica e dos institutos de meteorologia.
"Havia
duas possibilidades: ou o nordeste dos Estados Unidos, ou parando em Lisboa,
onde era o ponto mais a oeste do continente", afirmou Figueiredo nesta
segunda-feira, depois do desembarque em Havana. "Viu-se que havia previsão de
mau tempo com marolas polares nos Estados Unidos. Então houve uma decisão da
Aeronáutica de que o voo mais seguro seria escala em Lisboa". O ministro das Relações
Exteriores deveria ter combinado com os portugueses, atestou a reportagem
publicada pelo Estadão nesta
terça-feira.
Diretor
do cerimonial do governo de Portugal, o embaixador Almeida Lima revelou ao
jornal que foi incumbido na quinta-feira passada de recepcionar no fim de
semana a comitiva brasileira. Portanto, o diplomata sabia desde o dia 23 da
escala que, segundo Figueiredo, só foi decidida no dia 25. Também o chef alemão
Joachim Koerper, um dos sócios do restaurante Eleven, foi informado com 48
horas de antecedência do desembarque tratado como segredo de Estado pelo bando
de viajantes. "As reservas foram feitas pela Embaixada do Brasil", contou
Koeper. "Fui contatado na quinta-feira".
Se
Dilma tivesse sucumbido a um surto de sinceridade e confessado que parou em
Lisboa porque gosta de suítes presidenciais e comida portuguesa de alta
qualidade, o episódio seria confinado no espaço reservado pela imprensa a
caprichos perdulários. Conjugados, o sigilo que não deu certo e as trapalhadas
do chanceler comprovaram que o governo mente até quando não precisa, ou mesmo
quando sabe que ninguém vai acreditar na conversa fiada. Figueiredo, por
exemplo, jurou que "cada um pagou o seu e a presidente, o dela, como ocorre em
todas as viagens".
Até
os bacalhaus devorados pela turma estão cansados de saber que, como todas as
outras, também a conta da noitada no Eleven será espetada no bolso dos
brasileiros que pagam impostos.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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