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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"Querem que eu pare de criticar o governo. Mas o governo não ajuda!"



Por Ricardo Setti
A grande, esmagadora maioria dos leitores do blog demonstra equilíbrio e bom senso, inclusive nas críticas feitas ao blog, ao blogueiro, a suas ideias.
Uma pequena parcela parte para a baixaria, não raro concordando com o conteúdo dos posts, mas usando linguagem impublicável. Há outros que lançam mão dessas ofensas contra o blog, o colunista, a revista VEJA, e igualmente têm seus comentários remetidos à lixeira.
Ultimamente, vem acontecendo que certos leitores me acusam de "só saber criticar", especialmente o governo lulopetista.
"Só saber criticar" significaria, então, que todos os mais de OITO MIL textos já publicados aqui desde que o blog passou a existir, a 13 de setembro de 2010, criticavam alguém, alguma coisa ou alguma entidade, de preferência o governo.
O que é uma loucura, de tão exagerado e absurdo.
Sou, sim, um crítico do lulopetismo, mas muitas vezes reconheço e reconheci, neste espaço, posturas e medidas positivas adotadas pelos três governos do PT - o que, aliás, me levou a, em cada ocasião, ser quase apedrejado por leitores radicais em seu oposicionismo.
Fiquemos no governo Dilma, o que tem levado certos leitores a reclamarem que eu "só sei criticar". Desde que Dilma tomou posse, porém, postei vários textos simpáticos a atitudes ou a medidas tomadas pela presidente, a começar por comentários, em diferentes ocasiões, a algo essencial, que seu antecessor não ostentava - um grau infinitamente maior de compostura no exercício do cargo.
Vou lembrar apenas uma das medidas que aplaudi, e que, para minha surpresa, obtiveram pouca repercussão até na imprensa pró-governo e nos blogs alugados.
Explicitei o quanto gostei da disposição da presidente de não mais empurrar com a barriga algo fundamental para a sobrevivência da previdência do funcionalismo público, finalmente fazendo aprovar, com a maioria de que dispõe no Congresso, lei que regulamentava uma reforma na Constituição feita no longínquo ano de 2003, que fixou o teto do INSS como padrão também para os novos funcionários públicos e instituiu fundos de previdência complementar, optativos, para aqueles que quiserem manter, aposentados, seu poder aquisitivo quando da ativa.
Lula sentou-se em cima da emenda constitucional aprovada, demorou quatro anos para enviar projeto de lei regulamentando-a e depois não mexeu uma palha para que o projeto fosse aprovado.
Dilma, porém, levou a sério a questão e o resultado foi a lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012 - uma bênção futura não apenas para a previdência, mas para as próprias contas públicas. (Veja clicando aqui como está complicada a situação do déficit da Previdência dos trabalhadores em geral.)
O Congresso mexeu para pior no projeto e criou três fundos, um para cada Poder. Melhor seria um único, mas mesmo assim, graças ao emprenho de Dilma, as coisas vão melhorar muito e médio e longo prazo.
Mas há tantas coisas negativas… Vejam-se a inflação, o estado das contas públicas, a situação da Petrobras, as intervenções exageradas na economia, afastando investidores internacionais, os gastos absurdos com a Copa do Mundo, as obras do PAC que se arrastam.
Como não criticar quando se lê, por exemplo, o que publica o blog Dinheiro Público & Cia, do jornal Folha de S. Paulo. Vejam um trechinho, eu volto em seguida, depois do texto em itálico:
Em 10 anos, comissionados no governo passam de 17,6 mil para 22,6 mil
"Enquanto o número de ministérios cresce para acomodar as dezenas de partidos aliados ao governo federal, a quantidade de postos comissionados se expande em cifras ainda maiores.
Nos últimos dez anos, os ministros passaram de 35 a 39. Subordinados a eles, os ocupantes de cargos de livre nomeação no Poder Executivo passaram de 17,6 mil, no final de 2003, para 22,6 mil em outubro de 2013, segundo os dados mais atualizados.
Esses cargos são conhecidos como DAS (Direção e Assessoramento Superior) e abrigam, como o nome indica, nomeados para funções de comando ou assessoria. São classificados, conforme a hierarquia, de 1 a 6.
A multiplicação dos DAS está concentrada nos escalões mais altos, os mais utilizados nas negociações entre o governo e os partidos de sua base de sustentação.
Ao longo da administração petista, o número de ocupantes de DAS 4, 5 e 6 saltou 46% em uma década, chegando a 4.814. Nesse grupo estão os secretários de Estado, chefes de gabinete, assessores especiais e diretores".

A grande malandragem é que a lei obriga a que 75% desses cargos, chamados "de confiança", sejam atribuídos a funcionários concursados, de carreira. E o que ocorre? Ocorre que são preenchidos os de arraia miúda. Os cargos de salários maiores ficam, quase todos, concentrados nesses 25% de absurda livre nomeação.
Em outras palavras, o camarada que entra pela na janela no serviço público - sem ter se preparado para concursos, sem ter comprovado suas habilitações em provas muitas vezes rigorosas - passa a ter mais poder e a ganhar mais do que os servidores de carreira.

O pior de tudo é o conceito de "confiança".
O funcionário trazido para trabalhar com um ministro ou com um secretário-geral de Ministério, ou com algum outro chefão, é alguém "de confiança" dele - o que significa muitas vezes que é cupincha do partido, é amigo ou é parente.
A única "confiança" que deveria valer no serviço público é a confiança que a sociedade deposita no bom servidor, no servidor que provou sua competência em concurso, que está habilitado a exercer as funções e que, graças a seus esforços, poderá subir na carreira.
A confiança do público no funcionário público devidamente admitido.
Mas não. O que vigora, para os cargos de melhores salários, é a "confiança" matreira.
Dilma não mexe nem vai mexer uma palha nisso - porque, afinal, teve que inchar todo um Ministério para agradar os partidos que a apoiam, este é um ano eleitoral e, portanto, a confiança da sociedade no servidor habilitado que vá para as calendas gregas.
Não é para criticar, então?
Fonte: "Política & Cia"

 

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