Por
Augusto Nunes
Alguma alma caridosa precisa contar ao neurônio solitário que toda obra física de grande porte é complexa. Se construir estádios fosse simples, como disse Dilma Rousseff no encontro na Suiça com Joseph Blatter, as arenas prometidas há seis anos estariam prontas. E a presidente da República não precisaria submeter-se às humilhantes cobranças do presidente da Fifa.
Enquanto se explica com os gringos que exploram o futebol mundial, a supergerente de araque finge que não tem de explicar-se com os nativos lesados pelos farsantes que forjaram o conto da Copa. O que dirá aos pagadores de impostos forçados a bancar a farra multibilionária - anabolizada pela irresponsabilidade do BNDES - promovida pelo Planalto em parceria com governadores, prefeitos, cartolas e empresários de estimação?
A reconstituição do golpe atesta que os trapaceiros nem
esperaram pela oficialização da escolha do anfitrião do Mundial. A abertura de
mais uma versão da ópera dos malandros ocorreu em 15 de junho de 2007: numa
celebração no Planalto, Lula aprovou com sorrisos cúmplices e movimentos
verticais da cabeça o palavrório de Ricardo Teixeira, ainda no comando da CBF: "A Copa do Mundo é um evento privado. O papel do governo não é de investir, mas
de ser facilitador e indutor".
Quatro meses mais tarde, o embusteiro reincidiu no Rio: "Faço
questão absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder
público nada gastará em atividades desportivas". Em 4 de dezembro de 2007,
depois de avisar que falava em nome de Lula, o ministro do Esporte, Orlando
Silva, avalizou as promessas do parceiro hoje homiziado em Miami, a um oceano
de distância do camburão.
"Os estádios para a Copa do Mundo serão construídos com dinheiro
privado", disse o ministro que também se transformaria em caso de polícia. "Não
haverá um centavo de dinheiro público para os estádios". Conversa de 171,
sabe-se hoje. Oficialmente, o governo federal confessa ter enterrado R$ 4
bilhões nas arenas superfaturadas. O desperdício real foi bem maior e muito
mais obsceno, provará a abertura da caixa preta da Copa da Roubalheira.
As maracutaias não contabilizadas continuam à espera da ofensiva
dos políticos ditos oposicionistas, das reações vigorosas dos brasileiros que
não capitulam nem se juntam à manada, das ações do Ministério Público e da mão
pesada da Justiça. Entre tantas bandalheiras, é preciso investigar com
urgência, por exemplo, a origem e o destino do dinheiro que saiu pelo ralo da
reforma do Maracanã ou da construção do Itaquerão.
As duas obras deveriam custar cerca de R$ 500 milhões cada
uma. A primeira passou com folga de R$ 1 bilhão. A segunda está chegando lá, o
que fará do novo estádio do Corinthians o fruto mais lucrativo da dobradinha
formada pela Odebrecht e por Lula. Pai do colosso, o ex-presidente que virou camelô
de empreiteira envolveu nos trabalhos de parto a mãe do PAC, o BNDES, o governo
estadual e a prefeitura de São Paulo, fora o resto. Quem ganhou quanto?
A cinco meses do jogo de abertura, o colapso do projeto em
execução no estádio do Atlético Paranaense informa que os espertalhões
perdulários ignoram limites. Irritado com o que viu por lá na última inspeção,
o secretário-geral Jerôme Walcke avisou que a arena de Curitiba seria excluída
do mapa da Copa se o ritmo das obras não obedecessem ao padrão Fifa.
Imediatamente, o orçamento subiu de R$ 265 milhões para R$ 319 milhões. O salto
de 20% será coberto pelos cofres públicos, que já financiaram 85% do que se
gastou.
A festança dos vigaristas vai acabar acordando as multidões que,
em junho passado, impuseram aos farristas algumas semanas de insônia e medo.
Milhões de brasileiros têm sido tratados como se fossem todos patriotas de
galinheiro ou otários profissionais. A Copa que seria o grande tiro eleitoreiro
de Lula pode acertar o pé de Dilma Rousseff.
Fonte: "Direto ao Ponto"
Fonte: "Direto ao Ponto"
Nenhum comentário:
Postar um comentário