Por Reinaldo Azevedo
Luiz
Inácio Inconformado da Silva não está sendo julgado no Supremo Tribunal
Federal, embora, a meu juízo, devesse. Supor que a quadrilha do mensalão tenha
se reunido naquela orgia de corruptos ativos e passivos, no embalo de peculatos
e gestão fraudulenta, sem a sua anuência vai além da ingenuidade, não é?
Trata-se mesmo de uma forma de cretinice. A Procuradoria-Geral da República, de
todo modo, diz não ter conseguido reunir indícios suficientes para denunciá-lo.
Nas conversas que mantém com interlocutores, reveladas por VEJA, Marcos Valério
diz o que a todos parece óbvio: "Lula era o chefe". É bem verdade que há outros
inquéritos que investigam outras franjas do mensalão - inclusive aquele que diz
respeito ao BMG e que corre na Justiça Federal de Minas. Nunca é tarde para
chegar ao Babalorixá de Banânia. Naquele caso, as pegadas de Lula parecem muito
claras.
O
Apedeuta resiste, para usar palavra de sua predileção sobre si mesmo, a
"desencarnar". E agora, na sua compreensão sempre perturbada da democracia -
espero que aquele rapaz que resenhou meu livro, o tal Bernardo Mello Franco,
não se abespinhe por eu estar "atacando" Lula -, resolveu que existe uma
contradição inelutável entre o "STF" e o "povo". Um estaria de um lado, e o
outro, de outro!!! Na coluna Holofote da VEJA desta semana, lemos a seguinte
nota:
"'Eu não vou deixar que o último capítulo de minha biografia seja escrito pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Quem vai escrevê-lo é o povo'. Foi com essa frase que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou um almoço com um ex-ministro há duas semanas. Lula não aceita a interpretação corrente de que a condenação dos mensaleiros e o fracasso do PT nas eleições representarão o fim de sua carreira política. O interlocutor ficou em dúvida se ele pretende voltar às urnas em 2014 ou se liderará uma campanha para tentar reverter a condenação dos mensaleiros."
"'Eu não vou deixar que o último capítulo de minha biografia seja escrito pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Quem vai escrevê-lo é o povo'. Foi com essa frase que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou um almoço com um ex-ministro há duas semanas. Lula não aceita a interpretação corrente de que a condenação dos mensaleiros e o fracasso do PT nas eleições representarão o fim de sua carreira política. O interlocutor ficou em dúvida se ele pretende voltar às urnas em 2014 ou se liderará uma campanha para tentar reverter a condenação dos mensaleiros."
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As dúvidas desse interlocutor não fazem sentido político e jurídico. Comecemos por este último: a decisão do STF é irrecorrível. Os "embargos infringentes" então mais para "embargos auriculares", que se fazem só nas orelhas do interlocutor. A maioria dos réus, até agora, está condenada por placar expressivo. Há casos de 11 a zero, 10 a zero (depois da saída de Cezar Peluzo), 10 a 1, 9 a 2… O que Lula pretende fazer? Mandar os bate-paus do petismo cercar o Supremo de tacape na mão? É retórica balofa para realidade frouxa, oca.
As dúvidas desse interlocutor não fazem sentido político e jurídico. Comecemos por este último: a decisão do STF é irrecorrível. Os "embargos infringentes" então mais para "embargos auriculares", que se fazem só nas orelhas do interlocutor. A maioria dos réus, até agora, está condenada por placar expressivo. Há casos de 11 a zero, 10 a zero (depois da saída de Cezar Peluzo), 10 a 1, 9 a 2… O que Lula pretende fazer? Mandar os bate-paus do petismo cercar o Supremo de tacape na mão? É retórica balofa para realidade frouxa, oca.
No que
concerne à política, qual a saída? Dar um pé em Dilma e tomar o lugar dela como
candidata natural à reeleição? No petismo, atenção!, há entusiastas de sua
candidatura ao governo de São Paulo. É… Talvez pudesse tentar. Não custa
lembrar que este senhor perdeu todas as disputas se considerarmos só o
eleitorado do Estado. Se dependesse só de São Paulo, ele e Dilma nunca teriam
sido eleitos presidentes da República. Luiz Inácio Faroleiro da Silva pode
correr esse risco? Muitos ficarão francamente melados de emoção. Se der certo,
bem… Se não der, será um enterro político sem glórias.
O
desempenho vexaminoso do PT nas capitais - e tudo indica que o resultado será
muito ruim nacionalmente - demonstra que seus poderes mágicos eram frutos da
mística e da mistificação. Não! O eleitorado não faz o que Lula manda. E ponto!
Se Fernando Haddad passar para o segundo turno em São Paulo, o projeto do
chefão manco do PT ganha sobrevida porque é bem provável que Russomanno não
tenha fôlego para a segunda rodada. Se não passar, os tais coelhos que ele
prometeu assar quando se tornasse ex-presidente o aguardam…
Lula
está desesperado. Ontem, os petistas fizeram dois comícios na Zona Leste da
cidade. O Apedeuta, que disputou uma vez o governo de São Paulo e cinco vezes a
Presidência - tendo sido eleito, então, depois de quatro derrotas para cargos
executivos -, recomendou, com a grosseria que lhe é peculiar, que José Serra se
aposentasse… Sabem o que é fabuloso? No próximo dia 27, o petista completará 67
anos. É apenas três anos mais novo do que o tucano - diferença que, convenham,
a partir, sei lá, dos 20, já não faz mais… diferença! Dia desses, afirmou que,
caso Dilma não queira se candidatar à reeleição (era um convite…), ele
aceitaria a parada. Se isso viesse a acontecer, estaria com 69 anos…
Não
pensem que Lula está brincando quando recomenda que o adversário se aposente!
Ele fala a sério. E agora começo a ligar os pontos, leitor: o homem que não
reconhece a autoridade do Supremo e pensa em apelar ao "povo" para contraditar
o tribunal é o mesmo que não reconhece a legitimidade do adversário e da
oposição. Quando sugere a aposentadoria de Serra, está deixando claro que não
quer vencer o seu opositor, mas eliminá-lo do jogo político.
Esse
demiurgo inescrupuloso pode avançar também para a delinquência política pura e
simples. Referindo-se a Marta Suplicy, que estava presente ao comício, afirmou
que "não deixaram Marta se reeleger" por ela "se meter a fazer
coisas para os pobres".
"Não
deixaram"??? Quem "não deixaram", cara-pálida? Em 2004, Serra foi eleito contra
Marta pelo povo. Em 2008, Kassab foi eleito prefeito contra Marta pelo povo!
Entendi: o Babalorixá de Banânia não reconhece o poder do Supremo, não
reconhece a legitimidade da oposição e não reconhece nem mesmo a autoridade do
povo se este não votar em quem ele manda. Entendo seu nervosismo: o PT perdeu a
eleição para o governo de São Paulo duas vezes (2006 e 2010) e a para a
Prefeitura duas vezes (2004 e 2008) com ele na Presidência da República,
tentando dar ordens aos paulistas e paulistanos.
Lula
não se conforma de não ser o nosso Maomé, ainda que certa imprensa faça esforço
para isso. É que eu não sou um exímio desenhista, viu, Mello Franco? Se fosse,
agora faria uma charge de Lula pendurado na brocha do próprio rancor.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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