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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

"Vamos passear pela Idade Média"

Por Sandro Vaia
No Irã, na Coréia do Norte, na China e agora em Campo Grande, no vistoso Estado do Mato Grosso do Sul, o Google passa por maus bocados.
Um candidato a prefeito do PP, um certo A. Bernal, que por sinal trabalha como "comunicador", uma espécie de Russomano pantaneiro, se sentiu ofendido com um post colocado no Youtube por alguns inimigos políticos, e provocou a prisão, pela Polícia Federal, do diretor do Google no Brasil.
Um juiz de Campo Grande mandou soltar o homem logo e evitou que o mundo se divertisse por mais tempo com a bizarrice. Seria mais ou menos como mandar prender o diretor do Correio pela entrega de uma carta malcriada.
Ainda não aprendemos a lidar direito com as novas tecnologias e confundimos plataformas de distribuição com produtores de conteúdo.
Estamos destinados a produzir ainda muitos episódios pitorescos que nos tornarão constrangedoramente
semelhantes a ditaduras que ainda envergonham o planeta.
A proibição da exibição do trailer do grotesco documentário "Inocência dos Muçulmanos", que tem provocado explosões de ira islâmica no mundo, é outro episódio dessa ridícula onda de intolerância.
Não é só no Google que os ventos não sopram a favor da liberdade de expressão. A vontade incontrolável de dirigir a opinião alheia é uma doença incurável do espírito humano.
O diretor de comunicação do PT, deputado André Vargas, no bojo de um ridículo manifesto do partido agredindo a Justiça, em função do julgamento do Mensalão,escreveu com todas as letras que a transmissão direta das sessões do STF constituía "uma ameaça à democracia".
O jornalista Fabio Pannunzio, da TV Bandeirantes, anunciou na última quarta-feira, que estava abandonando a
publicação de seu blog em função da perseguição que lhe vem sendo movida judicialmente pelo secretário da Segurança de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, pelas críticas que o jornalista tem publicado com relação à atuação da polícia paulista e mais especificamente da Rota.
Como se não bastasse tudo isso, há ainda a nova ofensiva obscurantista movida por entidades racialisticamente corretas contra a obra de Monteiro Lobato: querem retirar das salas de aulas dois dos clássicos da literatura brasileira, que ajudaram a formar milhões de crianças - 'Caçadas de Pedrinho' e 'Negrinha' - porque Tia Nastácia foi vista subindo em árvores "como macaca de carvão". O que seria então do Otelo de Shakespeare?
Em pleno começo do século XXI , estamos sendo convidados a passear pelos cenários da Idade Média. Péssima viagem a todos.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista "Afinal", diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de "O Estado de S.Paulo".
Fonte: "Blog do Noblat"

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