Por Ricardo Noblat
O Partido da Imprensa Governista
(PIG) começou a descer o pau no ministro Joaquim Barbosa, relator do processo
do mensalão.
O PIG é parente da imprensa chapa
branca que sobrevive da caridade oficial. Basicamente, é o conjunto de blogs,
sites e portais que serve ao governo e aos partidos que o apoiam.
Trata-se de mais um aspecto da
herança pesada deixada por Lula para Dilma, por mais que ela negue.
Por que Joaquim virou alvo de
malhação?
Porque o desempenho dele até aqui
desagrada ao PT. Porque ele deve a Lula sua nomeação para o Supremo Tribunal
Federal (STF) e, no entanto, atua com a independência que se espera de todo
juiz.
Registre-se por dever de ofício: ele
e outros ministros indicados por Lula e Dilma. Nem todos.
Naturalmente, o PIG está impedido de
expor com clareza as razões de sua revolta contra Joaquim. Seria insensato
fazê-lo.
Correria o risco de perder seus
poucos leitores tamanho é o prestígio de Joaquim nas chamadas redes sociais.
Ali ele virou uma espécie de anjo vingador. Um anjo preto, zangado, irritadiço
e sempre à beira de um ataque de nervos.
Sem audiência, para quê sustentar o
PIG? Só para que continuasse a disseminar intrigas durante períodos eleitorais?
Para que funcionasse como laboratório onde se testam palavras de ordem? Ou para
que seguisse defendendo aliados do governo?
Collor, Sarney, Renan - toda essa
gente conta com a ajuda do PIG quando se lhe apertam os calos. Sem utilidade,
adeus patrocínio!
O PIG argumenta que Joaquim está
sendo muito rigoroso com os réus do mensalão. Como se rigor fosse um exagero e
a condescendência o mais aconselhável.
Não ria: membro mais afoito e mais
bem remunerado do PIG comparou Joaquim a inquisidores da Idade Média que
torturaram e mataram. Seria o nosso Torquemada!
No fim do século XV, na Espanha, o
dominicano Tomás de Torquemada, promovido a inquisidor-geral pelo papa
Inocêncio VIII, recomendava parafusos nos polegares dos heréticos enquanto
rezava contrito e baixinho pela salvação de suas almas.
Se Joaquim procede como ele, o STF
virou o endereço nobre e espaçoso dos novos inquisidores.
Sim, porque Joaquim não julga
sozinho.
Na última segunda-feira, por exemplo,
ele condenou Ayanna Tenório, uma das diretoras do Banco Rural, o financiador de
parte do mensalão. E aí?
Aí que Ayanna acabou absolvida por 9
votos contra um. Ninguém no STF é voto de cabresto de ninguém. Um homem, um
voto.
De resto, as decisões do STF no
processo do mensalão estão sendo tomadas por larga maioria de votos. É isso, e
apenas isso o que está tornando possível até agora o próprio julgamento. O
julgamento mais longo e complexo da história da Corte Suprema. Que não tem data
para terminar. E que não se sabe como terminará.
Em dezembro de 2005, quando ficou
pronto o relatório da CPI dos Correios que apurou o esquema do mensalão, Lula
se recusou a lê-lo. Disse que só lhe interessava a palavra final da Justiça.
Depois se antecipou à Justiça e
decretou que o mensalão não passara de uma farsa. Delúbio Soares preferiu
chamá-lo de futura "piada de salão".
Joaquim Torquemada e sua equipe de
torturadores concluíram que de farsa o mensalão nada teve. Assim como também
nada teve de engraçado.
A prática de corrupção entre nós não
cessará com a condenação dos réus do mensalão. A impunidade, talvez, a depender
da força da bordoada que acabe levando.
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Ainda bem, Joaquim Barbosa existe. Nunca esperei algo diferente da parte dêle. Se a impunidade acabasse, grandes chances da corrupção diminuir, com certeza. Portanto, que a bordoada seja das boas.
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