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segunda-feira, 4 de maio de 2009

"A cara do cara"

Comentário de Ricardo Noblat em seu blog:
"Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia", debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso.
Tolice.
O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.
Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado?
Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles.
O poder cobra um preço alto aos que o exercem.
Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.
Depois de o Senado e da Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices.
A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu.
A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?
O crime é o seguinte, presidente. No Direito Privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito Público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite.
E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus Estados – com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro.
Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos.
Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?
Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo.
A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido.
Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias.
Coitadinhos... Morro de pena deles.
Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando - mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava.
Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade – ou mais - dos brasileiros está ligada nela.
Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos.
Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pos os pobre em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição.
Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores.
Exemplos?
Poupem-me. Eles existem a mancheias.

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