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quarta-feira, 21 de maio de 2008

"Otários! Sim, somos um bando de otários..."

Comentário de Ricardo Noblat no seu blog, que transcrevemos:
Otários! Sim, somos um bando de otários...
Depois de tudo até aqui ainda aparecem um Zé Aparecido e um André. Uma história que deveria ser a mesma, mas que tem duas versões e muitas lacunas. Nenhuma delas monta, como se diz no cinema. Ambas desrespeitam a inteligência e as chamadas instituições democráticas.
Mais uma vez banalizam as CPIs, transformadas em jogo de cartas desbotadas ao sabor da força dos votos do governo no Congresso em parceria com hábeis e criativos advogados de defesa dos envolvidos. Vale tudo desde que a verdade verdadeira não apareça nunca, jamais.
Dessa vez conseguiram a proeza de desmoralizar a mentira.
No passado, a mentira era tratada com respeito, solenidade, tapete vermelho, reverência, vênia. Ninguém saía por aí improvisando mentiras. Se o fizesse, pegaria mal - e as mentiras, de sua parte, não pegariam. Havia até um certo sentimento de admiração coletiva diante de quem mentia muito bem.
Tristes tempos esses em que a mentira acabou no esgoto.
No caso de Zé Aparecido e de André, ela foi oferecida on-line e ao vivo aos poucos brasileiros que ainda se dispõem a acreditar em outra mentira corrente: investigações no Legislativo ou no Judiciário buscam a verdade - e a encontrão, podem crer. Onde e quando? Não se sabe.
E assim assistimos um especialista em auditoria, até outro dia chefe da Secretaria de Controle Interno da Presidência da República, afirmar com a maior desfaçatez que recebeu uma planilha com informações a serem enviadas para uma CPI que ainda estava no forno. E que sequer teve a curiosidade de dar uma espiadinha no seu conteúdo.
Mais cedo, e também sem corar, havia dito que despachara a tal planilha “por engano”, assim “sem querer”, “sem nem perceber”, para um amigo, experiente colega de profissão, servidor do gabinete de um destacado senador da oposição. Valera-se para isso de um prosaico e-mail.
Craque em CPIs, destinatário da planilha, por sua vez André contou que se sentiu chocado com o presente - de fato um dossiê com despesas sigilosas do governo de Fernando Henrique Cardoso. Mais do que chocado: sentiu-se indignado. Porque interpretou o gesto distraído de Zé como uma tentativa de intimidação. Foi como se tivesse ouvido diretamente da boca dele:
- Cuidado, temos munição estocada para atirar na oposição se ela quiser investigar a fundo as despesas com cartão corporativo feitas pelo atual governo.
E como André reagiu à ameaça? Apenas respondeu a Zé de maneira normal e educada. Ruminando a sua raiva, continuou de férias. E só na volta delas, mais de 10 dias depois, decidiu apresentar a planilha/dossiê ao senador, seu chefe.
Quer dizer: André tinha na mão o tal documento a respeito do qual a imprensa tanto especulava, a prova da marca de batom na cueca do governo, a bala que matou Kennedy, a última Coca-Cola do deserto. Mesmo assim preferiu permanecer de férias “pensando no assunto”.
Está bom? Tem mais.
Apesar de ter ter interpretado o gesto de Zé como uma poderosa ameaça, André ainda o convidou para almoçar. Gastaram duas horas em um social básico. Zé parecia estar "apavorado", segundo André. O "apavorado" era André, segundo Zé.
Os dois confraternizariam mais uma vez quando Zé aniversariou. Só romperam a amizade quando André dedurou Zé.
Resta-nos como otários de carteirinha esperar o fim das investigações da Polícia Federal para saber quem falou a verdade - Zé ou André. Ou para descobrir quem mentiu menos.
É recomendável, porém, que não apostemos todas as nossas fichas no trabalho da polícia.
Até hoje, por exemplo, ela não esclareceu o golpe cometido pelos "aloprados" - o bando de serviçais da campanha de Lula à reeleição que forjou um dossiê em 2006 para atanazar a vida de Geraldo Alckmin e de José Serra. E não esqueçam que naquele episódio havia mais do que a insustentável leveza de um simples e-mail - havia documentos, gente presa e mala de dinheiro.

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