Em 18 de março de 1975, há mais de 50 anos, o fechamento da Rádio Cultura de Feira de Santana, que teve seu funcionamento cassado.
O que motivou o fechamento da emissora, após suspensão de 15 dias, foi entrevista do então deputado federal Francisco Pinto, feita pelo radialista Lucílio Bastos, levada ao ar no dia 13 de julho de 1974, quando o parlamentar reiterou críticas ao presidente do Chile general Augusto Pinochet, presente em Brasília para a posse do presidente Ernesto Geisel. As palavras foram consideradas ofensivas ao chefe-de-estado de nação estrangeira.
A fala de Pinto virou peça do processo contra ele, movido pelo ministro da Justiça Armando Falcão, baseado na Lei de Segurança Nacional.
Francisco Pinto cumpriu seis meses de prisão especial no quartel do 1º Batalhão de Polícia Militar de Brasília.
A compilação das peças do processo que resultou no fechamento da rádio está no livro "O Processo de Cassação da Rádio Cultura", organizado pelo jornalista e memorialista Dimas Oliveira, em uma edição da Fundação Senhor dos Passos, através do seu Núcleo de Preservação da Memória Feirense Rollie E. Poppino, do qual Dimas é integrante.
A obra é resultado de pesquisa feita a partir de material disponível no Arquivo Nacional, instituição que é responsável pela preservação e difusão de documentos da administração pública federal. Também são reproduzidos registros da imprensa sobre o episódio histórico. Reproduções de fotos e fac-símiles integram galeria de imagens.
"Os próprios fatos que compõem o livro falam por si. Não existe tomada de posição do organizador, que tão somente traz à luz documentos que estiveram como confidenciais, secretos e sigilosos", diz na apresentação Thomas Oliveira, que é filho do jornalista.
No prefácio, o jornalista e memorialista Adilson Simas, diz que "neste trabalho os leitores vão conhecer o retrato fiel do processo que culminou com a dolorosa cassação da Rádio Cultura, quando faltava apenas um ano para a emissora comemorar seu jubileu de prata, pois inaugurada em 28 de agosto de 1950".
Diz mais que "testemunhei o fato que o governo ditatorial buscou para cassar a concessão. Afinal, estava ao lado do radialista Lucílio Bastos quando este gravou a entrevista com Chico Pinto na Casa da Torre, residência de Oscar e Miriam Marques, diretores da emissora".
Em 28 de agosto de 1950, a inauguração da Rádio Cultura de Feira de Santana AM 700 khz, prefixo ZYN 24. A emissora foi fundada em 11 de julho daquele ano, por um grupo de empresários e políticos locais, dentre eles Eduardo Fróes da Motta, Almáchio Alves Boaventura, Salústio de Azevêdo, Hamilton Cohim, Mário Borges de Souza, Welf Ferreira Vital, Oswaldo Boaventura Newton Falcão, Gilberto Costa, Edite Marques, Ângelo Pedra Branca e Oscar Marques, que assumiu a presidência.
Sediada na rua Geminiano Costa, foi a segunda emissora da cidade. Sua programação incluía noticiários, programas de auditório transmitidos ao vivo e rádio teatro. Tinha como slogan: "Comunicação a serviço da liberdade de expressão e da religião".
Miriam Marques, esposa de Oscar Marques, assumiu a direção da rádio em 1972, permanecendo até 1975.
A Rádio Cultura foi reaberta dez anos depois, em 26 de julho de 1985.
A partir de 27 de setembro de 1994, a emissora passou a pertencer ao grupo de Rádio e televisão Rede Record e a chamar-se Rádio Difusão e Cultura Ltda., mas continua conhecida como Rádio Cultura.
O professor Luciano Ribeiro disse sobre o episódio histórico: "O fechamento da rádio causou um grande impacto na cidade. Ressalto que esse livro servirá de instrumento de busca em pesquisas sobre a história da cidade e do período da Ditadura. Eu conheci a rádio, vi a rádio funcionar, atuamos juntos no teatro, no auditório da rádio, e acompanhamos o fechamento da rádio. O deputado Francisco Pinto fez um discurso que foi reproduzido na emissora e em virtude disso a rádio foi fechada pela Ditadura Militar. Foi um marco no país. A rádio era muito popular e foi um impacto muito grande para a sociedade feirense, para a cultura e para a liberdade de imprensa".
Considerou mais que "Dimas trouxe tudo isso no livro, que é um livro de pesquisa que servirá para estudo desta e das próximas gerações. Fizemos teatro juntos, implantamos ações na área de cultura na década de 60, movimentávamos a cidade, realizamos muitos eventos aqui na Biblioteca Municipal. Dimas Oliveira é uma marca histórica de Feira de Santana".
O livro foi lançado em 13 de julho de 2018, na Biblioteca Municipal Arnold Silva.
A data lembrava 44 anos em que foi levada ao ar - em 1974 - a entrevista de Francisco Pinto, feita pelo radialista Lucílio Bastos.
O livro físico ainda pode ser adquirido em mãos do autor. Ou pode-se adquirí-lo no formato eBook Kindle na Amazon, pelo link: https://www.amazon.com.br/processo-cassa%C3%A7%C3%A3o-R%C3%A1dio-Cultura-ebook/dp/B07FFDY92W/ref=sr_1_5?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=dimas+oliveira&qid=1621032939&sr=8-5


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