Em seu perfil no Facebook, Alfonso Pérez Fanjul comenta:
"Falar das qualidades do filme 'Salomé', lançado em 1953 por William Dieterle depois de tantos passados desde a sua produção não é fácil, independentemente do que se diga seja bom ou ruim para o filme (na sua estreia, o filme teve ao par tão boas críticas quanto as absolutamente negativas).
O tratamento que a Bíblia dá à princesa Salomé (filha de Herodias e de Herodes Filipe I) cujo padrasto foi Herodes Antipas, governador da Galileia em tempos em que Cristo foi crucificado, não é muito extenso... Na verdade, nem o seu nome é mencionado, e é citada simplesmente como a filha de Herodias que dançou para Herodes, a lendária dança dos sete véus, prometendo-lhe este que lhe daria o que lhe pedisse... Por conselho de sua mãe, Salomé pediu-lhe que lhe entregasse a cabeça decapitada do profeta João Batista numa bandeja de prata.
A primeira vez que Salomé foi nomeada foi nos escritos de Flavio Josefo, historiador judeu e cidadão de Roma e que tratam da vida de Salomé e do seu casamento com Herodes Filipe II (meio-irmão do seu pai e, portanto, do seu tio).
Apesar da falta de mais informações de Salomé na Bíblia, a verdade é que, a nível cultural, Salomé aparece profusamente em pinturas, peça teatral (de ousada escabrosidade argumental de Óscar Wilde pois Salomé sente um fervo e doentio amor pelo Batista ) e que Richard Strauss transformou-se em ópera igualmente envolvida em escândalo... Dito isto, não foi nada estranho que o cinema mudo e o sonoro se ocuparão da figura de Salomé...
A versão cinematográfica de Salomé mais famosa foi a dirigida pelo citado William Dieterle e na qual Rita Hayworth interpretava a enteada de Herodes de forma muito incomum, pois estava apaixonada por Claudio (Stewart Granger) um centurião romano destacado em Jerusalém que segue as ensinamentos de João Batista (Alan Badel) e de um carpinteiro que chamam de Filho de Deus... Salomé acaba compartilhando as mesmas ideias de Cláudio...
O Batista acusa constantemente Herodias (Judith Anderson ) e o Rei Herodes Antipas (Charles Laughton ) de viverem juntos em um casamento ilegal (Herodias como eu disse, havia se separado do meio-irmão de Herodes, pai de Salomé para se casar e reinar com Herodes). Quando os protestos do povo se tornam perigosos para o reinado dos monarcas, Herodes mandará prender João... mas resiste a matá-lo como Herodias lhe exige, pois ele o considera um homem sábio.... Salomé, também convencida como Cláudio, de que João é o profeta que precede Jesus como 'Rei dos Judeus', decide-se a dançar para o seu lascivo padrasto (que a deseja secretamente, embora Herodias o saiba) com a pretensão de pedir-lhe a libertação de João; mas Sua mãe Herodias já preparou um plano enganoso (nas costas de Salomé) que levará João à morte.
Duvidar que Rita Hayworth foi maravilhosamente linda no seu papel de Salomé é perda de tempo... também o cenário não deixava de ser luxuosamente convincente e claro que 'a dança dos sete véus' exercida por Rita foi suficientemente ousada e sensual para deixar o respeitável satisfeito. Por que então todas as licenças e inexatidões que o argumento trazia irritariam os produtores do filme e os seus futuros espectadores? Falsidades, aliás, que começam desde os créditos do filme, fazendo-nos crer que o imperador Tibério tinha sido o substituto de Júlio Cesar após o seu assassinato, ou que a princesa Salomé foi banida de Roma para a Galileia pela sua vida licenciosa e que, curiosamente, tinha feito a viagem em o mesmo barco que levava o próprio Pôncio Pilatos, aquele que ia ser o prefeito daquela longínqua terra da Judeia onde Jesus Cristo foi crucificado pouco depois... Toda essa ficção, em absoluto constituiu um prejuízo para o sucesso daquela colorista 'Salomé'... Pelo contrário, o público ficou tão apaixonado que foi indicado para os prêmios Photoplay Adward (filmes favoritos do ano)...
O menos marcante artisticamente de 'Salomé' de Rita foi a interpretação forçada de Alan Badel no seu papel de João Batista, ficando muito longe da interpretação que Robert Ryan fez anos mais tarde (1961 ) em 'Rei dos Reis' no mesmo papel..."


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