Por Biaggio
Talento
Prefeito de Feira de Santana, o
município de maior população do interior baiano (612 mil habitantes) José
Ronaldo (DEM) enfrentou, recentemente, um colapso no transporte coletivo em
decorrência do recolhimento dos ônibus devido à licitação que selecionou duas
empresas paulistas para operar o sistema. Ele busca melhorar a mobilidade
urbana de Feira, com a implantação do sistema BRT, patrocinado pelo governo
federal.
Mesmo sendo de um partido
adversário do PT, mantém boas relações administrativas com os governos do
estado e federal. E, com as intervenções na mobilidade, se credencia para
disputar a reeleição em 2016.
Qual a origem da crise do transporte
coletivo de Feira de Santana que resultou na retirada de circulação dos ônibus
por 10 dias na cidade?
O sistema de transporte estava
ruim, mas tinha um contrato assinado com as duas empresas. Fizemos uma
licitação entre o final de 2004 e assinamos um contrato de dez anos com direito
de renovar por mais dez. O termino foi em janeiro de 2015. Essas empresas fizeram
de tudo para continuar, alegando direitos, mas todos foram negados pela
Justiça. Ai nós abrimos o novo processo de licitação. Duas empresas de São
Paulo venceram. Assinamos os contratos. As empresas antigas tinham contrato em
vigor até o dia 25 de agosto passado. Havia também uma solicitação de
prorrogação do contrato antigo até as empresas vencedoras do novo processo
licitatório ter os ônibus para colocar para rodar, pois a licitação obriga que
sejam colocados veículos zero quilômetro.
As duas empresas que exploravam o
serviço disputaram a nova licitação?
Não entraram. Não sei se foi
porque não tinham a documentação exigida ou não tinham condições de comprar uma
frota nova. Mas (os empresários) usaram outras pessoas para dificultar o
processo. Na verdade, o que eles queriam eram conseguir a manutenção do
contrato por entender que tinham direito de concessão por mais dez anos.
Qual o prazo das empresas vencedoras
colocar seus ônibus para rodar?
De quatro a seis meses para
apresentar todos os ônibus novos, um total de 270 veículos.
A paralisação ocorreu devido a
essa divergência...
No dia que acabou o contrato antigo, as empresas ainda sob contrato fizeram uma
parada. Dialogamos, eles rodaram mais um dia e meio. Depois, de forma
unilateral, sem nenhuma comunicação, retiraram novamente os ônibus. Ai o
diálogo ficou difícil.
Então foi uma retaliação?
Não há a menor dúvida disso.
Acharam que a prefeitura não teria condição de suportar a pressão das pessoas
com a falta de ônibus. Enfrentamos isso e sentimos que o povo não só entendeu
como encorajou a mudança.
O contrato não prevê punições para as
empresas num caso desses?
Sim. Nós temos vários processos
na Justiça contra essas empresas, por exemplo, cobrando impostos, multas por
deficiência no serviço prestado. Agora estamos entrando com uma nova ação
decorrente dessa quebra de contrato que causou dez dias de transtornos à
cidade. Diante disso solicitamos que as novas empresas buscassem uma maneira de
fazer uma substituição emergencial. Inicialmente não queriam, mas terminaram
sendo convencidas. Estão chegando na cidade com ônibus vindo de São Paulo e
locados. Hoje na cidade temos cerca de 100 ônibus rodando. Para o trabalho
emergencial creio que 170 a 180 veículos sejam suficientes. Acredito que em 15
dias se atinja o número.
São quantos passageiros por dia que
usam o transporte coletivo em Feira?
Cerca de 45 mil por dia. Mas a
ideia com o projeto novo que estamos implantando é atingir 65 mil passageiros por
dia. Vamos fazer campanha incentivando a população usar o transporte coletivo.
O contrato novo prevê que a idade média dos veículos não pode ser superior a
cinco anos. Junto com a nova frota de ônibus lançamos projeto de zona azul no
município para poder disciplinar o transito no centro de Feira e ter um certo
controle sobre o preço dos estacionamentos.
Os rodoviários das antigas empresas
foram aproveitados nas novas?
Um dos pontos importantes da
licitação era o nível de aproveitamento dos rodoviários. O percentual mínimo
foi de 70%.
A prefeitura vem enfrentando
resistência na implantação do sistema BRT. A acusação é que várias árvores da avenida Getúlio Vargas, onde o sistema será implantado, serão erradicadas.
Há um exagero sobre isso. Quando
o projeto foi lançado fizeram uma verdadeira guerrilha, que nós iríamos
transformar a mais bela avenida da cidade num deserto. Nós desmentimos isso. O
que há de verdade: entre as avenidas Getúlio Vargas e Maria Quitéria haverá um
"mergulhão", um túnel, por ser o local de maior estrangulamento no
transito da cidade. Lá é como se fosse o trecho do "Iguatemi" de
Salvador. Vamos acabar com o engarrafamento ai. Em cima desse local existem em
torno de 80 a 100 árvores que precisam ser retiradas. Ao longo do tempo nós
estamos plantando árvores nessas avenidas e em outros pontos da cidade. Nesse
trecho do "mergulhão" as que precisamos retirar vamos transportar
para replantar nos dois parques da cidade, trechos com muita água. Então as
árvores não serão cortadas.
Quem reclama do BRT ?
Existem grupos de candidatos ou
de prefeito ou vereador que tem tentado desgastar o projeto. Não há dúvida que
o BRT é um projeto importante, como foi no passado quando fizemos os viadutos,
também contestados na época e que hoje todos compreendem que foram necessários.
A verdade é que as avenidas Getúlio Vargas e Maria Quitéria vão ficar mais
urbanizadas do que estão. Toda a cidade que tem o sistema BRT tem aprovação da
população.
O senhor tem um relacionamento bom com
o governo federal, apesar de ser prefeito de um partido de oposição?
Já fui prefeito quando Lula era o
presidente. Nunca deixei de reconhecer e agradecer os recursos do governo
federal para Feira. Quando temos projetos e ideias e o governo lança alguma
linha de financiamento para as cidades, vamos lá em Brasília apresentar e temos
tido êxito nisso. Eu diria que de dezembro para cá está mais difícil em função
da crise econômica. Toda vez que o governador Rui Costa vem a Feira faço
questão de recebê-lo e tratá-lo com respeito. Não posso deixar de reconhecer
que ele me trata com a mesma distinção. Sempre procurei separar as questões
internas, políticas das administrativas. Não vou ficar com briga com a ou b.
Quero ver minha cidade melhorar.
O senhor tem alguma fórmula para
aprovar o BRT? Isso porque o prefeito ACM Neto de Salvador, do seu partido, não
tem conseguido receber os recursos para começar a obra e insinua haver
discriminação.
Quando apresentamos o projeto foi
bem antes de Neto. Nossa ideia nasceu em 2012, antes até da campanha política,
mas foi incorporada na campanha. O próprio prefeito da época Tarcízio Pimenta
também pensou o BRT para Feira. Quando a União abriu para apresentação de
consultas de projetos do tipo, Feira de Santana apresentou o projeto.
Depois que me elegi prefeito, em 2012, fui convidado a ir a Brasília e mantive
o desejo de que aquela consulta prosperasse, ai ocorreu. O momento de Feira de
Santana ocorreu, portanto, antes do momento de Salvador. Não sei se Salvador
foi apresentado na época. Não me lembro de ter visto o projeto na relação que o
governo federal tinha lá.
O senhor também pretende retirar os
camelôs do centro de Feira?
Os dois mil camelôs serão
transferidos para o Shopping Popular, um centro comercial que vamos implantar
por concessão num ponto a 350 metros das áreas onde ficam os camelôs. A
mudança, junto com o BRT, a Zona Azul as obras de urbanização vão aliviar o
centro.
Na campanha da sua eleição,
2012 o senhor disse que o eleitor de Feira não olhava muito se o
candidato a ou b era ligado ao governador ou ao presidente da República e
acabou acertando, pois conseguiu se eleger derrotando o candidato que tinha o
apoio do governador e presidente. Na eleição de 2016 o cenário não mudou, mas o
PT está em baixa.
Mantenho aquelas declarações.
Feira de Santana sempre foi um município independente. Em Feira sempre se
desvinculou eleição de prefeito com a de governador e presidente. No momento
estou focado na questão administrativa inclusive em função da crise econômica.
Eu continuo dialogando com as forças políticas de Feira.
Mas o cenário político para o senhor
disputar a reeleição melhorou com essa queda do PT, partido que lhe faz
oposição?
Os cenários nas outras eleições
eram bons. Nesse momento atual tem realmente mais um "tempero" pelo
que está ocorrendo em nível nacional com a Operação Lava Jato. Não vejo como
esse cenário nacional não interferir no processo político de 2016.
Como o senhor aparece nas pesquisa de
intenção de voto para a eleição de Feira, embora o pleito ainda esteja muito
longe?
Tenho conhecimento de quatro pesquisas divulgadas nos últimos 30 dias. Eu estou
numa faixa de 47% a 57% e o segundo colocado na faixa de 12%.
Entrevista publicada na edição desta segunda-feira, 31, do jornal "A Tarde"