"Queremos chamar a atenção
para o fato de que as mulheres de Lucas, exceto aquelas com as quais teve
relações 'à força', até certo ponto podem ser consideradas 'rebeldes'.
Ao consultar os trabalhos de
Sabino de Campos, Virgílio Reys, Arthur Cerqueira Lima, Amaury Correia de Araújo,
bem como a correspondência de alguns juízes do Termo da Feira sobre as mulheres
de Lucas, verificamos que não houve uma ligação permanente na vida do cativo.
Entendendo a violência praticada
por Lucas contra as mulheres como uma forma de violência contra a sociedade,
identificamos no personagem elementos que contrastam e assemelham-se as
atitudes e comportamento dos senhores das camadas dominantes.
Em lugar das escravas, o cativo preferia agredir mulheres não-escravas, brancas e mulatas. A virgindade de algumas foi paga em dinheiro e tecidos para vestir-se.
As reações das mulheres brancas eram respondidas com surras, cortes de navalha e ameaça de vingança contra os seus maridos e filhos. Antes da fuga definitiva, o cativo rebelde manteve ligações com a escrava Fulô.
Após formar o bando ele se envolveu com várias mulheres. De onze delas encontramos registros, e as classificamos em três categorias. Vale notar que não conseguimos dados precisos sobre a idade das mesmas. Os autores mencionados apenas classificaram-nas em adolescentes, moças núbeis, jovens adolescentes, senhoras casadas, ou que viviam respeitosamente com seus companheiros.
Assim, essas descrições nos permitiram apresentar números por aproximação. Na primeira categoria, como já nos referimos o rebelde prefere o aconchego da mulata Fulô, ligação que dura aproximadamente um ano, segundo Sabino de Campos. Essa escrava era também a predileta do feitor da fazenda Saco do Limão, Teotônio Madragoa. Preocupado com o perigo de ser capturado, Lucas abandonou Fulô.
Na segunda categoria, encontramos seis mulheres não escravas, de cor parda. Quatro delas permaneceram em poder do cativo um dia, e as outras duas, três meses.
A primeira dessas mulheres de que se teve notícia foi Bernardina. Era jovem, tendo ficado em companhia de Lucas durante três meses. Foi raptada, pelo personagem, numa fonte, enquanto lavava roupa. Passado esse tempo, ele a devolveu a seus pais.
Assimilando padrões de valor da sociedade brasileira, da época, Lucas procurou indenizar a virgindade da vítima mediante o pagamento com algumas peças de tecidos (chita e morim) e a quantia de quarenta e cinco mil réis (45S000.000). Ao pagar a virgindade da parceira, Lucas ameaçou os pais da moça de morte, caso o denunciasse à Polícia.
Maria Romana, a mais moça de todas teve ligação com Lucas também durante três meses. Tendo percebido o cerco dos perseguidores que haviam capturado em um dos seus ranchos, Romana o alertou e fugiram juntos. Quando Cazumbá atingiu o cativo com um tiro no braço esquerdo, Romana ajudou-o a conseguir medicamentos e fez-lhe os primeiros curativos. Contudo, essa mulher teve de fugir definitivamente, porque a Polícia ia proceder a uma busca na área da Tapera pertencente ao Termo da Feira.
Ana Gomes e as três moças de nomes ignorados permaneceram apenas um dia na companhia de Lucas, e foram violentadas. Ana, ainda virgem, tentou escapar das mãos do agressor, gritando e pedindo socorro, mas foi dominada. O pai de Ana, Manoel Gomes, tentando defender a filha, acabou morrendo esfaqueado. Depois do ato sexual, Lucas fugiu, pois foi cercado por vários vizinhos da moça, os quais juraram matá-lo. Outros autores, porém, afirmam que Ana conseguiu escapar e manteve-se virgem.
Na terceira categoria, encontram-se as duas filhas do lavrador Francisco Correa, Maria Torquata (conhecida por Mariquinha) e Eufrosina. Todas eram brancas. Duas eram solteiras, uma casada, e a última vivia maritalmente. Mariquinha era casada com o lavrador conhecido por José Vicente. Ela lutou com o cativo, auxiliada por seu marido, que acabou sendo morto. Também ameaçada de morte. Mariquinha foi obrigada a ceder ao assédio do escravo rebelde.
Posteriormente, Lucas invadiu a casa do lavrador Francisco Correa e tentou raptar suas três filhas; porém o pai das moças lutou com ele, mas foi derrubado a coice de arma. As moças aproveitaram-se da balbúrdia e se esconderam numa fazenda vizinha.
Meses depois, Lucas voltou ao local, enfrentou o lavrador socando-o num pilão, matando-o e, em seguida, desvirginou as três moças; sobrando apenas um irmão menor Joaquim Correa.
Sabino afirma que um companheiro de Lucas matou-o para que não quisesse vingar-se do agressor. Já Amaury diz ter sido ele o carrasco, no dia do enforcamento de Lucas. Eufrosina foi raptada pelo cativo nas proximidades da Vila da Feira.
Segundo Amaury Corrêa de Araújo, Lucas queria ter, em relação às moças brancas, os mesmos direitos que os fazendeiros e patrões tinham sobre as escravas.
Conta-se, também, que esse escravo, ao perder todos os companheiros do bando, capturados por perseguidores e pela Polícia, resolveu levar para casa uma moça branca, bonita que contava quinze anos, de nome Adélia. Não conseguindo manter relação sexual com ela, ter-se-ia exasperado e crucificado a donzela nos espinhos de um pé de mandacaru."
Fonte: Dissertação de Mestrado
apresentada por Zelia Jesus de Lima ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), sob a orientação do professor
doutor Ronaldo Salles de Senna, "Lucas Evangelista: O Lucas da Feira - Estudo Sobre
a Rebeldia Escrava em Feira de Santana 1807-1849".
Em lugar das escravas, o cativo preferia agredir mulheres não-escravas, brancas e mulatas. A virgindade de algumas foi paga em dinheiro e tecidos para vestir-se.
As reações das mulheres brancas eram respondidas com surras, cortes de navalha e ameaça de vingança contra os seus maridos e filhos. Antes da fuga definitiva, o cativo rebelde manteve ligações com a escrava Fulô.
Após formar o bando ele se envolveu com várias mulheres. De onze delas encontramos registros, e as classificamos em três categorias. Vale notar que não conseguimos dados precisos sobre a idade das mesmas. Os autores mencionados apenas classificaram-nas em adolescentes, moças núbeis, jovens adolescentes, senhoras casadas, ou que viviam respeitosamente com seus companheiros.
Assim, essas descrições nos permitiram apresentar números por aproximação. Na primeira categoria, como já nos referimos o rebelde prefere o aconchego da mulata Fulô, ligação que dura aproximadamente um ano, segundo Sabino de Campos. Essa escrava era também a predileta do feitor da fazenda Saco do Limão, Teotônio Madragoa. Preocupado com o perigo de ser capturado, Lucas abandonou Fulô.
Na segunda categoria, encontramos seis mulheres não escravas, de cor parda. Quatro delas permaneceram em poder do cativo um dia, e as outras duas, três meses.
A primeira dessas mulheres de que se teve notícia foi Bernardina. Era jovem, tendo ficado em companhia de Lucas durante três meses. Foi raptada, pelo personagem, numa fonte, enquanto lavava roupa. Passado esse tempo, ele a devolveu a seus pais.
Assimilando padrões de valor da sociedade brasileira, da época, Lucas procurou indenizar a virgindade da vítima mediante o pagamento com algumas peças de tecidos (chita e morim) e a quantia de quarenta e cinco mil réis (45S000.000). Ao pagar a virgindade da parceira, Lucas ameaçou os pais da moça de morte, caso o denunciasse à Polícia.
Maria Romana, a mais moça de todas teve ligação com Lucas também durante três meses. Tendo percebido o cerco dos perseguidores que haviam capturado em um dos seus ranchos, Romana o alertou e fugiram juntos. Quando Cazumbá atingiu o cativo com um tiro no braço esquerdo, Romana ajudou-o a conseguir medicamentos e fez-lhe os primeiros curativos. Contudo, essa mulher teve de fugir definitivamente, porque a Polícia ia proceder a uma busca na área da Tapera pertencente ao Termo da Feira.
Ana Gomes e as três moças de nomes ignorados permaneceram apenas um dia na companhia de Lucas, e foram violentadas. Ana, ainda virgem, tentou escapar das mãos do agressor, gritando e pedindo socorro, mas foi dominada. O pai de Ana, Manoel Gomes, tentando defender a filha, acabou morrendo esfaqueado. Depois do ato sexual, Lucas fugiu, pois foi cercado por vários vizinhos da moça, os quais juraram matá-lo. Outros autores, porém, afirmam que Ana conseguiu escapar e manteve-se virgem.
Na terceira categoria, encontram-se as duas filhas do lavrador Francisco Correa, Maria Torquata (conhecida por Mariquinha) e Eufrosina. Todas eram brancas. Duas eram solteiras, uma casada, e a última vivia maritalmente. Mariquinha era casada com o lavrador conhecido por José Vicente. Ela lutou com o cativo, auxiliada por seu marido, que acabou sendo morto. Também ameaçada de morte. Mariquinha foi obrigada a ceder ao assédio do escravo rebelde.
Posteriormente, Lucas invadiu a casa do lavrador Francisco Correa e tentou raptar suas três filhas; porém o pai das moças lutou com ele, mas foi derrubado a coice de arma. As moças aproveitaram-se da balbúrdia e se esconderam numa fazenda vizinha.
Meses depois, Lucas voltou ao local, enfrentou o lavrador socando-o num pilão, matando-o e, em seguida, desvirginou as três moças; sobrando apenas um irmão menor Joaquim Correa.
Sabino afirma que um companheiro de Lucas matou-o para que não quisesse vingar-se do agressor. Já Amaury diz ter sido ele o carrasco, no dia do enforcamento de Lucas. Eufrosina foi raptada pelo cativo nas proximidades da Vila da Feira.
Segundo Amaury Corrêa de Araújo, Lucas queria ter, em relação às moças brancas, os mesmos direitos que os fazendeiros e patrões tinham sobre as escravas.
Conta-se, também, que esse escravo, ao perder todos os companheiros do bando, capturados por perseguidores e pela Polícia, resolveu levar para casa uma moça branca, bonita que contava quinze anos, de nome Adélia. Não conseguindo manter relação sexual com ela, ter-se-ia exasperado e crucificado a donzela nos espinhos de um pé de mandacaru."
Um comentário:
Excelente belo conteudo
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