Por Reinaldo Azevedo
Se alguém espera ler aqui em meu blog a defesa de procedimentos
que agridam o Estado de Direito, pode amarrar o burro em outra página. Se eu
lesse as que assim procedem, talvez recomendasse alguma. Como sou muito ocupado
para isso, deixo para a livre escolha. Adiante.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
presidente da Câmara, afirmou nesta segunda que aceita, sim, fazer uma
acareação com Jueio Camargo, delator da Lava Jato, que, em testemunho ao juiz
Sergio Moro, no inquérito que investiga se houve corrupção no aluguel de
navios-sonda, o acusou de ter recebido propina de US$ 5 milhões.
Nota: esse mesmo Camargo há
havia negado quatro vezes ter feito tal pagamento. Segundo diz, tinha medo de
Cunha. Por que o perdeu subitamente? Consta que os procuradores o ameaçaram com
a perda de privilégios da delação premiada. Para um corruptor confesso, é mesmo
um homem cheio de… medos.
O pedido de uma acareação foi
apresentado à CPI da Petrobras pelo PPS. Cunha disse aceitar, mas indagou, com
absoluta propriedade, por que os que o querem cara a cara com o seu acusador
não fazem o mesmo com Dilma Rousseff, Edinho Silva e Aloizio Mercadante.
Recorramos às suas próprias
palavras:
"É oportunista de alguns querer falar de uma acareação comigo. Estou disposto a fazê-la a qualquer tempo. Agora também aproveitem e convoquem todos que estão em contradição. O ministro Mercadante e o ministro Edinho negam aquilo que foi colocado pelo Ricardo Pessoa. A própria presidente nega o que foi colocado pelo Youssef. Que se faça acareação de todos."
"É oportunista de alguns querer falar de uma acareação comigo. Estou disposto a fazê-la a qualquer tempo. Agora também aproveitem e convoquem todos que estão em contradição. O ministro Mercadante e o ministro Edinho negam aquilo que foi colocado pelo Ricardo Pessoa. A própria presidente nega o que foi colocado pelo Youssef. Que se faça acareação de todos."
Ora, leitor, você há de convir
que ele tem razão, não é mesmo?, pouco importa o que você pense a respeito do
deputado. Afinal, Alberto Youssef afirmou que Dilma sempre soube da corrupção
na Petrobras. Pessoa, dono da UTC, afirmou ter dado R$ 500 mil em dinheiro
vivo, por fora, para uma campanha eleitoral de Mercadante. E disse ainda que,
pressionado por Edinho Silva, que lhe lembrou dos contratos que mantinha com a
Petrobras, doou R$ 7,5 milhões para a campanha à reeleição de Dilma. Sobre
esses dois ministros, diga-se, nem mesmo inquérito existe.
Se cabe fazer uma acareação
entre Julio Camargo e Cunha, por que não, também, nesses outros casos?
Moro
Agora vamos a Sergio Moro. A defesa do deputado Eduardo Cunha apresentou ao STF, nesta segunda, uma reclamação contra atos do juiz. De novo, você pode achar que um é um santo, e o outro, um pecador. Não é o que está em debate. Nas democracias, as leis existem e têm de ser cumpridas.
Agora vamos a Sergio Moro. A defesa do deputado Eduardo Cunha apresentou ao STF, nesta segunda, uma reclamação contra atos do juiz. De novo, você pode achar que um é um santo, e o outro, um pecador. Não é o que está em debate. Nas democracias, as leis existem e têm de ser cumpridas.
Se Cunha era a peça central da
acusação que faria Julio Camargo no inquérito que apura corrupção no aluguel
dos navios-sonda, então é evidente que tal peça deveria ter sido enviada ao
Supremo, já que o presidente da Câmara detém foro especial por prerrogativa de
função. É o que está na Constituição, que ninguém tem o direito de violar - nem
Moro.
A defesa de Cunha pede ainda
que o Supremo considere nulas eventuais provas produzidas, nesse inquérito, sob
a condução de Moro, já que, é evidente, o juiz feriu a competência ao conduzir
uma investigação que tinha como alvo o presidente da Câmara. É o que diz a ordem
legal, que tem de ser respeitada.
Eu conto o que sei e vejo. Nas
demais fases da operação Lava Jato, mais de uma vez, o juiz Sergio Moro
interrompeu depoentes e testemunhas quando os nomes de políticos com foro
especial iriam ser citados. Há vídeos na Internet a respeito. E o fez
justamente para evitar que o processo migrasse para o Supremo, para que tudo
continuasse sob o seu controle. E por que foi diferente desta vez? Não tenho
resposta.
Como não tenho resposta para o
fato de que, mesmo antes do depoimento, todos já sabiam que Camargo havia
mudado a sua versão sobre Cunha. Eu não tenho, e ninguém tem.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário