Por Reinaldo Azevedo
Se a vida fosse como sonham os petistas, esta segunda começaria
sob novos auspícios. Aquele que o governo tinha como seu principal inimigo
está, obviamente, acuado pela acusação do lobista Julio Camargo e pela
avalanche de notícias negativas que a ela se seguiu. Refiro-me obviamente a
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Antes que siga, uma nota.
É evidente que o principal inimigo do governo nunca foi Cunha -
ele acabou se tornando, mas não era. As forças que mais atuam contra Dilma são
a herança maldita do PT, que durará gerações, a incompetência política do
governo e, num outro plano, Luiz Inácio Lula da Silva, que desestabiliza a
presidente em seu próprio terreno.
Querem um exemplo? Se Dilma não tivesse atravessado a rua só para
ser derrotada por Cunha na eleição para a presidência da Câmara, as relações
certamente teriam sido outras. Mas a mulher não quis conversa com a realidade.
Vamos seguir. Na quinta, Camargo muda a versão de uma série de
depoimentos anteriores e diz ter pagado, sim, propina a Cunha. No sábado, já é
manchete de jornal uma investigação que busca ligar ao deputado algumas contas
no exterior - e olhem que se trata de investigação, em tese, sigilosa. Como
esse tipo de especulação não vem à luz da noite para o dia, quem preparou esse
segundo material para ser divulgado só estava à espera do primeiro. Ou por
outra: estava tudo pronto para ser vazado, só aguardando que Julio Camargo
fizesse a denúncia. Eis aí.
Os jornalistas se divertem associando a figura de Cunha ao
sinistro Frank Underwood, da série "House of Cards". Pois é… A julgar pelo que
está em curso e, na hipótese, de que a associação faça algum sentido, então ele
não está só, não é mesmo? Há mais "Franks" à solta, como se pode ver. O boato
que circula é que as contas podem estar relacionadas a Cunha. "Podem"… E se não
estiverem? Bem, isso não importa. O trabalho já está feito.
Retomo
Volto ao ponto. Ainda que não se diga alto e com todas as letras, os magos do Palácio já dão Cunha como carta fora do baralho. Agora, para arremate, só aguardam que Rodrigo Janot ofereça denúncia contra ele. Se o Supremo aceitar, avança-se um pouco mais. O procurador-geral pode dar uma ajuda final com uma ação cautelar para que ele se afaste da presidência da Casa. O que quer que faça Cunha agora será tratado como coisa de gente ressentida, que foi pega com a boca na botija. Aliás, CPIs que, pela regra, têm de ser instaladas já entraram na lista das retaliações. Frank Underwood pode assumir várias faces e estar em vários lugares, não é mesmo?
Volto ao ponto. Ainda que não se diga alto e com todas as letras, os magos do Palácio já dão Cunha como carta fora do baralho. Agora, para arremate, só aguardam que Rodrigo Janot ofereça denúncia contra ele. Se o Supremo aceitar, avança-se um pouco mais. O procurador-geral pode dar uma ajuda final com uma ação cautelar para que ele se afaste da presidência da Casa. O que quer que faça Cunha agora será tratado como coisa de gente ressentida, que foi pega com a boca na botija. Aliás, CPIs que, pela regra, têm de ser instaladas já entraram na lista das retaliações. Frank Underwood pode assumir várias faces e estar em vários lugares, não é mesmo?
Ainda é cedo para decretar, como fazem os petistas e alguns
analistas, a morte de Cunha, mas é fato que o Planalto cravou um tento e tanto,
há muito buscado, há muito esperado. Voltemos a esta segunda-feria: seria o dia
de Dilma anunciar o novo amanhecer. Mas com o quê?
O que o governo tem a oferecer? É evidente que a hipótese do
impeachment ficou um pouco mais distante, ao contrário do que supõem muitos.
Sem a prova material, inequívoca, de que Ricardo Pessoa foi coagido a fazer
doações ao PT, é difícil que o TSE casse a diplomação de Dilma Rousseff. E
Janot, até aqui, não demonstra interesse em pedir que se abra ao menos um
inquérito para apurar a atuação da presidente, conforme autoriza jurisprudência
do Supremo.
Assim, o que sai reforçada até agora é a possibilidade de Dilma
permanecer mais três anos e meio no poder. Pra quê? Como diria Ascenso
Ferreira, o poeta pernambucano, "pra nada!".
Há uma possibilidade de a investigação sobre Cunha, ao fim e ao
cabo, depois de muito tempo, dar em nada? É claro que há. Vai que Camargo
estivesse falando a verdade antes de ser ameaçado, não depois… É que a natureza
do jogo não é distinguir culpados de inocentes, mas manter o controle da máquina
do estado.
Dilma ressurgirá mais forte nesta segunda.
Pra quê?
Pra nada!
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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