Por
Reinaldo Azevedo
A presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, seu
antecessor, postaram em suas respectivas páginas no Facebook uma foto do dia 26
de outubro, em que ambos aparecem abraçados, comemorando a reeleição.
Homenageavam, assim, um tal "Dia do Amigo" - aquele que, segundo música de
Milton Nascimento, deve ser guardado "debaixo de sete chaves". Nem diga! No
caso da dupla, se der para jogar a chave fora, melhor. Eu não posso reclamar da
parceria. Basta ter um pouquinho de talento e um tanto de esforço, e os textos
já nascem prontos. Eles os escrevem por nós com suas barbaridades.
Comecemos do óbvio: a foto marca o dia da consolidação de um
estelionato eleitoral sem par na história do país - e talvez das democracias
ocidentais. Dilma venceu naquele 26 de outubro, por estreita margem, assumiu no
dia 1º de janeiro, e, desde a posse, faz coisas que disse que não faria e diz
coisas que certamente não fará. Tudo o que ela imputou às intenções de seu
adversário, Aécio Neves, e que reputou como os males do mundo, compõe hoje a
sua agenda. É por isso que, sete meses depois da sua posse, amarga índices
inéditos de impopularidade.
Uma foto nunca retrata apenas o momento em que o flagrante é
congelado. Ela pode servir para iluminar e redefinir tanto o passado como o
futuro. Vamos lá: se a economia estivesse crescendo a taxas aceitáveis, se a
gestão fosse um exemplo de moralidade, se o país estivesse no rumo, então
aquele abraço significaria mais do que a amizade pessoal. A legenda poderia
ser: "É isso aí, companheiro! Estamos mudando o Brasil. A nossa luta é
vitoriosa". Mas olhem aí o que temos - e por responsabilidade exclusiva dos
governos Lula e Dilma. Aí, meus caros, não tem jeito. Só cabe uma legenda para
aquele instante: "Conseguimos. Enganamos os trouxas".
E não vai exagero nenhum nessa leitura. Tanto Dilma sabia parte do
que tinha de ser feito - e tinha e tem - e tanto havia a clareza que não seria
bom para os brasileiros, porque remédio não costuma ser gostoso, que ela expôs,
sim, a agenda: afirmou que Aécio elevaria as tarifas, que os juros subiriam,
que o desemprego cresceria, que haveria corte de benefícios sociais, que o país
estraria em recessão. É o que ela previa se seu adversário vencesse. Dilma, a
amiga, venceu, com o apoio de Lula, o amigo e elevou tarifas, subiu os juros,
cortou benefícios sociais, levou o país à recessão aberta e fez crescer o
desemprego. Vale dizer: eles enganaram os trouxas.
A foto não deixa de ter um caráter acintoso, dado o contexto.
Obviamente, tratou-se de uma ação combinada entre as duas assessorias, tanto é
assim que a mesma imagem apareceu, ao mesmo tempo, em suas respectivas páginas
no Facebook. Publicada no primeiro dia útil depois do fim de semana em que a
máquina oficial tentou decretar a morte política de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o
presidente da Câmara, a legenda também poderia ser esta: "Vencemos! Conseguimos
tirar aquela pedra do nosso caminho". Aliás, um dos memes que ganhou o país no "Dia do Amigo" foi justamente um foto em que Cunha e Dilma aparecem
juntos… Uma ironia mais do que eloquente.
Pois é… Aquele que está sendo abraçado pela presidente poderia, ao
menos, não ser ele também um investigado hoje, num procedimento que está na
Procuradoria da República no Distrito Federal. Mais ainda: dois ministros de
Dilma estão rigorosamente na mesma situação em que se encontra Eduardo Cunha:
Ricardo Pessoa, em delação premiada, diz ter repassado R$ 500 mil em dinheiro
vivo a Aloizio Mercadante (Casa Civil) e afirma ter doado R$ 7,5 milhões à
campanha de Dilma, por intermédio de Edinho Silva (Comunicação Social), que lhe
teria lembrado os vários contratos que a UTC mantinha com a Petrobras…
Convenham: para bom entendedor, meia ameaça basta.
O Congresso entrou em recesso. Por alguns dias, não saberemos se o
governo realmente conseguiu retomar a inciativa. Eu, sinceramente, me pergunto:
iniciativa do quê e para quê? Por enquanto, vejo apenas a celebração daqueles
que julgam ter derrotado seus inimigos, sem saber com que propósito venceram,
como naquele 26 de outubro de 2014.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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