Por Rodrigo
Constantino
A luta apenas começou. E a
vitória deles foi com gosto de derrota, pois sabem que vem chumbo grosso por aí
Após a batalha de Ásculo, o
rei Pirro, ao felicitar seus generais depois de verificar as enormes baixas
sofridas por seu exército, teria dito que com mais uma vitória daquelas estaria
acabado. Desde então, a expressão "vitória de Pirro" é usada para
expressar uma conquista cujo esforço tenha sido penoso demais. Uma vitória com
ares de derrota.
Eis a sensação dessa
vitória apertada de Dilma na reeleição. O Brasil está claramente dividido. A
máquina estatal foi colocada a serviço do projeto de poder do partido. Houve
denúncias de crime eleitoral, claro terrorismo com os dependentes dos programas
assistencialistas, ameaça aos funcionários públicos. As baixarias usadas pela
campanha da presidente, antes contra Marina e depois contra Aécio Neves,
entrarão para a história como as mais sórdidas da nossa democracia.
Bem que Dilma tinha avisado
que faria "o diabo" para vencer. Fez mesmo. E metade do país - a metade mais
esclarecida e honesta - ficou estarrecida com o que viu. Nunca antes na
história deste país se apelou tanto. O Brasil foi segregado. O "nós contra
eles" virou o mantra daqueles que tentam monopolizar o discurso em defesa dos
pobres, mas atendem, na verdade, aos interesses de uma elite corrupta e
carcomida.
Os velhos caciques
nordestinos celebraram, assim como Maluf e os mensaleiros presos na Papuda. O
tirano Fidel Castro também deu pulos de alegria, assim como Nicolás Maduro.
Kirchner, que vem destruindo a Argentina de forma acelerada, talvez com inveja
da capacidade destrutiva do camarada venezuelano, foi outra que vibrou com a
reeleição.
As urnas deram um resultado
legal, apesar de denúncias de fraude que deveriam ser averiguadas. Mas qual a
legitimidade de uma vitória tão apertada conquistada somente com base nas
táticas mais pérfidas e imorais que existem? É uma vitória que colocou boa
parte da classe trabalhadora de luto. Aqueles que pagam as contas do populismo
petista. Aqueles que não suportam mais tantos impostos, tanta demagogia, tanta
roubalheira.
A presidente Dilma falou em
união em seu discurso de vitória, mas soa muito falso, não convence. Como
ignorar todo o racha fomentado durante sua campanha indecente? Fingir que nada ocorreu
é impossível. O país chega completamente partido ao meio por obra do próprio
PT, que sempre precisou de inimigos e jamais colocou os interesses nacionais
acima do seu projeto de poder.
Além disso, Dilma terá a
verdadeira "herança maldita" agora pela frente. Não dará mais para culpar o
governo de FHC ou a "crise internacional", que faz os nossos pares emergentes
crescerem o dobro da gente com a metade da taxa de inflação. O que vem por aí -
e não será nada bonito de se ver - será colocado totalmente na conta da "presidenta". Não haverá mais bodes expiatórios.
A economia, hoje estagnada,
vai piorar ainda mais. A inflação, hoje muito elevada, vai subir ainda mais. O
desemprego vai subir. A Petrobras, hoje pilhada, será finalmente destruída. E a
roubalheira vai seguir seu curso, com a metade dos eleitores cúmplice,
conivente. As conquistas sociais estarão em risco, e talvez a esquerda
finalmente aprenda que não há dicotomia entre pobres e ricos, entre social e
economia.
Nossas frágeis instituições
serão testadas ao limite. Dilma herda um escândalo jamais visto, com evidências
de desvios bilionários na maior estatal do país, e com o doleiro do próprio
partido afirmando que ela e Lula sabiam de tudo. Se a denúncia for confirmada,
um processo de impeachment não está descartado. Collor, hoje aliado do PT, caiu
por muito menos.
Metade do Brasil finalmente
acordou. Os anos de lulopetismo serviram ao menos para isso: despertar a
indignação daqueles que são obrigados a pagar a fatura da irresponsabilidade,
da incompetência e da corrupção do PT. Estamos cansados. Estamos de luto. E
estamos, acima de tudo, vigilantes, atentos, de olho nos próximos passos do
governo, que flerta abertamente com regimes opressores que censuram a imprensa
independente.
A reação odienta e raivosa
de muitos petistas, mesmo vencedores, demonstra como estão inseguros, tensos.
Afinal, o Brasil ainda não é uma Venezuela. Temem ainda a punição legal por
tantos anos de falcatruas, por terem permitido que uma quadrilha se instalasse
dentro de nossas empresas e instituições. A oposição acordou. Está mais
organizada e tem líder. E não vai assistir passivamente à pilhagem do nosso
Estado.
A luta apenas começou. E a
vitória deles foi com gosto de derrota, pois sabem que vem chumbo grosso por
aí. Quem pariu Mateus que o embale...
Rodrigo
Constantino é economista
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