Por
Reinaldo Azevedo
Dia desses, quem deitava falação num grande veículo da imprensa
brasileira? Ele: Henrique Pizzolato. Para quê? Ora, para sustentar que o
mensalão não existiu. Condenado a 12 anos e sete meses por peculato, que é
roubo de dinheiro público, corrupção passiva e lavagem de dinheiro; foragido da
Justiça brasileira; processado por ter entrado na Itália com documentos falsos,
a palavra lhe foi franqueada para que desancasse a Justiça brasileira e as
oposições, para cantar as glórias de Lula e do petismo e para bater no peito e
jurar inocência. Logo, daremos a Marcola, o chefão do PCC, o direito ao "outro
lado". E vamos dar a outra face ao capeta. Tenham paciência!
Por que essa introdução? Porque não é só Pizzolato que jura que o
mensalão não existiu. Repetem essa mesma ladainha Lula, a cúpula do PT e alguns
colunistas que só não estão de joelhos porque é uma posição desconfortável para
lamber os sapatos do petismo. Pois bem: algo importante se deu na 13ª Vara da
Justiça Federal do Paraná nesta segunda. Alberto Youssef, o doleiro enroscado
na operação Lava Jato, não apenas confirmou a existência do mensalão - ninguém
precisava dele para isso; é claro que existiu! - como demonstrou os vasos
comunicantes entre aquele escândalo e o petrolão.
Atenção! Youssef já aparecia no escândalo do mensalão. Isso não é
o novo. O depoimento desta segunda, diga-se, prestado ao juiz Sérgio Moro e ao
procurador da República Roberson Pozzobon, é parte da ação penal em que o
doleiro é acusado de ter lavado a origem ilícita de R$ 1,16 milhão recebido
pelo então deputado José Janene (PP), já morto, no âmbito do mensalão.
O doleiro deixou claro que administrava com Janene uma espécie de
conta conjunta. O dinheiro era distribuído, segundo ele, a "agentes públicos e
políticos", por orientação do deputado. Para tanto, usava um outro doleiro,
Carlos Habib. Até aí muito bem. Prestem atenção agora ao ponto que interessa. O
juiz Moro perguntou a Youssef qual era a origem do dinheiro. E ele respondeu: "Comissionamento de empreiteiras". O juiz insistiu: "Decorrente de contratos
com a administração pública em geral, propinas?". E o homem confirmou: "Sim,
senhor, excelência".
Confirma-se, assim, aquilo de que sempre se suspeitou. Tudo o que
ficamos sabendo do mensalão foi, para usar um clichê que eu detesto, mas que se
faz inevitável, a ponta do iceberg; conhecemos, na verdade, apenas uma das
cabeças da hidra. Como se percebe pelo depoimento de Youssef, o desvio do Fundo
Visanet, do Banco do Brasil - da ordem R$ 76 milhões - não foi a única grana
pública movimentada pelo mensalão.
Os dois esquemas de ladroagem tinham vasos comunicantes. O mais
impressionante é que, enquanto uma das cabeças do monstro estava sob
escrutínio, as outras operavam a todo vapor. Esse depoimento de Youssef é mais
sério e importante do que parece. Sim, o mensalão existiu - e disso nós
sabíamos. Existiu e movimentou mais dinheiro público do que estávamos
informados. Espantoso é saber que a máfia não se intimidou nem com o processo
que estava em curso no STF, tal era a certeza da impunidade.
E que se note, para arrematar: até agora, a gente não sabe quem
era o "capo di tutti i capi", o chefe dos chefes. Porque não se enganem: uma
roubalheira dessa dimensão, com tantas frentes, que pode gerar desentendimentos
entre os quadrilheiros, tem sempre alguém que bate na mesa para desempatar o
jogo. Saberemos algum dia?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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