Por Reinaldo Azevedo
Vocês já perceberam que há forças empenhadas em
transformar protestos justos e pacíficos em manifestações golpistas. Como vimos
aqui, até Rodrigo Janot, procurador-geral da República, andou a falar sandices.
Não fez diferente João Otávio de Noronha, corregedor do TSE. Amplos setores da
imprensa, imantados pela mística petista, vão pelo mesmo caminho. Já fiz este
alerta aqui uma vez e o faço de novo: os democratas, os que defendem uma
sociedade aberta, formada por cidadãos livres, que não subordinam a sua consciência
a um partido ou a um ente de razão qualquer, precisam tomar muito cuidado com
os provocadores e com os tolos.
Tudo o que se anuncia no horizonte indica que não
experimentaremos dias tranquilos, até porque, basta olhar, Dilma Rousseff vive
em meio a forças que a empurram em sentidos contrários. Se a presidente precisa
desesperadamente da credibilidade dos agentes econômicos, ou o país vai à breca - e isso quer dizer que está obrigada a fazer um governo mais responsável do
ponto de vista fiscal e, portanto, menos generoso na gastança -, sofre a
pressão do PT, que pretende atraí-la para uma agenda de esquerda. O resultado
tende ao imobilismo. E não é só. Os esqueletos se agitam no armário de 12 anos
de mandarinato petista. Já está claro que essa gente, para citar Dilma, fez o
diabo não apenas para se eleger e reeleger, mas também para se manter no poder.
Dito isso, voltemos ao ponto principal. Impeachment
de Dilma, sim, mas só se ficar comprovado que ela sabia da roubalheira na
Petrobras. Atenção! Não se trata de matéria simples: não basta exigir que ela
saia. Para tanto, é preciso que haja o devido processo legal. ANTES DE MAIS
NADA, AS DENÚNCIAS TÊM DE ESTAR ANCORADAS EM PROVAS. Não faz sentido, por
exemplo, pedir a anulação das eleições sem que se evidencie, de maneira
inequívoca, que houve fraude na votação. Não tendo havido, o governo que se
reelegeu, a despeito dos métodos a que recorreu - e que merecem repúdio -, é
legítimo.
No embate com o petismo - na rua, na chuva, na
fazenda ou numa casinha de sapé -, é preciso ficar claro quem fala em nome do
estado de direito, das leis, da Constituição, da moralidade pública. A
mobilização é, sim, necessária: isso sempre faltou, e falta ainda, a amplas
parcelas da população, cuja agenda não se confunde com a dos militantes de
esquerda ou com a dos petistas. MAS É PRECISO TOMAR CUIDADO COM PROPÓSITOS
FINALISTAS COMO "QUEREMOS DILMA FORA DO PODER".
O que quer que se faça tem de ser feito, insisto,
dentro da lei e da ordem, segundo as regras do estado democrático e de direito.
Sim, eu sei que muitos dos que chamam a si mesmos de "companheiros" não nutrem
grande apreço por esse valor. Mas é preciso que seus adversários, então, se
diferenciem por isso.
O mais provável, vamos ser claros, é que Dilma
fique até o fim do mandato. Ora, até lá, muita coisa estará em disputa: os
petistas querem uma reforma política autoritária, pensada para que se eternizem
no poder; será preciso resistir. Os petistas, desta feita, querem mesmo
transformar o Supremo numa extensão do partido; será preciso resistir. Os
petistas querem fazer uma reforma tributária hostil a São Paulo, que
identificam como palco principal do antipetismo; será preciso resistir. Os
petistas insistem em censurar os meios de comunicação; será preciso resistir.
O que quero dizer com isso? Há uma agenda
importante a ser combatida e a ser defendida, que é bem mais ampla do que o "sai ou fica Dilma". É importante não cair na cilada de achar que basta bater
bumbo para ela cair fora. É necessário que as provas apareçam e que elas ganhem
importância política.
E finalizo lembrando, uma vez mais, que é preciso
tomar cuidado com os provocadores - que vão se imiscuir em protestos com
palavras de ordem extremistas para desvirtuá-los - e com alguns poucos tolos,
minoritários, que pedem intervenção militar quando, de fato, é hora de o espaço
público ser ocupado pela sociedade civil.
A luta para recuperar valores da democracia é
longa, contínua, cotidiana. Não se esgota em um dia nem prevê atos de força.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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