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terça-feira, 15 de julho de 2014

"Lembrando André Setaro"


Por Tuna Espinheira 
É preciso ter o corpo fechado para agüentar os riscos diários do perigoso ofício de crítico na área das linguagens artísticas, em todas elas. Comentar analisando, dissecando, apontando os prós e contras, sempre foi a maneira mais ligeira de contrair inimizades.
Nestas areias movediças, o indômito André Setaro escolheu o cinema como matéria de pesquisa principal dos seus variados estudos. Daí até o difícil texto analisando filmes foi um pulo. Na 'Tribuna da Bahia', na época, um novo jornal que se implantou na Bahia trazendo
inovações, uma espécie de revolução na imprensa local, conseguiu o posto de crítico da sétima arte, como cronista diário. Por décadas
cumpriu esta missão. Sem perder de vistas que ele foi aluno de Dr. Walter da Silveira, na universidade, além de habitué constante das matinês sagradas, todos os sábados, do Clube de Cinema da Bahia. Quando a província pôde conhecer o de melhor da cinematografia internacional, com introdução analítica do mestre Silveira antes das projeções.
Mas os desígnios do destino tiraram de cena, ainda novo, o desbravador dos caminhos para o cinema baiano, passando o bastão para Guido Araújo, coma sua luminosa Jornada de Cinema da Bahia, que virou nordestina, nacional e, por último, Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Por 40 anos, foi o oásis das produções do cinema cultural neste país inzoneiro. Cabendo ao André, através da crítica de qualidade e trabalhando com os alunos na universidade, enfatizando o assunto vital, a linguagem cinematográfica...
Eles cobriram o hiato deixado por Dr. Walter. E o cinema baiano pôde dar a volta por cima, sacudir a poeira...
Na década de oitenta, André aceitou um convite meu para o papel de um dono de funerária. Ele, digo, o personagem bebia conhaque
com gotas de formol. Setaro vestiu com perfeição o dono da funerária, média-metragem, com enredo de fatos extraídos do realismo mágico do próprio Anísio, o poeta citado.
Certa feita, André levou uma noiva para assistir à "Cidadão Kane", que ele já havia visto vezes sem conta, na saída notou que ela estava em sono profundo, largou-a lá... e era uma vez o noivado...
Paixão pelo cinema é isto aí! Ou não?!
Evoé, amigo André Setaro!
Tuna Espinheira é cineasta
Publicado em "A Tarde", edição de segunda-feira, 14

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