Por Mary Zaidan
Especialidades do
ex-presidente Lula, criticar as elites, estimular e manter em alta o
antagonismo entre ricos e pobres, sempre lhe valeram bons frutos. Como ninguém,
Lula consegue com o mesmo gogó desancar e afagar os endinheirados. E ainda
usufruir deles.
Mas essa habilidade de
iludir o público, xingando aqueles que o patrocinam – a ele e ao PT - é única.
Seria prudente, portanto, que Dilma Rousseff nem mesmo tentasse se arriscar
nessa seara, sob pena de despencar no ridículo, como na sexta-feira, em
Araguaína, no Tocantins.
Irritada com as vaias
durante inauguração de um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida, Dilma
acusou os manifestantes de terem nascido "em berço esplêndido". E extrapolou ao
se referir ao cartão Minha Vida Melhor, que financia compra de
eletrodomésticos, afirmando que só não valorizam o programa aqueles que "nunca
tiveram de ralar, de trabalhar de sol a sol para comprar uma televisão, uma
geladeira, uma cama, um colchão".
O que Dilma não sabia - e
ninguém contou a ela - é que o grosso dos apupos vinha de moradores do conjunto
ao lado, entregue há dois anos pelo mesmo Minha Casa Minha Vida, já com
rachaduras e sem equipamentos sociais.
Suas palavras agrediram
pobres mais pobres do que os pobres que ela, durante a inauguração, dizia
beneficiar.
Não satisfeita, também
reagiu atabalhoadamente aos que protestavam contra o Mais Médicos, ao afirmar
que antes do programa havia profissionais de saúde "somente para as camadas
mais ricas". Ou seja, até o segundo semestre do ano passado, o SUS de
Dilma só atendia "ricos". Um desrespeito absoluto aos milhões e milhões de
brasileiros que dependem da saúde pública.
Ao que tudo indica, Dilma
foi instruída a promover ao máximo a tática vitoriosa de Lula de rivalizar
ricos e pobres. Mas Dilma não é Lula. E, sendo Dilma, confundiu todas as bolas.
Tropeços à parte, causa
estranhamento a escolha dos marqueteiros pela desgastada aposta na luta de
classes. Especialmente para uma candidata que lidera as pesquisas com larga
margem de vantagem e um governo que se orgulha de ter promovido mais de 30
milhões de pessoas à condição de classe média. Ainda que a nova média -
rendimento de R$ 301 a R$ 1.090,00 - esteja muito aquém de garantir o mínimo.
Sem saber onde colocar esse
batalhão de gente, Dilma continuará animando a disputa entre pobres e menos
pobres.
Como estratégia eleitoral,
difícil crer que esse tipo de discurso tenha alguma serventia com a
protagonista Dilma. Mas suas consequências vão além do fazer o diabo para
vencer a eleição. Promovem e alimentam o ódio; criam divisões devastadoras,
muitas vezes intransponíveis. Isso é tudo de que o Brasil não precisa.
Fonte: "Blog do Noblat"
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