A Carta ao Leitor da edição
que traz a reportagem de capa que ilustra esta página revelava que os novos
milionários brasileiros tinham como ídolo o empresário Eike Batista, em quem
viam com enorme admiração o fato de ele "não ter vergonha de ser rico".
VEJA refletiu essa percepção
e colocou Eike na capa (Foto), em janeiro de 2012, como uma versão brasileira de Deng
Xiaoping, o líder cuja pregação "Enriquecer é glorioso" foi o sinal de largada
para a transformação da China em potência econômica.
O legado do líder
chinês, morto em l977, ficará para sempre.
Embora não deva crescer
neste ano no mesmo ritmo alucinante com que vinha impulsionando quase sozinha a
economia mundial, a China se consolidou como potência.
Já nosso Eike Xiaoping, que
sonhava acordado em ser o homem mais rico do mundo, não correspondeu às
expectativas.
Uma reportagem desta edição
da VEJA narra a ascensão e queda do empresário que, até há pouco tempo, era
símbolo de empreendedorismo e baluarte de um Brasil que enriquecia rapidamente.
Eike Batista se transformou
no seu oposto. Com o valor de suas empresas na bolsa derretendo como picolé no
asfalto.
Eike tornou-se o paradigma do
espertalhão que ficou rico vendendo gato por lebre. Para piorar as coisas, a
derrocada de Eike acompanha a própria degradação da economia brasileira.
Uma analise mais detida
mostra as razões desse triste paralelismo. Eike decolou em grande parte pela
força das mãos do governo.
Obteve créditos bilionários
do BNDES. Foi recebido quando quis pelo então presidente Lula e por sua
sucessora, Dilma Rousseff.
Era um eleito do poder, um
dos poucos empresários escolhidos para serem vencedores no jogo do capitalismo
estatal brasileiro.
A reportagem de VEJA que
explica as causas do desmoronamento do império de Eike Batista revela a série
de erros cometidos pelo empresário e por seu parceiro nessa aventura, o governo
brasileiro.
São enganos típicos dos
momentos ingratos em que os governantes ignoram as leis de mercado e imaginam
que podem impunemente controlar a economia, arbitrando taxas de juros,
subsidiando combustíveis, escolhendo vencedoras entre as empresas.
Ambos, Eike e o governo,
estão agora pagando pelos erros.
O empresário perdeu a
confiança do mercado. O governo, a popularidade.
Tanto sofrimento poderia ter
sido evitado se houvesse prevalecido em Brasília esta antiga e límpida lição:
"Os governos são
péssimos em escolher vencedores, mas os perdedores são ótimos em escolher
governos".
Fonte: Revista "Veja", edição que está nas bancas
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